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terça-feira, 29 de agosto de 2017

‘Índex’ de género…à portuguesa


Por orientação do ministro-adjunto, que, por seu turno, recebeu recomendações duma tal ‘comissão para a igualdade de género’, uma editora foi forçada a retirar duas publicações dos postos de venda… onde já estavam desde o ano passado.

Deste modo a tal cig quis dizer, pela voz altissonante do governante, que as tais publicações destinadas uma para rapazes e outra para raparigas – com idades entre os 4 e os 6 anos – podiam conter mensagens que seriam promotoras da diferenciação e desvalorização do papel dos masculinos e dos femininos nos espaços públicos e privados, conforme se entenda cada uma das funções, seja nos arquétipos, seja naquilo que a ‘igualdade’ (dita) ‘de género’ pretenda veicular, impor e doutrinar. 

= Fique desde já claro: não reconheço, de forma alguma, ao estado a faculdade de dizer o que se deve ou não publicar…seja em que setor for ou abrangendo os campos em que acha que deve atuar, patrocinar ou mesmo subsidiar. Talvez a editora tenha soçobrado àquela recomendação fascizante porque precisa daquele público-alvo para se manter na ribalta. Talvez no papel de mandante das políticas educativas, quem governa possa considerar que deva ‘exigir’ que os executores práticos se amedrontem quando está em causa o futuro da atividade editorial. Talvez os conluios entre as ideologias orientadoras e manipuladoras dos reinantes se tenham sobreposto à iniciativa privada, pois as forças componentes da geringonça – já sabemos por outras posições – abjuram-na como os islamitas ao toucinho… senão em privado ao menos em público. 

= Quem conhece as reações da maioria dos portugueses/as saberá que aquilo que é proibido, é bem mais apetecido. Ora, com aquela reação desproporcionada das autoridades – mais parecendo tiques de autoritarismo – as ditas publicações com exercícios para rapazes e para raparigas devem ter disparado nas compras, mesmo que as remessas tenham sido colocadas em armazém. Tanto quanto foi percetível os exemplos apresentados sofrem de manipulação e muitas das páginas não passam de interpretações de duas ilustradoras gráficas com visões diferentes, por sinal ambas no feminino… Haverá assim tanto mal em identificar os rapazes com o azul e as raparigas com o cor-de-rosa? Que cores serão mais adequadas: o espetro do arco-íris (símbolo do movimento lgbt) onde tudo se mistura e confunde ou o branco/preto, com o cinzento como recurso a gosto? 

= Temos vindo a viver, desde há alguns anos – e não é só nos dois últimos – a uma crescente tendência em colocar muitas das iniciativas culturais, sociais e solidárias sob a alçada dos poderes estabelecidos, condicionando a sua realização ou dependendo cada vez mais dos subsídios de quem controla a torneira dos dinheiros usados em favor do público. Quem destoar da ‘normalidade’ arrisca-se a ficar sem possibilidade de levar a efeito as causas em que possa estar empenhado. Contrariamente ao que seria desejável o que vem a público – mesmo nas publicações e outras atividades – nem sempre é o melhor, mas antes o que serve os interesses de quem manda ou aquilo se possa inserir na onda do mais aceitável…atendendo aos critérios previamente definidos por certos lóbis e ideologias…preferencialmente fora do quadro dos valores cristãos.

Assim, quem falar de homem e de mulher como pessoas sexuadas, complementares e personalizadas, poderá ser visto como ofendendo a ‘igualdade de género’, na medida em que este serve para dizer tudo e não falar de nada… Quem tiver a ousadia de referir-se aos meninos e às meninas poderá incorrer numa censura de discriminação, pois uns e outras ainda não ‘saberão’ bem a que género pertencem ou qual a roupa que poderão vestir tal o unissexo em que podem estar incluídos…   

= À boa maneira do índex medieval – onde as forças religiosas dominantes inseriam o que era proibido ler ou contactar – assim agora estamos a vivenciar um novo índex de género, onde se nota uma censura moral mais ríspida do que a do lápis azul do regime salazarista. De que cor será a escrita desta censura de género?

Já só falta que haja, nos livros publicados, um carimbo – sabe-se lá com que cor – onde se diga: visado pela cig, lgbt e governo!       

 

António Sílvio Couto



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