Segundo
dados recentemente revelados, entre janeiro e setembro deste ano, os
portugueses gastaram, em compras, via multibanco, nos estabelecimentos comerciais
cerca de 97 milhões de euros por dia… Ora, se atendermos à possibilidade de
sermos mais ou menos dez milhões de habitantes como se que se poderá dar uma
média de cem euros de gastos diários… tendo em conta crianças, velhos,
desempregados e quantos não ganham aquela quantia para disporem, em conjunto,
de três mil euros por mês… Uma enormidade de aquisições em restaurantes,
supermercados e lojas, na capacidade de ‘poder-de-compra’!
Tendo em
conta ainda os dados publicitados, o mês de julho foi o mais gastador com 3,35
mil milhões de euros através de multibanco e o de menores gastos foi o de
fevereiro com 2,47 mil milhões… Desde 2013, o aumento do volume de compras
através do ‘dinheiro em cartão’ aumentou em trinta e cinco por cento…
= Será
suportável este ‘nível de vida’? Com tantos gastos como poderemos dizer que não
estamos a crescer? Mas será este crescimento suportável com a produção real e
não a ficcionada?
Tendo
sido despejado – tanto, algum, muito – dinheiro sobre o povo, este saberá
geri-lo sem excessos? Esta opção pelo consumo não nos trará razoáveis dissabores
a curto prazo?
Atendendo
a momentos anteriores da nossa cultura despesista, não estaremos a ser
ludibriados com estes (pretensos) sucessos sem olhar a meios? Na medida em que
vivemos numa bolha circunstancial de gastos, quem irá pagar a fatura de tanta
ousadia? Será ainda possível fazer crer que não é pelo muito querer que se faz
um país avançar de forma sustentável?
= Porque
não acredito em tudo isto que estamos – dizem os governantes – a viver, julgo
ser razoável sugerir para mudarmos de carril, antes que as composições saiam
dos trilhos. Não será pelo consumo que cresceremos, mas pela poupança e esta
tornou-se algo abjurável para uma grande maioria dos portugueses. Já foi assim
na era da abundância pré-socrática e, depois, tivemos que pagar com juros e austeridade
nos anos subsequentes àquela governação. Não é, por isso, expetável que não
venhamos – talvez dentro de quatro a cinco anos – a reviver momentos de aperto
do cinto… mas aí os que agora semeiam pétalas de sucesso terão fugido ou terão
sido derrotados como o foram os anteriores!
Não é
preciso saber muito de economia e tão pouco dominar as artimanhas do orçamento
para percebermos que, idênticas causas, dão resultados semelhantes… O problema
é serem sempre os mesmos os causadores e os vendedores de ilusões, quais magos
em feira de enganos…baratos
=
Goste-se ou não: nós, portugueses, não sabemos gerir os meios económicos que
nos são dados e, pior ainda, quem governa não está interessado em dizer a verdade
ao povo, pois isso fá-los-ia cair em desgraça à primeira curva em que tentassem
enganar os (mais) incautos.
Não é
possível viver gastando cem euros, em compras, por dia. Não é razoável que se
pretenda fazer acreditar que todos estão a dormir e que, quem não se deixa
levar na onda, é pessimista e não permite que o povo seja feliz. De que adianta
dizer que se vive feliz, se isso é engano, falácia e pura invenção…real?
Muitos
dos que exigem (agora) aumentos de salários – sobretudo na fasquia do mínimo –
não sabem nem querem saber as dificuldades que muitas instituições enfrentam
para equilibrar as suas contas. Alguns – sobretudo na área dos sindicatos – são
os mesmos que, com as suas reivindicações, levaram à falência imensas empresas
e que agora se arvoram em defensores dos trabalhadores, quando foram eles quem
mais os prejudicaram. Ainda há quem tenha memória!
= Não
basta despejar dinheiro sobre as massas trabalhadoras, se não lhes forem dados
critérios para sobreviver para além desta vaga de sucesso…virtual. O futuro
dirá quem tem razão, pois as leis da história não enganam, antes nos ajudam a
prever consequências, debelando as causas!
Saiam
dos gabinetes com ar acondicionado (não é erro ortográfico) e venham ver o povo
real e sofredor… esse, sim, sabe o que custa a mentira, ontem como hoje e
amanhã.
António Sílvio Couto
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