Somos um
país muito específico e, nalguns casos, andamos em contraciclo com o resto da
Europa, senão mesmo do resto do mundo…em vários campos de atividade na
atualidade…mais recente.
Quando a
maioria dos países europeus já tinham saído das ditaduras e sacudido as tutelas
colonialistas, nós só o fizemos quase trinta anos após o final da segunda
guerra mundial. Quando se deu uma espécie de razia nas correntes marxistas –
comunistas e socialistas, bem como outras mais radicais – nós, por cá, vemos
uma razoável aceitação de tais ideologias, até com a sua ascensão ao poder.
Quando lá por fora parecem surgir novos projetos políticos – reconstruindo-se
dos cacos aqueles que ocuparam a governação – nós, por cá, ainda só surgem
acenos de (ditos) independentes – sobretudo nas autarquias – que saltaram do
arco da aceitação nos quadros de promoção. Quando tantos países se esforçaram
por cimentar as suas contas públicas com medidas de rigor, por cá – como que por
magia – essas ditas contas foram acertadas com tamanha rapidez que nem parece (totalmente)
verdade, atendendo às reversões de medidas, antes consideradas essenciais, mas
agora aliviadas com simpatias e sem austeridade…antes pelo contrário.
Entretanto,
foi noticiado por estes dias que cada português consome, em média, cinquenta e
quatro litros de vinho por ano. Se tivermos em conta a produção – quem ousa
queixar-se agora da frase publicitária de antanho: ‘o vinho dá de comer a mais
de um milhão de portugueses’? – com cerca de duzentos mil hectares de plantação
e seis milhões de hectolitros de vinho produzidos, poderemos entender melhor a
exportação de 2,8 milhões de hectolitros de vinho e uma receita de 734 milhões
de euros… Deixemos as comparações estatísticas com outros países para sabermos
o lugar que ocupamos. Podemos olhar para este sector económico como algo em
franco progresso, tanto ao nível da ocupação de espaço no território como nos
ganhos e proveitos conseguidos. Novamente vão surgindo programas televisivos de
provas e de degustação vínica, uns vão aprendendo a saborear o ‘néctar dos
deuses’ e outros tentam saber mais para apreciar melhor… Não há loja ou
supermercado que não faça – regularmente – uma ‘feira de bebidas’ para tentar
vender e conquistar clientela…
=
Perante estes cenários, poderemos colocar algumas questões, que podem ser
respondidas ou não, tentando encontrar respostas que não sejam desculpas e tão
pouco distrações.
* Com
tanta capacidade de produção de vinho, não seria melhor vivermos na valorização
dos nossos produtos, rejeitando outras bebidas não-mediterrânicas e mais
potenciadoras de maior alcoolismo, particularmente entre os mais novos?
* Com
alguma promoção dos ‘independentes’, sobretudo, nas eleições autárquicas não
estaremos a semear flocos de populismo, mesmo que disfarçados de defensores das
(pretensas) populações, mas usando as ideologias que lhes sejam mais favoráveis
‘à la carte’?
* Agora
que emerge uma nova vaga de sucesso, com números de desemprego a caírem em
catadupa, será que os investidores sentem que vale a pena apostar numa classe
trabalhadora que gasta sem ainda laborar ou iremos pagar, a muito curto prazo,
as ilusões de sucesso sem trabalho?
* Os
vendedores de sonhos e de regalias estarão a fazer as contas às maquinações
disfarçadas de boa prestação das contas públicas, ludibriando a assunção das
responsabilidades pessoais e familiares?
* As
afirmações (quase) pírricas dalguns dos economistas não-comprados/vendidos ao
sistema reinante continuarão a ser vistos como meros ‘velhos do restelo’ ou
terão de ser ouvidos como profetas que avisam da desgraça já vivida há menos de
dez anos?
= Não
acredito que tenhamos recuperado tão rapidamente da austeridade. Alguém está a
mentir. Acreditar nas mentiras é da responsabilidade de cada um, mas levar para
o atoleiro tudo e todos tem de ter um nome e os responsáveis têm – na hora da
verdade – de ter cara, mesmo para serem castigados e julgados… Não basta
deixar-se ir na onda da facilidade, pois os ‘donos disto tudo’ fazem-se pagar
muito para além das meras conjeturas e das palavras de circunstância…
Não nos
deixemos narcotizar com os eflúvios etílicos nem os vapores da reinação…
Acorda, povo português!
António Sílvio Couto
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