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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Para um glossário eleitoral autárquico


A canícula estival vai ter de ser, este ano, conjugada com as propostas dos candidatos às eleições autárquicas de um de outubro próximo. Talvez possamos lançar uma espécie de glossário relativo ao momento que se aproxima. Os termos usados não têm hierarquia pela ordem em que são apresentados, embora se procure conjugá-los num certo desenvolvimento articulado.

A quadragenária democracia à portuguesa precisa, urgentemente, de ser refundada e refletiva, pois muitos dos mais novos auferem de direitos para os quais não tiveram de lutar e, por isso, pouco valorizam. Por outro lado, não podemos continuar a fazer-de-conta que está tudo normal, quando se vão perpetuando nos postos – sobretudo de índole autárquica – forças e ideologias, figuras e figurões suficientemente desgastadas e com projetos ultrapassados de governação. Mal vai uma localidade (concelho, freguesia ou aldeia), se os eleitos ganham pela ausência dos votantes…acomodados, reféns e afeitos ao dejá vu!    

* Listas – elenco de concorrentes que aceitaram sair dalgum anonimato, continuando anónimos…embora servindo interesses nem sempre claros e entendíveis;  

* Candidatos – peças dum certo xadrez jogado por abstratos à luz da lua em fase de nova, isto é, com sombras, sob suspeitas e sem rosto;   

* Independentes – uma espécie de jihadistas sem rastilho…embora bastante bem armadilhados…sem nunca estralejarem;  

* Promessas eleitorais…com incidência autárquica – uma espécie de pincel sem cabo, se bem que untado numa lata de pez em decomposição…e fora de validade;  

* Campanha eleitoral (no sentido lato ou mais estrito) – um certo tempo de anúncio, de apresentação e de discussão das propostas a votar, mas onde a mentira não pode ser beneficiada em desfavor da verdade. Quem promete o que não é capaz de fazer deveria ser criminalizado muito para além da derrota nos votos… pois, quem engana deve ser julgado com mão pesada e não ser aliviado pela impunidade;  

* Iniciativas de campanha – umas coisas que, noutras épocas soam a fait-divers de entreter, mas que em tempo da dita campanha parecem ações de grande fervor, embora pagas e nem sempre levadas a sério ou onde se dizem coisas sem o mínimo de seriedade e com pouca credibilidade; 

* Cartazes de propaganda – facetas mais ou menos douradas ou até bizarras de quem pretende impressionar o público, criando frases pequenas (slogans), feitas à medida do público-alvo ou fazendo-se, no intervalo, alvo dalgum público;   

* Votação – exercício cívico – normalmente presencial – onde se exprime a escolha avaliada e atenta… A votação devia ser obrigatória, sendo sancionado o não-exercício deste direito, com penalizações nas regalias sociais…atuais e futuras. Desta obrigatoriedade todos teríamos a beneficiar, a começar pelos eleitos, pois teriam outra legitimidade. Por que temem tantos tal obrigação legal?  

* Abstenção – a arma dos cobardes, que fogem na hora de se pronunciar, mas que, depois, reivindicam sem direito e algum alarido! 

= Este breve glossário poderá ajudar-nos a sabermos aferir as nossas ideias pelos nossos ideais e nunca a fazermos o contrário de pensarmos a partir daquilo que, egoisticamente, vivemos. Usando um pensamento de São José Maria Escrivá: porque voas como ave de capoeira, se podes voar com asas de águia?

 

António Sílvio Couto




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