A ver
pelos primeiros jogos – incidências, reações, efeitos e projeções – a
introdução do dito vídeo-árbitro no campeonato principal de futebol, em
Portugal, poderá ser uma espécie de versão de play station com jogos a sério,
com resultados a gosto e até com defensores e detratores com razões de queixa
sem grande dificuldade.
Se
atendermos, desde logo, a quem faz a transmissão televisiva – nem sempre é o
mesmo operador – difundida, poderemos colocar o tal juízo dos que controlam
diante do écran sob suspeita ou mesmo sujeita a erro…desde que possa prejudicar
com quem não simpatizo e talvez beneficiar quem move a minha paixão clubística…
= Esta
vaga dum tal ‘cientismo’, que deseja não errar, poderá tornar-se um obstáculo a
que se continue a laborar na certeza das decisões. Mas se são humanos os que
ajuízam a partir do que veem na transmissão televisiva, o tal erro de
arbitragem está sempre subjacente… mesmo que possa ser atenuado/corrigido
segundos depois.
Será ainda
de nunca esquecer que os jogadores são pessoas e não bonecos numa figuração
articulada com os desejos dos mentores das vitórias tenham o custo que possam
apresentar. Como humanos os jogadores não podem se colocados como autómatos
duma play station feita em série e a contento dos fabricantes/donos…
= Uns
tantos reclamam a ‘verdade desportiva’ e querem-na como fator de atuação a
régua e esquadro feita nos estúdio sem a envolvência do barulho do estádio –
trocar estúdio por estádio tornaria o jogo mais certinho, mas sem o rigor da
intervenção dos jogadores e até dos cheiros próprios de quem não teme sujar-se
em vez do fato de comentador irrepreensível, mas inócuo, incolor e indolor…
isso não seria futebol!
Quem
assiste ao ‘jogo-falado’ de certos comentadores, que se pronunciam após o
resultado já feito, torna muito daquilo que se diz quase vergonhoso senão mesmo
imoral… Vimos isso por parte dum desses comentadores, que na hora do jogo
estava na conversa à mesa com adeptos seus, mas quem o ouviu – no dia seguinte
– a pronunciar-se sobre a tática, as jogadas e mesmo o resultado, dava lições
de bom futebolês… dentro do seu assumido clubismo!
= Para
além do fervor/paixão com que tantos adeptos vivem o futebol, há uma grande
indústria em volta deste (dito) desporto-rei – porque muito popular, bastante
praticado e mesmo discutido – no nosso país. Sem nos darmos na devida conta
quem ocupa o poder serve-se do futebol para entreter – há quem diga: manipular
– o povo, que, assim distraído vai tolerando que se faça pelo futebol mais do
que lhe é acometido. Quantos autarcas se revem do futebol para ganhar votos.
Quantos industriais se fazem passar por beneméritos pelo dinheiro que dão ao
futebol. Quantas tropelias se inventam para colocar o futebol como bode
expiatório social.
Para
certas pessoas – tanto homens como mulheres, mais novos e mais velhos, sem
classes sociais nem níveis de instrução – o futebol tornou-se uma espécie de
religião, desde os princípios até ao comportamento, passando pelos rituais e
indumentárias… num colorido vistoso e, nalguns casos, a roçar o bizarro.
= É
digno de estudo o imenso tempo e espaço que o futebol – o resto dos outros
desportos são quase mera nota de rodapé – na comunicação social, tanto escrita,
como falada, televisionada ou radiofónica e mais recentemente nos espaços
cibernéticos… Os lugares de discussão têm horas e locais, intervenientes e
assistentes, num grande investimento económico e publicitário que gera,
movimenta e catalisa milhões de euros diariamente. Por isso, introduzir com o
vídeo-árbitro mais um ingrediente neste circo de feras – muito mais perigosas
do que as que foram excluídas da exibição circense – é como que um tema que
fará correr rios de tinta, gastar horas de emissão e gerar discussões e
dissensões… quase até à exaustão.
Bem
razão tinham os responsáveis romanos: demos ao povo e jogos e poderemos
governar à vontade. Ontem como hoje pouco mudou, a não ser alguns figurantes!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário