Os dados
foram anunciados: nos oito anos que esteve na casa branca, Barack Obama usou
sempre o mesmo smoking, nas festas oficiais… e ninguém reparou no episódio:
entre 2009 e 2017, o presidente dos EUA conseguiu trajar a mesma roupa, sem que
ninguém se apercebesse.
A
revelação foi feita pela esposa – sobre quem recaiam as atenções na variedade
de roupa que apresentava – mas com ele tudo foi diferente… pois até os sapatos
foram os mesmos nesses anos… Assim, ele conseguia preparar-se em dez minutos e
da mesma forma…
* Diante
desta revelação fica-nos uma boa oportunidade para refletirmos sobre aquilo que
vestimos, ao que damos importância e mesmo àquilo em que outros reparam… muitas
vezes mais no papel de embrulho do que no conteúdo que é embrulhado.
* Com
que facilidade, hoje, as pessoas mudam de farpela, quase não tendo um estilo
próprio de vestir, antes andando ao sabor da moda – manipulada por entidades
mais ou menos abstratas e sem rosto – numa linguagem de pronto-a-vestir…
unissexo, popular e (mais ou menos) barato ou de marca.
* Se o
modo de vestir define – ou pode dar a entender – a personalidade de cada um,
então, poderemos ser levados a inferir que a maior parte das pessoas vive numa
oscilação tal de personagem que teremos de reparar, antes de tudo naquilo que
veste e como veste, para depois tentarmos descortinar com quem estamos…mesmo
que possa ser essa outra figura com quem ontem estivemos… ou cuja identidade
(aparentemente) conhecemos.
* No
tempo das armaduras seria difícil de saber quem era o nosso interlocutor, pois
ele/ela se disfarçava por detrás disso que não mostrava. Também agora a
armadura está montada, sendo preciso uma grande subtileza para conseguirmos decifrar
quem se veste de tal ou outra forma, sendo que a perplexidade já não se reduz
ao setor feminino…
* O
problema passa a ser mais complexo quando vemos uma sociedade a reger-se por
esta forma de estar: afirmar-se pela indumentária, negligenciando a formação
humana, intelectual, cultural ou psicológica… Mal vai uma sociedade onde as
conversas se desenrolam a propósito do que se veste e da importância que se dá
à ‘imagem’… O que apetece é destoar de toda essa vulgaridade – ética/moralmente
poderemos chamar-lhe vaidade – apresentando-se da forma mais despretensiosa sem
ser desleixada.
= A
referência ao estatuto do presidente do EUA poderá fazermos perceber que nem
todos se guiam pela mesma cartilha – termo agora muito em uso e que significa
essencialmente capacidade de aprendizagem segundo um modelo e para que possa
haver uma identidade na forma de estar – da boa impressão e do faz-de-conta que
é importante porque se veste – às vezes até parece que é mais despe! – duma
determinada forma. Ter a ousadia de não ser como os outros e de deixar-se guiar
por critérios muito para além dos de teor materialista pode ser uma espécie de
testemunho até mesmo cristão. Com efeito, não será assim tão pouco
significativo que alguém não entre na onda da futilidade e do estar sempre na
moda, pois isso custa caro e pode ser ofensivo dos mais pobres. De facto, não
se pode andar a mudar de roupa todas as semanas ou meses, só para que pensem
que se tem nível económico ou estatuto de rico… Encontrei há anos uma situação
em que uma pessoa devia – ao tempo – mais de mil euros só das roupas que tinha
comprado sem pagamento imediato… Será um atentado à pobreza dos mais
desfavorecidos ter armários e comodas atulhados de roupa, sem se questionar se
tal – o dinheiro gasto – não fará falta a quem passa dificuldades essenciais!
Basta de
termos de aturar tantos manequins ambulantes, pavoneando-se à custa da
insensibilidade para com os que podem precisar de ajuda… Muito mal irá a
religião (cristã ou outra) se não questionar tais atropelos à verdade e aos
outros/as… Cristo viveu em espírito de pobreza e desafia-nos a vivê-lo, sempre!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário