Tem
vindo a tornar-se uma espécie de chavão, entre o vazio e o quase nada, a frase:
este é um orçamento ‘amigo das famílias’. Ora, um comentador replicava: será
das famílias ou dos eleitores?
Num
contexto social, cultural e político que tanto tem combatido a noção de família
– alicerçada no conceito judaico-cristão da união entre um homem e uma mulher…o
mais possível de forma comprometida e estável – será essencial responder a que
famílias é que o orçamento da geringonça quer satisfazer?
Sim, é
de satisfazer que se trata, pois ‘satisfazer’ significa, antes de tudo, ‘fazer
o suficiente’… e esse ‘suficiente’ tem tanto de subjetivo, quanto de irmos
apurando o que se quer fazer de bastante e suficiente… para com quem se quer
contentar ou agradar…seja ele grupo, lóbi ou simpatizante.
Diante
ainda da complexa virtualidade que a igualdade de género tem vindo a propor
será como que obrigatório definir qual o tipo de família que se pretende
atingir e se, ao ser usado o termo ‘família’, não estaremos a confundir os
narizes com outros apetrechos…num relativismo de termos, de intenções e de
provocações.
= Se há
componente que o dito Orçamento de Estado (OE) pode relevar é a de ser
elaborado a dar contento a quem se destina, neste caso em particular aos
eleitores – quem governa tenta apelidá-los de ‘famílias’ – a quem pretende
satisfazer, incluindo exigências e reclamações, anseios e pretensões daqueles
que votaram em quem agora governa…mesmo que isso implique desgovernar, isto é,
não fazer o que é preciso, mas distribuir por agora benesses e prebendas a
gosto, sem atender à possível hipoteca do futuro a curto e a médio prazo.
As tais
‘famílias’ de quem o OE é amigo são as designadas pelo incremento do consumo,
lançando as bases para um endividamento crescente e que trará consequências
nefastas brevemente.
=
Coincidência ou não, a elaboração deste tal OE ‘amigo das famílias’ é conhecido
quando um outro governante – com tudo quanto ele e a sua ‘entourage’
representam na nossa história sofrida – da mesma área ideológica é acusado de
uma trintena de crimes… particularmente os de tráfico de influências e
corrupção!
O
processo é moroso e complexo… mas, pessoalmente, deixou-me arrepiado uma nota
dessa acusação: uma empresa ganhou cerca de duzentos milhões de euros sem ter
gasto um cêntimo… na questão comboio de alta velocidade.
E, se
dentro de breves anos, viermos a descobrir que o foguetório deste OE ‘amigo das
famílias’ não passa duma ilusão travestida de sucesso e num descalabro sem
retorno? Quem pagará a fatura, a sério?
= Quem
tanto combate o conceito de família e a sua estabilidade, como pode vir
arrogar-se defensor daquilo em que não acredita? Quem despreza o que as
famílias fazem de bem pela vida e pela natalidade, como pode, agora,
apresentar-se como sua defesa, quando já programou o seu enterro?
Naquele
saco de gatos – ou será, antes, de ratos, na hora da verdade – que é a
governação em ato, como há ainda quem se pretenda defensor da família, quando
lançou as bases para a sua estatização/estalinização? Quando tudo fizeram para nacionalizar
os filhos, querem agora aliciar ainda mais os pais? Enquanto vão tolerando os
velhos, como pretendem manipular os mais novos?
= Dá a
impressão que é próprio de quem não conhece o povo português: quando lhe
pretendem vender ilusões e depois todos colhemos tempestades. Pode-se enganar –
mesmo usando a máscara da mentira – durante algum tempo, mas isso não durará
todo o tempo. Assim foi no passado, assim será no futuro. Dinheiro barato
sempre nos saiu muito caro, senão de forma direta, ao menos nos vindouros.
Quando
não se incentiva a poupar, mas a gastar sem olhar às posses, bem depressa se
cairá no fosso, donde só se sairá com muito sacrifício, rigor e boa economia…
Se não
sabem governar a própria casa – muitos vivem de aluguer em aluguer até irem
para a rua, quando despejados da governança – como saberão governar o país? A
sanha contra o bom senso é atroz… em muitos daqueles/as que barafustam no
parlamento e nas ruas. Basta o ‘chapa-ganha’ e o ‘chapa-gasta’!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário