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sexta-feira, 9 de junho de 2017

Oito anos com o mesmo smoking…


Os dados foram anunciados: nos oito anos que esteve na casa branca, Barack Obama usou sempre o mesmo smoking, nas festas oficiais… e ninguém reparou no episódio: entre 2009 e 2017, o presidente dos EUA conseguiu trajar a mesma roupa, sem que ninguém se apercebesse.

A revelação foi feita pela esposa – sobre quem recaiam as atenções na variedade de roupa que apresentava – mas com ele tudo foi diferente… pois até os sapatos foram os mesmos nesses anos… Assim, ele conseguia preparar-se em dez minutos e da mesma forma… 

* Diante desta revelação fica-nos uma boa oportunidade para refletirmos sobre aquilo que vestimos, ao que damos importância e mesmo àquilo em que outros reparam… muitas vezes mais no papel de embrulho do que no conteúdo que é embrulhado.  

* Com que facilidade, hoje, as pessoas mudam de farpela, quase não tendo um estilo próprio de vestir, antes andando ao sabor da moda – manipulada por entidades mais ou menos abstratas e sem rosto – numa linguagem de pronto-a-vestir… unissexo, popular e (mais ou menos) barato ou de marca.  

* Se o modo de vestir define – ou pode dar a entender – a personalidade de cada um, então, poderemos ser levados a inferir que a maior parte das pessoas vive numa oscilação tal de personagem que teremos de reparar, antes de tudo naquilo que veste e como veste, para depois tentarmos descortinar com quem estamos…mesmo que possa ser essa outra figura com quem ontem estivemos… ou cuja identidade (aparentemente) conhecemos. 

* No tempo das armaduras seria difícil de saber quem era o nosso interlocutor, pois ele/ela se disfarçava por detrás disso que não mostrava. Também agora a armadura está montada, sendo preciso uma grande subtileza para conseguirmos decifrar quem se veste de tal ou outra forma, sendo que a perplexidade já não se reduz ao setor feminino…  

* O problema passa a ser mais complexo quando vemos uma sociedade a reger-se por esta forma de estar: afirmar-se pela indumentária, negligenciando a formação humana, intelectual, cultural ou psicológica… Mal vai uma sociedade onde as conversas se desenrolam a propósito do que se veste e da importância que se dá à ‘imagem’… O que apetece é destoar de toda essa vulgaridade – ética/moralmente poderemos chamar-lhe vaidade – apresentando-se da forma mais despretensiosa sem ser desleixada. 

= A referência ao estatuto do presidente do EUA poderá fazermos perceber que nem todos se guiam pela mesma cartilha – termo agora muito em uso e que significa essencialmente capacidade de aprendizagem segundo um modelo e para que possa haver uma identidade na forma de estar – da boa impressão e do faz-de-conta que é importante porque se veste – às vezes até parece que é mais despe! – duma determinada forma. Ter a ousadia de não ser como os outros e de deixar-se guiar por critérios muito para além dos de teor materialista pode ser uma espécie de testemunho até mesmo cristão. Com efeito, não será assim tão pouco significativo que alguém não entre na onda da futilidade e do estar sempre na moda, pois isso custa caro e pode ser ofensivo dos mais pobres. De facto, não se pode andar a mudar de roupa todas as semanas ou meses, só para que pensem que se tem nível económico ou estatuto de rico… Encontrei há anos uma situação em que uma pessoa devia – ao tempo – mais de mil euros só das roupas que tinha comprado sem pagamento imediato… Será um atentado à pobreza dos mais desfavorecidos ter armários e comodas atulhados de roupa, sem se questionar se tal – o dinheiro gasto – não fará falta a quem passa dificuldades essenciais!

Basta de termos de aturar tantos manequins ambulantes, pavoneando-se à custa da insensibilidade para com os que podem precisar de ajuda… Muito mal irá a religião (cristã ou outra) se não questionar tais atropelos à verdade e aos outros/as… Cristo viveu em espírito de pobreza e desafia-nos a vivê-lo, sempre!      

 

António Sílvio Couto



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