Desde o
ano de 2016 que é recorrente ouvirmos falar de ‘geringonça’ – foi a ‘palavra do
ano’ mais votada – resumindo uma solução política à portuguesa, que vem
reinando… por entre sucessos bem propagandeados e vicissitudes nem sempre
assumidas, desde que se vá fazendo a vontade aos que condicionam o apoio de
governação. As forças constituintes da geringonça situam-se no espetro
ideológico – intra e extra parlamentar – por entre o marxismo, o trotskismo e o
socialismo quanto baste… desde que possa haver poder.
Qual o
significado de zingarelho, que apensamos no título? Zingarelho é um objeto,
geralmente complexo, desconhecido, bizarro ou que funciona mal… devido a ser
desconhecido o seu modo de funcionamento.
Que
será, então, na política, zingarelho?
Poderá
surgir como uma outra solução – sobretudo com incidência após as recentes
eleições autárquicas – onde as forças em coligação são tão díspares – por forma
a conseguir as maiorias de entendimento – na origem, na composição e na
esquisita ligação, que quase não se entende o resultado final…a não ser pela
inexaurível ânsia do poder.
= Agora
que a maior parte dos executivos camarários e das juntas de freguesias tentam
entrar em funções poderemos assistir a múltiplos zingarelhos espalhados por aí…atendendo
aos intentos, às vontades ou mesmo às necessidades. Poderá ainda acontecer que
as fações partidárias deem lugar a soluções de conveniência ou tendo em conta as
pretensões mais esconsas…de governabilidade.
Parece
que já foi ultrapassado o tempo em que, quem ganhava – com ou sem maioria –
tentava executar o seu programa, assumindo as consequências de poder ser vetado
pelo resto dos eleitos para os cargos. Agora, dado o exemplo bizarro saído das
conveniências ao nível do governo central, poderemos assistir a múltiplas
geringonças ou ter de aturar pactos de zingarelho mal entretecidos…
Perante
tantas aspirações a estar ou a prolongar-se no poder como que sentimos
necessidade de questionar as soluções encontradas, pois, em muitos casos, não
foi para isso que se pronunciaram os eleitores. Se votaram para retirar a
maioria aos que estavam no poder, é correto agora fazerem-se coligações para
viabilizar a governação? Se tal se verificar, quem isso fizer não merece a
confiança depositada, pois não foi para se aproveitar das circunstâncias de
aceder às franjas do poder…
= Em
muitas situações da vida é preciso saber ganhar e aprender a perder, pois
naquele se pode ser humilde e neste se deve erguer com dignidade. Ora, nem
sempre é isso que temos visto. Alguns quando ganham tornam-se tão exuberantes
que se esquecem das derrotas por onde já passaram para conseguirem os feitos
atuais. Outros quando perdem como que descartam as razões pelas quais foram
vencidos, em muitos dos casos por impreparação e até por incapacidade de
aglutinar outros para o mesmo projeto.
Se há
momentos em que possamos a conhecer melhor as pessoas é quando ganham, noutras
circunstâncias é quando perdem. Quando se ganha será da mais elementar justiça
não esquecer quem ajudou a conseguir tais façanhas, nunca apropriando a si a
vitória, mas repartindo-a com outros tanto ou mais merecedores dela. Quando
acontece a derrota será da mais elementar correção assumir os erros e fazer
deles capacidade de novos momentos de vitória… ao menos moral, num futuro não
muito longínquo.
= O que
temos podido observar – sejam quais forem as eleições em disputa ou os espaços
de contenda – é com muita facilidade que se passa ao momento seguinte, isto é,
ao de vangloriar-se ou ao de carpir as mágoas, sem ser feita a análise sensata
e reflexiva dessas vivências, com as implicações que isso tem no amadurecimento
de cada um de nós, tanto no campo dos vencedores, como na área dos vencidos.
O pior
de tudo é quando as pessoas nunca são avaliadas, pois desertam do serviço aos
outros e com isso pensam nada ter a aprender. Dos ‘treinadores de bancada’ não
reza a história, a não ser um possível asterisco minúsculo no rodapé da
insignificância tolerada.
Precisamos
de colocar os nossos dons/talentos a render ou seremos apelidados de inúteis e
maus servidores, seja qual for o campo de intervenção na vida…em geringonça ou
pelo zingarelho!
António Sílvio Couto
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