Embora
seja uma das mais faladas – tanto pela dimensão que comporta, quanto pelos
ingredientes que envolve – a ‘feira do livro de Lisboa’ é, por estes dias, um
espaço de visita, de interesse e de reflexão para muitos dos intervenientes na
cultura do nosso país.
Sendo já
a 87.ª edição, a feira do livro de Lisboa continua a crescer. Este ano a feira
tem 286 pavilhões, com 602 marcas editoriais (chancelas ou editoras), ocupando
quase quatro talhões do Parque Eduardo VII e esperando atingir – em três
semanas de evento – meio milhão de visitantes…
Numa
época (dita) tão digital e tecnológica, ainda haverá lugar para o livro? Que
faz ainda apostar na impressão de livros, se podemos ter acesso aos conteúdos em
formato não-impresso? Como se pode defender o direito de autoria, se o texto se
divulga sem controlo? Onde começa e onde acaba o ‘copy/paste’ sem plágio nem
usurpação dos direitos de autor? Como poderemos confiar nos trabalhos feitos –
mesmo pelos intelectuais, tanto docentes como discentes – se não conhecermos as
fontes nem os verdadeiros autores? Quem cuida em defender a ‘propriedade
intelectual’, mesmo em tempo de internet?
Estas e
outras questões podem – e talvez devam – ser feitas por ocasião desta feira do
livro, em Lisboa. O assunto é – ou pode ser – mais relevante quando está
prevista uma intervenção, num dos dias da feira (dia 18), na apresentação dum
novo livro sobre o Espírito Santo… Já em 2008 tive a oportunidade de estar numa
sessão de apresentação dum outro livro sobre o sacerdócio ministerial. Por
isso, apreciar o ambiente da feira do livro é algo natural, diria mesmo,
necessário, benéfico e essencial.
= Ora, depois
duma breve visita à feira do livro de Lisboa com pouca gente e exígua de
compras, foi possível ver – no dia 5 – muita literatura e propostas diversas
para crianças, seja ao nível geral e de diversão, seja na dimensão pedagógica e
formativa.
Nota-se
a tendência, agora em Portugal, da edição biografias de figuras nacionais e
internacionais…numa linha de apresentação histórica – mesmo de personalidades
do passado remoto e mais recente – e com implicações no desenrolar do presente.
É
interessante, particularmente quando a afluência de público não é muito grande
– já fui à feira do livro noutros anos onde se tornava impossível andar senão
fosse aos encontrões e por entre imenso barulho – apreciar por onde deambulam
as vertentes mais pessoais dos visitantes, tanto ao nível cultural, como nos
aspetos profissionais e mesmo religiosos…
As
grandes editoras parecem mais contidas nos espaços que ocupam e até na orgânica
que apresentam. Certamente que mais para o final do evento surgirão numa
atitude mais agressiva para atingirem os objetivos de venda, mas, por agora,
não se destacam como noutros anos.
Atendendo
ao nivelamento por baixo dos recursos do público, dá a impressão que os preços
estão bastante em conta, mesmo sem desfazermos das promoções, dos descontos,
dos lançamentos e mesmo dos saldos…
Embora
tenha saído sem comprar nada, ficou-me a impressão de que, na próxima visita, trarei
alguns livros com interesse, culturais e de boa apresentação.
=
Respondendo à questão colocada no título deste artigo: porque subsiste a ‘feira do livro’? Eis algumas sinceras,
razoáveis e úteis razões:
* O
livro continua a ser uma boa companhia e uma salutar fonte de informação no
presente e com implicações para o futuro.
* Só
lendo se aprende a escrever e a exprimir o que se pensa, pois pensar exige
assimilar ideias e comunicá-las aos outros.
* Embora
cada um se possa exprimir como sabe, a arte de escrever e de comunicar
aprende-se na escola da leitura, da reflexão pessoal e não meramente colando
coisas de outros sem nexo ou vago sentido.
* Como é
insidioso o cheiro a tinta quando abrimos o livro, a revista, o jornal ou algo
escrito… aí se pode apreciar e voltar a ler o que em nós deixa marcas e faz
mudar até de ideias.
Porque
fui formado a ler e a escrever, sinto que a feira do livro é muito mais do que
um desfile de vaidades…
António Sílvio Couto
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