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sábado, 26 de maio de 2018

Não votar em quem aprova (na AR) a eutanásia?


Porquê a pressa em querer legislar – despenalizando/legalizando – a eutanásia? Se não constava no programa dos partidos, qual a causa desta mudança? A quem interessa trazer o assunto – fraturante quanto baste, antes, durante e depois da discussão/votação – para o areópago dos temas políticos? Não será este ‘assunto de consciência’ – como alguns lhe chamam – um tema de civilização e não de mera conjuntura?

Eis algumas das questões escutadas e discutidas sobre a eutanásia, agora designada de ‘morte medicamente assistida’. Nesta, como em ocasiões em que esteve em debate e em causa o tema da vida, os defensores do ‘sim’ – ao aborto, à eutanásia e a temas relacionados com sexo não-reprodutivo – surgem como culturalmente mais avançados e mais humanistas do que os que se reclamam do ‘não’ mudar a legislação ou da concretização da pretensa despenalização/legalização. Será que temos de engolir todos os argumentos e afrontas daqueles que se julgam senhores da verdade, que não seja a sua? 

= É verdade que desta vez o assunto só tem andado no quadro do parlamento. O referendo talvez não mudasse nada nos resultados. Mas diga-se em leitura menos apaixonada do assunto: a maioria que possa aprovar a mudança, poderá, mais tarde ou mais cedo, mudar e fazer reverter o assunto, coisa que a vinculação do referendo – os que tivemos até agora não foram não-vinculativos, dado que não atingiram a percentagem de votantes exigida – traria com mais incidência, mesmo que pudesse haver uma vitória pírrica.

Nos últimos tempos surgiu, vindas de vários quadrantes, uma posição nova: quem aprovar a eutanásia não merece o voto em futuras eleições…até porque foi subvertido o quadro ideológico e mesmo o do programa sufragado em eleições anteriores.

Em grande parte concordo com esta posição: pela minha parte, que sempre votei no mesmo partido e confiava na boa-fé dos seus dirigentes – mesmo quando a qualidade não era tão merecedora do benefício da dúvida – que agora querem fazer crer que são muito humanistas, só porque não lhes repugna matar a pedido ou em aliviar a dor mais ou menos circunstancial…No mínimo isto não é sério nem merece que se confie neles depois, quem agora nos engana, sobrepondo aos outros o seu esquema para sobreviver nas lutas de triângulos e aventais. 

= Os meus valores dizem: a vida una e inviolável, é dom de Deus, que tenho de velar para se desenvolva entre a conceção e a morte natural. Tudo o resto – o intervalo entre aqueles dois momentos – deve ser para que vivamos com a melhor das dignidades e não aos solavancos e segundo os interesses de cada etapa. Com efeito, o tema da dignidade é hoje um conceito que tem tanto de interessante, quanto de casuístico, pois o que para uma pessoa – grupo, setor, associação ou mesmo igreja – é ou não digno pode ser considerado por outros como sem dignidade e vice-versa. Por isso, trazer para a discussão da eutanásia a dignidade de vida duma determinada pessoa, poderá ser visto como muito diferente por outra. Bastaria incluir aqui a discussão a componente do ‘sofrimento’ para podermos estar a falar de coisas diametralmente opostas, dependendo da perspetiva que se pode dar ao assunto, desde a mais simples até à mais espiritualizada. Será que alguém cresceu na sua personalização sem sofrimento, dificuldade ou dor? E isso foi razão para desistir de viver, como se propõe na dita ‘morte medicamente assistida’?

Nesta como noutras circunstâncias de discussão sobre temas atinentes à dinâmica da vida, falta serenidade e seriedade em muitos/as dos intervenientes e nem a comparação com outros países onde o assunto foi introduzido na vida social e cultural tem servido para que haja ponderação e amadurecimento sem ataques a quem pensa e age de modo diferente daquele que se julga maioritário… 

= O futuro dirá se esta iniciativa em querer impor a eutanásia não se voltará contra os mentores, defensores e legisladores. Não esqueço a nota já referida noutra ocasião em que uma das maiores paladinas da eutanásia, quando caiu doente, o que pedia era que não a deixassem só e tanto quanto consta não recorreu à estratégia da ‘morte doce’…tendo inclusive tido ritos religiosos, que não apreciava tanto assim em público. Dá a impressão que há gente que diz uma coisa, mas na sua hora da verdade tem outro comportamento…    

 

António Sílvio Couto

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