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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Incêndios de outono precisam de interpretação


J
á vamos com quase um mês de outono e vemos, novamente, notícias – nalguns casos preocupantes e dramáticas – de incêndios, sobretudo, na região norte e centro do país: milhares de operacionais em combate, meios aéreos e terrestres às centenas, hectares e hectares ardidos, queixas e queixumes… até um autarca foi agredido em direto na televisão… tudo devido às temperaturas elevadamente anormais para a época, à mistura com negligências – ouviram-se acusações de criminoso fogo posto – e de falta de meios…porque já fora duma pretensa declarada etapa não-abrangida pela prevenção e o combate a esta ‘guerra civil’ disseminada por todo o país, desde que haja onde arder e algo para arder… 

= Com o ‘circo’ montado outra vez, os incêndios estão à disposição dos abutres noticiosos, criando a sensação de que estamos a saque, onde o país rural – que é real e que não se limita a ser olhado de forma complacente por quem vive na cidade – fica cada vez mais exposto ao abandono, tanto das populações como de quem dirige o resto do país.

Se tentarmos interpretar o significado dos resultados das recentes eleições autárquicas poderemos questionar por que é que a ‘onda rosa’ invadiu esse país rural, particularmente no interior – segundo dizem – despovoado e envelhecido. Os que ainda restam deixaram-se seduzir pelas promessas de vida melhorada, que nos têm vindo a vender nos últimos dois anos? No caso das autarquias onde quase tudo ardeu no verão, os dinheiros das campanhas de solidariedade – ainda não se apurou a totalidade! – não foram usados como arma para cativar votos e ganhar câmaras e juntas? Apesar de talvez não termos tantos dados como seria desejável – numa transparência que urge semear e cultivar – não deixa de ser mais do que coincidência a mudança e a colagem aos vencedores… 

= Com esta nova vaga de incêndios como que se avivam as tragédias que perpassaram o país no verão passado. Dá a impressão de que as pessoas estão confinadas à sua sorte: as perdas humanas e materiais, os prejuízos e as confusões, as desculpas e os erros, as falhas e as acusações… continuam como que a ser regra nesta área do nosso ‘eu coletivo’, onde se nota que somos um país a várias velocidades, onde os ‘citadinos’ olham com algum desdém os ‘rurais’  e estes se sentem preteridos por quem governa, pois não passam de material combustível seja qual for a época ou a localização.

Depois de tantos cenários de cobertura noticiosa, onde está o apuramento – cível, criminal, político e moral – das responsabilidades? Por onde param os inquéritos prometidos? Até quando teremos de aguentar tanta incompetência? Talvez não se possa apurar a verdade, se alguns dos possíveis culpados foram premiados com vitórias eleitorais! Talvez seja este o país que uns tantos querem que seja construído, com a conivência de certas forças (ditas) populares, mas que não passam de populistas, não-assumidos! 

= Embora já tenha abordado esta questão no pico dos incêndios estivais, não será totalmente desconexo voltar a uma das causas desta nova vaga de incêndios: a falta de água, isto é, de chuva, que tem vindo a agravar, de forma mais agressiva e impiedosa, as condições para estes incêndios de outono.

Precisamos de implementar uma mentalidade de súplica para que haja chuva, não só para atenuar este ambiente de seca, propício para os incêndios, como para termos os recursos hídricos suficientes para a vida normal das populações. Aos responsáveis das Igrejas se pode e deve solicitar que criem condições para que os outros fiéis supliquem a Deus que nos dê a tão desejada chuva. A quem conduz os espaços de celebração da fé se deve um imperativo moral de tentar interpretar a falta de chuva como uma provação de Deus… era deste modo que os israelitas viam a chuva (dada ou ausente)… e nós, cristãos, seguimos esta salutar tradição religiosa e de vida.

De facto, não bastará só a visão cientifista para explicar as mudanças de clima e as interferências humanas na natureza, mas quem seja crente precisa de ‘meter de Deus’ nestes aspetos aparentemente simples, embora não simplistas…Os incêndios de outono são mais do que somas de parcelas onde os humanos têm alguma culpa. Estes atuais incêndios podem e devem ser um chamamento à nossa conversão e correção de vida…  

 

António Sílvio Couto



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