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terça-feira, 6 de junho de 2017

Porque subsiste a ‘feira do livro’?


Embora seja uma das mais faladas – tanto pela dimensão que comporta, quanto pelos ingredientes que envolve – a ‘feira do livro de Lisboa’ é, por estes dias, um espaço de visita, de interesse e de reflexão para muitos dos intervenientes na cultura do nosso país.

Sendo já a 87.ª edição, a feira do livro de Lisboa continua a crescer. Este ano a feira tem 286 pavilhões, com 602 marcas editoriais (chancelas ou editoras), ocupando quase quatro talhões do Parque Eduardo VII e esperando atingir – em três semanas de evento – meio milhão de visitantes…

Numa época (dita) tão digital e tecnológica, ainda haverá lugar para o livro? Que faz ainda apostar na impressão de livros, se podemos ter acesso aos conteúdos em formato não-impresso? Como se pode defender o direito de autoria, se o texto se divulga sem controlo? Onde começa e onde acaba o ‘copy/paste’ sem plágio nem usurpação dos direitos de autor? Como poderemos confiar nos trabalhos feitos – mesmo pelos intelectuais, tanto docentes como discentes – se não conhecermos as fontes nem os verdadeiros autores? Quem cuida em defender a ‘propriedade intelectual’, mesmo em tempo de internet?

Estas e outras questões podem – e talvez devam – ser feitas por ocasião desta feira do livro, em Lisboa. O assunto é – ou pode ser – mais relevante quando está prevista uma intervenção, num dos dias da feira (dia 18), na apresentação dum novo livro sobre o Espírito Santo… Já em 2008 tive a oportunidade de estar numa sessão de apresentação dum outro livro sobre o sacerdócio ministerial. Por isso, apreciar o ambiente da feira do livro é algo natural, diria mesmo, necessário, benéfico e essencial. 

= Ora, depois duma breve visita à feira do livro de Lisboa com pouca gente e exígua de compras, foi possível ver – no dia 5 – muita literatura e propostas diversas para crianças, seja ao nível geral e de diversão, seja na dimensão pedagógica e formativa.

Nota-se a tendência, agora em Portugal, da edição biografias de figuras nacionais e internacionais…numa linha de apresentação histórica – mesmo de personalidades do passado remoto e mais recente – e com implicações no desenrolar do presente.

É interessante, particularmente quando a afluência de público não é muito grande – já fui à feira do livro noutros anos onde se tornava impossível andar senão fosse aos encontrões e por entre imenso barulho – apreciar por onde deambulam as vertentes mais pessoais dos visitantes, tanto ao nível cultural, como nos aspetos profissionais e mesmo religiosos…

As grandes editoras parecem mais contidas nos espaços que ocupam e até na orgânica que apresentam. Certamente que mais para o final do evento surgirão numa atitude mais agressiva para atingirem os objetivos de venda, mas, por agora, não se destacam como noutros anos.

Atendendo ao nivelamento por baixo dos recursos do público, dá a impressão que os preços estão bastante em conta, mesmo sem desfazermos das promoções, dos descontos, dos lançamentos e mesmo dos saldos…

Embora tenha saído sem comprar nada, ficou-me a impressão de que, na próxima visita, trarei alguns livros com interesse, culturais e de boa apresentação. 

= Respondendo à questão colocada no título deste artigo: porque subsiste a ‘feira do livro’? Eis algumas sinceras, razoáveis e úteis razões:

* O livro continua a ser uma boa companhia e uma salutar fonte de informação no presente e com implicações para o futuro.

* Só lendo se aprende a escrever e a exprimir o que se pensa, pois pensar exige assimilar ideias e comunicá-las aos outros.

* Embora cada um se possa exprimir como sabe, a arte de escrever e de comunicar aprende-se na escola da leitura, da reflexão pessoal e não meramente colando coisas de outros sem nexo ou vago sentido.

* Como é insidioso o cheiro a tinta quando abrimos o livro, a revista, o jornal ou algo escrito… aí se pode apreciar e voltar a ler o que em nós deixa marcas e faz mudar até de ideias.

Porque fui formado a ler e a escrever, sinto que a feira do livro é muito mais do que um desfile de vaidades…

 

António Sílvio Couto



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