‘Vivemos
num mundo que parece querer fechar-se. Se queremos mudar temos de promover e
dar voz às famílias’, de modo a que se defenda um mundo mais humano – disse D.
José Ornelas, no domingo, dia 2 de abril, no santuário de Cristo Rei, Almada.
O Bispo
de Setúbal intervinha na quarta e última catequese quaresmal, subordinada ao
tema: Igreja, família de famílias. Esta catequese esteve integrada ainda no
‘dia diocesano da família’, que decorreu naquele santuário e reuniu centenas de
famílias de toda a diocese… muitas delas com crianças ainda pequenas.
Esta
quarta catequese teve três aspetos: do eu ao nós; Igreja-família; irmãos e
irmãs ao serviço da grande família de Deus.
= ‘A
família é o espaço onde o encontro se faz carinho’, referiu D. José Ornelas,
pois a ‘dinâmica do ‘eu ao nós’ não se fecha na própria família/casa’, na
medida em que ‘é na abertura às outras famílias que se desenvolvem os povos’.
Neste sentido, o Bispo de Setúbal apelou para que ‘os movimentos de cariz familiar
devem estar atentos e dinamizados’, por forma a intervirem, no processo de
humanização, onde a família deve contar…
= Na
segunda parte da catequese, D. José Ornelas centrou a sua atenção numa passagem
bíblica onde se refere a escolha dos doze apóstolos e de faz o confronto com a
família de sangue em Jesus passando para a família da fé. ‘Jesus rejeita a
família fechada, controlada’, defendendo que ‘a verdadeira vocação da família
humana tem como horizonte a paternidade/maternidade do Pai do Céu’. Com efeito,
‘Jesus leva o espírito de família para dentro da comunidade’. O Bispo de
Setúbal realçou duas figuras que caraterizam a Igreja – mãe e irmão/irmã, com a
‘função materna que transmite a vida, educa e cuida dos mais débeis’,
tipificada em Maria e a dimensão fraterna – irmão/irmã – que são ‘consequência
da maternidade da Igreja’.
= Na
última parte desta catequese, D. José Ornelas falou da vocação dos padres e
consagrados/as como irmãos e irmãs chamados a estar ao serviço da grande
família de Deus. Partindo da consideração de que estas pessoas ‘não são
incapazes de afeto’ nem seguiram esta vida (vocação) por traumas de teor
afetivo, o Bispo de Setúbal referiu que ‘quem não tenha coração de pai não pode
ser padre nem quem não tiver coração de mãe não pode ser consagrada’. Atendendo
a isso, D. José Ornelas salientou ainda que estas vocações ‘não podem
prescindir do amor ou, então, seriam inúteis’. Estes vocacionados têm de viver
‘em diálogo com Deus e com os outros’ ao longo de toda a sua vida, pois devem ‘aprender
a serem irmãos e irmãs com os outros’.
* Ao
longo desta quaresma a Igreja de Setúbal pode escutar o seu Bispo em ensino
sobre a temática da família. Foram momentos interessantes e que reputamos de
importantes não só pela urgência do tema, mas também pela faculdade de podermos
aprender em comum as linhas essenciais do ministério do nosso Bispo. As
vertentes analisadas foram simples e em linguagem entendível, tanto para
clérigos como para leigos. Em geral houve interesse por parte dos ouvintes,
embora pareça que uma grande parte ainda se limita a fixar de ouvido, o que nem
sempre deixa grandes marcas para além da audição momentânea. Apesar do recurso
às gravações/filmagens seria de todo importante investir na tomada de notas
para reflexão pessoal e familiar…
* Um
outro aspeto a ter em conta de futuro deveria ser a participação sistemática em
todos os subtemas – o conjunto é que faz a totalidade – bem como deveriam ser
relativizadas todas as outras ações particulares – por muito importantes ou
tradicionais que possam ser – tanto de paróquias como de movimentos e outras
devoções. Dá a impressão que temos ainda um longo caminho a fazer e a
partilhar. Parece que o principal e essencial interesse dos leigos como que
repercute o entendimento e a participação dos seus responsáveis, nessa subtil
linguagem de alguém se dizia, por contraste, se o Papa fala e os bispos não
ouvem; se os bispos falam e os padres não escutam; como poderão os leigos
escutar se veem que os seus guias não dão o exemplo… Não basta mandar, é
preciso ter autoridade… na família, na paróquia, na diocese!
António Sílvio Couto
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