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sábado, 14 de outubro de 2017

Orçamento ‘amigo’ de que famílias?


Tem vindo a tornar-se uma espécie de chavão, entre o vazio e o quase nada, a frase: este é um orçamento ‘amigo das famílias’. Ora, um comentador replicava: será das famílias ou dos eleitores?

Num contexto social, cultural e político que tanto tem combatido a noção de família – alicerçada no conceito judaico-cristão da união entre um homem e uma mulher…o mais possível de forma comprometida e estável – será essencial responder a que famílias é que o orçamento da geringonça quer satisfazer?

Sim, é de satisfazer que se trata, pois ‘satisfazer’ significa, antes de tudo, ‘fazer o suficiente’… e esse ‘suficiente’ tem tanto de subjetivo, quanto de irmos apurando o que se quer fazer de bastante e suficiente… para com quem se quer contentar ou agradar…seja ele grupo, lóbi ou simpatizante.

Diante ainda da complexa virtualidade que a igualdade de género tem vindo a propor será como que obrigatório definir qual o tipo de família que se pretende atingir e se, ao ser usado o termo ‘família’, não estaremos a confundir os narizes com outros apetrechos…num relativismo de termos, de intenções e de provocações. 

= Se há componente que o dito Orçamento de Estado (OE) pode relevar é a de ser elaborado a dar contento a quem se destina, neste caso em particular aos eleitores – quem governa tenta apelidá-los de ‘famílias’ – a quem pretende satisfazer, incluindo exigências e reclamações, anseios e pretensões daqueles que votaram em quem agora governa…mesmo que isso implique desgovernar, isto é, não fazer o que é preciso, mas distribuir por agora benesses e prebendas a gosto, sem atender à possível hipoteca do futuro a curto e a médio prazo.

As tais ‘famílias’ de quem o OE é amigo são as designadas pelo incremento do consumo, lançando as bases para um endividamento crescente e que trará consequências nefastas brevemente. 

= Coincidência ou não, a elaboração deste tal OE ‘amigo das famílias’ é conhecido quando um outro governante – com tudo quanto ele e a sua ‘entourage’ representam na nossa história sofrida – da mesma área ideológica é acusado de uma trintena de crimes… particularmente os de tráfico de influências e corrupção!

O processo é moroso e complexo… mas, pessoalmente, deixou-me arrepiado uma nota dessa acusação: uma empresa ganhou cerca de duzentos milhões de euros sem ter gasto um cêntimo… na questão comboio de alta velocidade.

E, se dentro de breves anos, viermos a descobrir que o foguetório deste OE ‘amigo das famílias’ não passa duma ilusão travestida de sucesso e num descalabro sem retorno? Quem pagará a fatura, a sério?  

= Quem tanto combate o conceito de família e a sua estabilidade, como pode vir arrogar-se defensor daquilo em que não acredita? Quem despreza o que as famílias fazem de bem pela vida e pela natalidade, como pode, agora, apresentar-se como sua defesa, quando já programou o seu enterro?

Naquele saco de gatos – ou será, antes, de ratos, na hora da verdade – que é a governação em ato, como há ainda quem se pretenda defensor da família, quando lançou as bases para a sua estatização/estalinização? Quando tudo fizeram para nacionalizar os filhos, querem agora aliciar ainda mais os pais? Enquanto vão tolerando os velhos, como pretendem manipular os mais novos?  

= Dá a impressão que é próprio de quem não conhece o povo português: quando lhe pretendem vender ilusões e depois todos colhemos tempestades. Pode-se enganar – mesmo usando a máscara da mentira – durante algum tempo, mas isso não durará todo o tempo. Assim foi no passado, assim será no futuro. Dinheiro barato sempre nos saiu muito caro, senão de forma direta, ao menos nos vindouros.

Quando não se incentiva a poupar, mas a gastar sem olhar às posses, bem depressa se cairá no fosso, donde só se sairá com muito sacrifício, rigor e boa economia…

Se não sabem governar a própria casa – muitos vivem de aluguer em aluguer até irem para a rua, quando despejados da governança – como saberão governar o país? A sanha contra o bom senso é atroz… em muitos daqueles/as que barafustam no parlamento e nas ruas. Basta o ‘chapa-ganha’ e o ‘chapa-gasta’!

 

António Sílvio Couto


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