79% do
território de Portugal continental estava, em final do mês de julho, em seca
severa e extrema, segundo dados do instituto português do mar e da atmosfera.
Explicitando: àquela data, 69,6% encontrava-se em seca severa e 9,2% em seca
extrema… Relativamente a dados de junho passado notava-se um desagravamento na
região interior norte e um agravamento no interior do alentejo.
Atendendo
a estes dados, o governo decidiu acionar um plano de prevenção, de
monotorização e de acompanhamento dos efeitos da seca. Pelas informações
obtidas 16 das 60 albufeiras do continente estão com a sua capacidade a menos
de 40%. De entre as medidas a implementar situa-se a hierarquização do uso da
água: para consumo humano, para dar de beber aos animais, seguindo-se as regas
agrícolas, as lavagens urbanas, fontenários e viaturas… De salientar ainda a
contensão no uso da água nalguns concelhos do alentejo e da beira interior com
o recurso às restrições ou à distribuição da água através de autotanques…
O
inverno foi de pouca chuva e a primavera foi muito quente e com pouca chuva,
tendo atingido dois terços do valor médio para esses meses do ano… Desde 1931
que não tínhamos uma primavera tão quente, sobretudo nas regiões norte e centro
do continente.
= Diante
destes dados há questões que têm de ser colocadas, mesmo segundo a nossa
capacidade cívica e o sentido do bem comum.
* Desde
logo é do mais elementar sentido dos outros considerar que ter sol para ir para
a praia é considerado ‘bom tempo’, como se a água que há de atenuar a sede seja
um recurso inesgotável e se possa negligenciar o seu uso racional e atendendo a
todos e não só aos interesses individuais…
* Corremos
o perigoso risco de olhar para a tragédia dos fogos (florestais ou outros) como
se fossem coisa que atinge os rurais e outros que não têm a sorte de irem de férias…
Isso será lá longe e que não me fazem considerar que todos haveremos de sofrer
com tais anomalias.
* Que me
importa afligir-me com os problemas dos outros, se eu for gozando a minha
vidinha, à margem daquilo que me não interessa… Também isto continua a revelar
o grau de egoísmo com que nos vamos entretendo. Com efeito, as sirenes dos
bombeiros já não nos fazem distrair da consulta, pelos meios de informações
digitais, ao longe dos acontecimentos gerais, mas que me passam desapercebidos
à minha porta ou até dentro da minha casa…
= A água
sempre foi um fator de desavenças. Vejam-se as guerras pela conquista de
espaços onde havia água. Reparemos nos conflitos de vizinhos pela posse de água
para o cultivo dos campos. Quantas vezes as civilizações vingaram em espaços
com água, normalmente junto de rios ou à beira-mar.
Se há
cem anos nos dissessem que a água corria risco de ser doseada ou mesmo de não
ser inesgotável, consideraríamos que estavam a tentar enganar-nos, senão mesmo
a tentar manipular-nos com dados não-corretos. Mas hoje sabemos e concordamos
que a água é um bem precioso e que exige um bom uso e correto aproveitamento,
tanto ao nível público (social) como privado (doméstico).
= Talvez
alguém possa considerar o aspeto que vamos referir de seguida como um tanto
desprezível, anacrónico ou até demasiado fideísta para ser tido em conta… neste
tempo em que achamos que somos uma tal sociedade racional/racionalista. Falamos
das súplicas pela chuva, que, em tempos não muito distantes, eram usadas por
ocasião dum prolongado tempo de seca.
O missal
romano tem uma proposta de missa para ‘pedir a chuva’, inserida na seção
‘diversas circunstâncias da vida social’… Ora, quando tantos se acham capazes
de se apropriarem das forças da natureza, o crente católico coloca-se na
humildade em reconhecer que até a chuva – dom de bênção divina – está ao
serviço dos humanos como algo benéfico concedido por Deus na sua magnanimidade
para com todos, incluindo a natureza. Talvez valha a pena recordar o episódio
de ter sido lançada a proposta de oração para pedir a chuva. Ao que, quem
dirigia a oração, ripostou: vem pedir chuva a Deus e não trazem guarda-chuva…
Assim saibamos ser humildes e sinceros!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário