Por
estes dias – uns mais recuados e noutros mais recentes – temos visto factos e
pessoas que bem podem ser resumidos deste modo simplista: falar ou estar
calado, podendo simbolizar tais atitudes duas figuras sociais – uma do (dito) mundo
desportivo, um tal ‘marques’, que vem desfiando informação para entreter a
época estival nem sempre profícua em acontecimentos dignos de tal designação; a
outra personagem, um tal ‘costa’ que se vai escondendo sob capa das perguntas
que fez e das promessas a desejar cumprir, mas umas e outras efabulando em maré
política de pré-férias…
Se há
quem fale e vá digerindo a conversa a conta-gotas, na apresentação acintosa de
imensos emails (pretensamente) particulares, outros vão tentando gerir com
silêncios de ignorância ou mesmo de incompetência as flagrantes tragédias de
cidadãos esquecidos e sem voz, mesmo que agora chorem as perdas e se tornem
lacrimejantes de circunstância.
= Alguém
acredita que é sério o espetáculo da divulgação de mails em folhetim, quando os
denunciadores só têm um objetivo: desmontar os sucessos recentes dos
adversários? Não haverá muita tagarelice e pouca matéria informativa e
incriminatória? A quem interessa tal cortina de fumo – apaziguado por ocasião
do luto nacional em razão dos incêndios! – reinando sobretudo quando não se
sabia do futuro desportivo dos promotores? Será isto método de informação ou,
pelo contrário, confusão do vale-tudo, desde que ponhamos os outros na lama e
os promotores na luta…sem oposição?
Este
maquiavelismo visto ou presumido pode entreter alguns dos mais suscetíveis em
comprarem jornais e de se ligarem aos canais de difusão, mas por certo quem
pensar pela sua cabeça e assistir a tal espetáculo perceberá que o
chico-espertismo nem sempre compensa ou ganha campeonatos sem rede!
= Eis
que, de repente, a bolha de sucesso da governação em curso (quase) implodiu nas
terras ardidos do ‘pinhal interior norte’ – região que engloba catorze
concelhos da região centro entre os distritos de Coimbra e de Leiria – e do ‘pinhal
interior sul’ – Sertã…onde sete dos municípios foram mais atingidos pelas
chamas funestas e mortíferas…de 19 a 22 de junho passado.
Refira-se
que, em época de pré-campanha eleitoral para as autárquicas, destes concelhos
martirizados três são autarquias socialistas – Castanheira de Pera, Figueiró
dos Vinhos e Góis – e quatro sociais-democratas – Pampilhosa da Serra, Pedrógão
Grande, Penela e Sertã…
Há, por
isso, questões que não podem ficar diluídas nas lágrimas justamente choradas,
mas teremos de saber interpretar o que está a correr mal para que mais uma vez
– Deus queira que não se repita a curto prazo – sejam consumidas dezenas de
hectares de floresta e nada se responde pelas causas nem ninguém assume as
consequências.
* O
sucesso da governação vai ficar intacto com tamanho descalabro e incompetência?
Bastarão umas festinhas de governantes e do presidente, assobiando para o lado
e deixando que os inquéritos sejam metidos na gaveta dos gabinetes do terreiro
do paço? Os citadinos sentem-se parte do problema ou atiram para os rurais a
culpa das suas misérias e derrotas? As televisões ávidas de sensacionalismo vão
deixar cair os figurantes que lhes deram horas de espetáculo barato e, nalguns
casos, indecoroso? As estórias de fim-de-página, que se tornaram títulos
nalguns noticiários, vão ser esquecidas como rascunhos de malvadez e de
exploração dos sentimentos expostos sem respeito?
* A
solidariedade tão típica dos portugueses na hora da desgraça poderá ser
continuada muito para além dos holofotes noticiosos. Seria bom que as paróquias
criassem parcerias entre si e se conseguisse mobilizar adolescentes/jovens,
escuteiros e grupos sócio/caritativos que se prontificassem a viverem, já
nestas férias de verão, momentos de ajuda às populações mais fragilizadas e que
foram duramente postas à prova. Talvez valha o desafio de trocar umas férias
inúteis de praia e de preguiça por ações concretas de participação na
recuperação de casas, de aldeias e mesmo de vivências de comunhão na dor…
António Sílvio Couto
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