Há umas
semanas um tal ministro das coisas económicas (finanças ou economia, tesouro ou
das contas de comprar e vender), dum país da Europa central – qual pêndulo das
obrigações do norte para com as regalias do sul – deixou escapar que alguns
países gastaram as ajudas para equilibrar as suas obrigações com dinheiro em
‘copos’ e outros (pretensos) vícios… aqui nos escusamos a referir essa outra
categoria da tal retórica acusadora... Houve reações mais ou menos inflamadas,
à mistura com o recurso a ironias ilustradas com pinturas de ‘ébrios’
holandeses… Uns tantos quiseram que o tal ministro caísse – por auto-demissão
ou por votação em ordem à destituição – pedindo desculpa aos ofendidos, por
sinal quase só os portugueses…e nem a afinidade partidária deixou que, por cá,
invetivassem o senhor de forma menos agressiva… Lá pelos países baixos o tal
ministro do dinheiro tinha acabado de perder – com estrondosa expressão – as
eleições e nem sabemos se uma coisa – o que foi dito – poderia ser reflexo
dalguns vapores etílicos – que ele via nos outros – usados para esquecer o
desempenho em casa…
Entretanto,
foi notícia nos últimos dias a expulsão, no sul de Espanha, dum numeroso grupo
– dizem que mais de mil – de adolescentes/jovens dum hotel onde terão ocorrido
distúrbios, prejuízos e ofensas… derivados do abuso do álcool e de outros
devaneios mais ou menos graves. A serem assim os factos, estes estudantes – ao
que parece ainda no final do ensino secundário – como que confirmaram, com atos
e atitudes, aquilo que o tal ministro holandês disse semanas atrás… Não deixa
de ser significativo que alguns pais (ao que se disse também serão professores)
tenham vindo defender os seus rebentos, tentando atenuar as culpas e
retorquindo sobre os culpados acusadores…
– Dizer
que tudo isto é inquietante poderá parecer mais um recurso de pessoas ‘velhas’
(cotas no dizer dos novos), que não apreciam as liberdades dos mais novos e as tropelias
própria da idade. Talvez possa ser dado este rótulo de antiquado, mas será que
a diversão tem de prejudicar os outros e de deixar marcas para o futuro dos
que, pretensamente, se divertem?
– Como
poderemos acreditar que seja preciso fazer uma festa de ‘finalistas’, quando
nem o ano terminou e tão pouco o percurso de estudos atingiu uma parte
significativa? Não se estará a permitir a exploração dos mais novos pelos mais
velhos, que assim os manipulam, os enganam e os tentam ludibriar com festinhas
sem nexo ou contexto?
– Até
onde irá a (in)consciência de tantos pais/mães para deixarem ir filhos/filhas
para tais eventos, pagando-lhes tudo (até cauções de prejuízos), sem terem
percebido claramente onde os meteram? Não será que estes episódios denunciam a
falta de autoridade dos progenitores, atirando para a escola a faculdade de
educar, em vez de serem eles a assumirem-na como tarefa intransponível e
necessária?
– Qual a
responsabilidade da escola em tais façanhas, que deixam má reputação dos seus
alunos, que deviam ser, sobretudo, estudantes? Ou será que a fase da
neo-adolescentização preenche os quadros docentes, equivalendo-se àqueles/as
que deviam ensinar?
= Porque
acreditamos que os mais novos – adolescentes e jovens – são o futuro da nossa
sociedade, cremos que será urgente apostar neles, ouvindo-os e fazendo-lhes
perguntas. Muito mal irá uma sociedade se não souber escutar os mais novos,
pois eles/elas têm ideais, que podem mudar o que, em seu entendimento, não está
bem agora. Só quem tenha sido adolescente e jovem a sério – com idênticos
desejos e pretensões de mudança – poderá entender o que eles/elas querem, sem
lhes coartar as asas, mas antes esperando que voem e aceitando que errem, sem
lhes cobrar as asneiras, mas antes fazendo-os/as aprender com seus erros e as menos
boas opções...
Não
deixa de ser sintomático que o Papa Francisco tenha convocado um sínodo, para
outubro de 2018, com o tema: ‘a juventude, a fé e o discernimento vocacional’. Respigamos
algumas palavras que o Papa proferiu, no passado domingo, dia mundial a
juventude: «O mundo de hoje precisa de jovens ativos, dinâmicos, que sintam que
a sua vida é uma vocação, uma experiência em caminho. O mundo só poderá mudar
com jovens assim… Falta educação, falta integração, tantos precisam de sair,
migrar para outras terras. É duro de dizer, mas os jovens de hoje são
frequentemente material descartável. Nós não podemos tolerar isto»!
António Sílvio Couto
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