Nos
tempos pós-eleitorais surgem – sobretudo nas hostes vencidas – uns tantos
salvadores das derrotas indesejadas: há os que surgem por conveniência dos
dados; outros aparecem nessa atitude de abutre à portuguesa de regozijar-se com
as derrotas alheias; alguns são atirados para fazerem (se soubessem!) melhor;
mais uns tantos emergem das longas penumbras obscuras de pretensões
não-aceites; numa razoável lista de candidatos poderemos ver muita parra e
pouca uva…agora que estamos no lavar-dos-cestos das vindimas, isto é, de colher
os frutos sem termos tratados das etapas necessárias anteriores…
Bem sei
que o termo ‘indefecável’ não é reconhecido pelo dicionário. Mas, se fizermos a
decomposição da palavra encontramos como termo central – ‘defecar’ – que
qualquer mortal conhecerá duma certa terminologia um tanto erudita referente a uma
necessidade fisiológica mínima e essencial…ao equilíbrio somático-psicológico.
O prefixo ‘in’ como que nos leva a considerar uma espécie de movimento e de inclusão
de quem participa na ação apresentada… Por seu turno, o sufixo ‘ável’ leva-nos
a considerar algo/alguém que participa na ação suscitada e com a possibilidade
de praticar ou de sofrer a dita ação… (perdoando a redundância) ativamente.
Numa
palavra: ‘indefecável’ será alguém que faz parte da ação de expelir os resíduos
do organismo, fazendo-o de forma regular e em consonância com os atributos do
sistema onde se encontra inserido… talvez ele mesmo num enquadramento de
matéria inorgânica dispensável.
= Pela
leitura que fazemos dos acontecimentos mais recentes da nossa vida social e
política, fomos vendo muitos exemplares de indefecáveis, gerados, geridos e
geradores do sistema partidário em cujo quadro nos inserimos, vemos e vivemos.
Uns já saíram de circulação; outros esbracejam para flutuarem antes do
afundamento previsível; uns quantos tentam posicionarem-se para sobreviver um
pouco mais; diversos aspiram a entrar no sistema, que, mesmo podendo ser pouco
recomendável, ainda será salvo-conduto para mais uns tempos de emprego às
custas do dinheiro estatal…
= Quem
tenha um mínimo de memória saberá que dos derrotados não reza a história,
exceto se estes se souberem reinterpretar nas horas menos afortunadas. Será, no
entanto, nos momentos de vitória que se conhece o estofo de quem ganha, pois os
eflúvios vitoriosos podem ofuscar a racionalidade, levando a cometer erros que
mais tarde serão pagos com juros bastante altos.
Nalgumas
situações vemos que as pessoas se tornam irrazoáveis sobre o modo como conseguiram
conquistar os seus feitos…vencedores. Há casos onde o amesquinhamento alheio é,
desde logo, uma espécie de certidão de óbito para novas batalhas. Se há coisa
que a história nos ensina é, como diz o povo, ‘não há mal que sempre dure, nem
bem que nunca acabe’! Pena é que que os atores se esqueçam do enredo do
passado…
Disto e
de muito mais – sobretudo no apadrinhamento de ‘falsas notícias’ – temos visto
a serem entretecidos muitos dos episódios criados, explorados e noticiados por
uma certa comunicação social, onde uns quantos ‘jornalistas/comentadores’ se
vão tornando os maiores paladinos dos indefecáveis em vigor ou a serem
promovidos a curto e a médio prazo. Alguns são os mesmos de serviço há décadas.
Outros como que se tornam ventríloquos dum espetáculo de circo em maré de
digressão. Outros ainda teremos de duvidar sobre quem lhes paga para fazerem o
papel ora de entrevistador/a, ora de comentador/a… dependendo da hora e do
programa…senão mesmo do local. Haja vergonha!
= Quando
tantos se vangloriam dos seus feitos e efeitos, torna-se urgente e essencial
não nos esquecermos que tanto estamos (ou podemos estar) na vanguarda, como bem
depressa poderemos encontrar-nos na retaguarda… Somos, enquanto humanos, muito
mais vulneráveis do que julgamos. Assim o desempenho dos outros – sucessos e
derrotas – nos possam servir de aprendizagem em cada circunstância da nossa
ténue vida. Que não nos deixemos ludibriar com os elogios nem atemorizar com as
críticas… tudo faz parte da vida. Assim o entendemos correta, inteligente e
humildemente.
António Sílvio Couto
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