Por
estes dias passeava numa localidade ao pé do mar. Quem me acompanhava, depois
de observar vários quadros de rua e outros sinais de religião católica, disse:
esta terra não será atacada pelos muçulmanos, pois tem muitos santos na rua que
a protegem… e os islamitas não gostam de santos!
Esta
singela observação fez-me tentar entender – antes de mais por reflexão e depois
por participação até nalguns daqueles quadros postos na rua, por ocasião do
jubileu do ano 2000 – qual a abrangência dos símbolos cristãos colocados nas
vias públicas e quanto isso pode ser – mesmo que de forma inconsciente – uma
espécie de salvaguarda da nossa identidade cristã e do compromisso social
cristão…
Embora o
termo ‘sarraceno’ possa designar, numa terminologia cristã mais envolvente na
Idade Média, os árabes e muçulmanos em geral, como que se pode ainda estender à
ocupação do primeiro califado árabe na península ibérica…
Se
atendermos a esta abrangência designativa como que poderemos considerar que as
investidas mais recentes da cultura ismaelita sobre a cultura ocidental e
europeia em particular poderá ser entendida como uma nova ofensiva sarracena,
onde muitos dos valores cristãos são colocados em risco e, particularmente, as
simbologias cristãs no âmbito público.
Assim,
se tivermos em conta a observação supra citada sobre os sinais cristãos nas
vias públicas, teremos de refletir sobre a ausência e a não-referência às
questões religiosas cristãs na maioria das nossas cidades e suas artérias…
= Há
casos em que certas forças ideológicas – sobretudo na incidência autárquica – vão
tentando obnubilar a alusão aos patronos – Nossa Senhora ou algum santo – das
festas concelhias ou de freguesia. Com efeito, será preciso estar atento e
vigilante para que não consigam subverter o espírito original e que não tentem
criar fait-divers para impingirem certas ideias anticristãs mais sublimares… Por
acaso ou propositadamente há factos que fazem desconfiar das distrações mais ou
menos circunstanciais…Talvez os sarracenos (ainda que à distância) nos possam
fazer acordar da letargia social em que vamos sendo embalados e adormecidos…
pelo materialismo galopante de vida e de valores.
= Em
tempo não muito recuados era habitual vermos, nalgumas encruzilhadas e em
estradas de grande movimento de veículos e pessoas, pequenos nichos, cruzeiros
e até capelinhas alusivas a santos e santas de maior devoção popular. Com isso
deixava-se uma marca de espiritualidade e mesmo dalguma religiosidade de teor um
tanto cristão. Em certas situações viam-se também cruzes e flores a lembrar
algum acidente normalmente fatídico. Esses elementos eram quase de maior alerta
para perigosidade da estrada do que até os sinais de trânsito… lembrando e
fazendo memória de casos passados, que seriam ainda considerados atuais e
atuantes. Deste modo se ia espalhando pequenas receitas de religiosidade e
perspetivando que a nossa caminhada continua envolta em mistério humano e mesmo
cristão.
=
Atendendo, no entanto, à crescente privatização da dimensão religioso-espiritual
– sobretudo de âmbito cristão – torna-se cada vez mais importante e essencial
colocarmos na via pública sinais que nos façam lembrar as referências cristãs
mais marcantes bem como sejamos ajudados a viver esse compromisso da nossa fé e
da memória dos nossos maiores e de figuras de referência no ‘eu coletivo’ de
cada localidade… Não podemos permitir que certas ondas de laicismo tenham de
ser impostas a quem não se pode pronunciar sobre as decisões autárquicas ou
dalguns diretórios partidários sem rosto nem história. Alguns tentam construir
a história à dimensão da sua origem, criando lacunas e erros que iremos pagar
caro, quando se vir o logro em que nos tentam conduzir. Não temos todos de ser
regidos pelos fantasmas com que ainda vivem, pois país, região ou localidade
que não valoriza os seus antepassados e os seus patronos (humanos ou
espirituais) bem depressa cairá nessa esquizofrenia cultural com que temos
estado a viver… mais ou menos inconscientemente.
Algo tem
de mudar. Assim o sejamos capazes de concretizar a bem do futuro…
António
Sílvio Couto
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