‘A
primeira coisa que temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar dinheiro a
quem está a acumular dinheiro’. Foi desta forma altissonante que uma deputada
de um dos partidos que apoia o atual governo quis enunciar uma nova taxa sobre
quem ‘acumula riqueza’… confundindo – não se sabe com que propósito – acumular
riqueza com a possibilidade dessa (dita) riqueza ser resultado de poupança…
Para
além de todas as derivas que foram apresentadas posteriormente, vimos como que
ressurgir um ambiente de luta de classes – ricos e pobres – com que uns tantos
querem fazer de ‘robin dos bosques’ do século XXI… embora não se saiba
claramente aonde querem chegar de verdade.
Passadas
quatro décadas sobre a ‘revolução do abril’ e as subsequentes conquistas
proletárias pensávamos que já tinha sido ultrapassado um certo fervor
anticapitalista, onde mais do que acabar com os pobres se pretende dar combate
aos ricos… essa lepra social de que alguns só se coçam quando atingem o poder…
= Talvez
a deputada se tenha quedado em ler a primeira versão da constituição portuguesa
de 1976 que, então, dizia: ‘Portugal é uma república soberana, baseada na
dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na sua
transformação numa sociedade sem classes’. Ora, a versão atual diz: ‘Portugal é
uma república soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade
popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária’.
Pelo que
se pode ver, na versão de 1976, diz-se que vamos em vias de ‘uma sociedade sem
classes’, enquanto que, na versão mais atualizada, refere-se ‘a construção de
uma sociedade livre, justa e solidária’…
A
deputada parece que está saudosa desse registo onde deve ser sido educada: a
luta de classes marxista/trotskista e que tão maus frutos deixou numa parte
significativa da Europa. Também não precisamos de desenterrar conflitos que não
trazem paz nem segurança… a ninguém.
O
problema principal parece ser, no entanto, que foi numa reunião partidária de
quem faz o governo que tal declaração foi proclamada e com aplausos dos
participantes… A quem interessa regressar a matérias que já deviam estar
resolvidas intelectual e socialmente? Estas derivas dialético-marxistas revelam
que ainda há poeiras que não assentaram nalgumas mentes?
= De
quem está em serviço do bem público espera-se – creio – um equilíbrio emocional
e intelectual capaz de ser responsável pelo que diz e que faz. Ora, quando
vemos intervenções destas, surge-nos a sensação de que algo vai mal no reino da
fantasia, pois as pessoas evoluem em razão das dificuldades da vida e, no caso
em apreço, parece que as pessoas, que direta ou indiretamente, intervieram,
notou-se mais uma tentativa de ver se resultava a pretensão, dando ainda conta
da possibilidade das pessoas andarem distraídas e a coisa poder seguir os
objetivos traçados… Já vimos esta habilidade noutros campos e áreas de
governação... Daí que temos de estar em constante alerta para não sermos
apanhados na execução de algo que não tem em conta o bem comum, mas antes
pretendam satisfazer alguns grupos e lóbis… mais ou menos declarados.
= O pior
que nos pode acontecer é a situação de vivermos na desconfiança e em
sobressalto do que nos querem fazer, sobretudo, na nossa ausência. Com esta
apreensão sobre o presente e para com o futuro, estaremos a criar uma sociedade
onde as relações humanas se vão deteriorar rapidamente, tornando cada outro num
adversário, senão mesmo inimigo, de quem nos temos de defender.
Quem irá
acreditar num país que modifica as regras com o jogo a decorrer? Quem será
capaz de investir num país onde quem coloca a sua riqueza a render pode ser
taxado e castigado? Quem poderá aceitar que, por ter poupado e amealhado algum
dinheiro, tenha de ser considerado inimigo da classe operária?
A quem
interessa acirrar as pretensões (sociais, económicas e financeiras) se não tem
capacidade de gerir o ordenado que aufere? A quem iremos pagar a fatura por nos
tentarem iludir com mais proventos senão temos capacidade de gestão do
sustentável?
Numa
palavra: cristãmente temos de evangelizar os ricos – isto é, de lhes anunciar a
Palavra de Deus – para que sejam tocados e possam investir em favor dos pobres,
criando riqueza e emprego.
António Sílvio Couto
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