A
canícula estival vai ter de ser, este ano, conjugada com as propostas dos
candidatos às eleições autárquicas de um de outubro próximo. Talvez possamos
lançar uma espécie de glossário relativo ao momento que se aproxima. Os termos
usados não têm hierarquia pela ordem em que são apresentados, embora se procure
conjugá-los num certo desenvolvimento articulado.
A
quadragenária democracia à portuguesa precisa, urgentemente, de ser refundada e
refletiva, pois muitos dos mais novos auferem de direitos para os quais não
tiveram de lutar e, por isso, pouco valorizam. Por outro lado, não podemos
continuar a fazer-de-conta que está tudo normal, quando se vão perpetuando nos
postos – sobretudo de índole autárquica – forças e ideologias, figuras e
figurões suficientemente desgastadas e com projetos ultrapassados de governação.
Mal vai uma localidade (concelho, freguesia ou aldeia), se os eleitos ganham
pela ausência dos votantes…acomodados, reféns e afeitos ao dejá vu!
* Listas – elenco de concorrentes que
aceitaram sair dalgum anonimato, continuando anónimos…embora servindo
interesses nem sempre claros e entendíveis;
* Candidatos – peças dum certo xadrez jogado
por abstratos à luz da lua em fase de nova, isto é, com sombras, sob suspeitas
e sem rosto;
* Independentes – uma espécie de jihadistas sem
rastilho…embora bastante bem armadilhados…sem nunca estralejarem;
* Promessas eleitorais…com
incidência autárquica – uma espécie de pincel sem cabo, se bem que untado numa lata de pez em
decomposição…e fora de validade;
* Campanha eleitoral (no sentido lato ou mais
estrito) – um certo tempo de anúncio, de apresentação e de discussão das
propostas a votar, mas onde a mentira não pode ser beneficiada em desfavor da
verdade. Quem promete o que não é capaz de fazer deveria ser criminalizado
muito para além da derrota nos votos… pois, quem engana deve ser julgado com
mão pesada e não ser aliviado pela impunidade;
* Iniciativas de campanha – umas coisas que, noutras
épocas soam a fait-divers de entreter, mas que em tempo da dita campanha
parecem ações de grande fervor, embora pagas e nem sempre levadas a sério ou
onde se dizem coisas sem o mínimo de seriedade e com pouca credibilidade;
* Cartazes de propaganda – facetas mais ou menos douradas
ou até bizarras de quem pretende impressionar o público, criando frases
pequenas (slogans), feitas à medida do público-alvo ou fazendo-se, no
intervalo, alvo dalgum público;
* Votação – exercício cívico – normalmente
presencial – onde se exprime a escolha avaliada e atenta… A votação devia ser
obrigatória, sendo sancionado o não-exercício deste direito, com penalizações
nas regalias sociais…atuais e futuras. Desta obrigatoriedade todos teríamos a
beneficiar, a começar pelos eleitos, pois teriam outra legitimidade. Por que
temem tantos tal obrigação legal?
* Abstenção – a arma dos cobardes, que fogem
na hora de se pronunciar, mas que, depois, reivindicam sem direito e algum
alarido!
= Este
breve glossário poderá ajudar-nos a sabermos aferir as nossas ideias pelos
nossos ideais e nunca a fazermos o contrário de pensarmos a partir daquilo que,
egoisticamente, vivemos. Usando um pensamento de São José Maria Escrivá: porque
voas como ave de capoeira, se podes voar com asas de águia?
António Sílvio Couto
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