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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Falar ou estar calado


Por estes dias – uns mais recuados e noutros mais recentes – temos visto factos e pessoas que bem podem ser resumidos deste modo simplista: falar ou estar calado, podendo simbolizar tais atitudes duas figuras sociais – uma do (dito) mundo desportivo, um tal ‘marques’, que vem desfiando informação para entreter a época estival nem sempre profícua em acontecimentos dignos de tal designação; a outra personagem, um tal ‘costa’ que se vai escondendo sob capa das perguntas que fez e das promessas a desejar cumprir, mas umas e outras efabulando em maré política de pré-férias…

Se há quem fale e vá digerindo a conversa a conta-gotas, na apresentação acintosa de imensos emails (pretensamente) particulares, outros vão tentando gerir com silêncios de ignorância ou mesmo de incompetência as flagrantes tragédias de cidadãos esquecidos e sem voz, mesmo que agora chorem as perdas e se tornem lacrimejantes de circunstância. 

= Alguém acredita que é sério o espetáculo da divulgação de mails em folhetim, quando os denunciadores só têm um objetivo: desmontar os sucessos recentes dos adversários? Não haverá muita tagarelice e pouca matéria informativa e incriminatória? A quem interessa tal cortina de fumo – apaziguado por ocasião do luto nacional em razão dos incêndios! – reinando sobretudo quando não se sabia do futuro desportivo dos promotores? Será isto método de informação ou, pelo contrário, confusão do vale-tudo, desde que ponhamos os outros na lama e os promotores na luta…sem oposição?

Este maquiavelismo visto ou presumido pode entreter alguns dos mais suscetíveis em comprarem jornais e de se ligarem aos canais de difusão, mas por certo quem pensar pela sua cabeça e assistir a tal espetáculo perceberá que o chico-espertismo nem sempre compensa ou ganha campeonatos sem rede!

 = Eis que, de repente, a bolha de sucesso da governação em curso (quase) implodiu nas terras ardidos do ‘pinhal interior norte’ – região que engloba catorze concelhos da região centro entre os distritos de Coimbra e de Leiria – e do ‘pinhal interior sul’ – Sertã…onde sete dos municípios foram mais atingidos pelas chamas funestas e mortíferas…de 19 a 22 de junho passado.

Refira-se que, em época de pré-campanha eleitoral para as autárquicas, destes concelhos martirizados três são autarquias socialistas – Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Góis – e quatro sociais-democratas – Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Sertã…

Há, por isso, questões que não podem ficar diluídas nas lágrimas justamente choradas, mas teremos de saber interpretar o que está a correr mal para que mais uma vez – Deus queira que não se repita a curto prazo – sejam consumidas dezenas de hectares de floresta e nada se responde pelas causas nem ninguém assume as consequências.  

* O sucesso da governação vai ficar intacto com tamanho descalabro e incompetência? Bastarão umas festinhas de governantes e do presidente, assobiando para o lado e deixando que os inquéritos sejam metidos na gaveta dos gabinetes do terreiro do paço? Os citadinos sentem-se parte do problema ou atiram para os rurais a culpa das suas misérias e derrotas? As televisões ávidas de sensacionalismo vão deixar cair os figurantes que lhes deram horas de espetáculo barato e, nalguns casos, indecoroso? As estórias de fim-de-página, que se tornaram títulos nalguns noticiários, vão ser esquecidas como rascunhos de malvadez e de exploração dos sentimentos expostos sem respeito?  

* A solidariedade tão típica dos portugueses na hora da desgraça poderá ser continuada muito para além dos holofotes noticiosos. Seria bom que as paróquias criassem parcerias entre si e se conseguisse mobilizar adolescentes/jovens, escuteiros e grupos sócio/caritativos que se prontificassem a viverem, já nestas férias de verão, momentos de ajuda às populações mais fragilizadas e que foram duramente postas à prova. Talvez valha o desafio de trocar umas férias inúteis de praia e de preguiça por ações concretas de participação na recuperação de casas, de aldeias e mesmo de vivências de comunhão na dor…         

 

António Sílvio Couto



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