Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Fúrias anti-riqueza


‘A primeira coisa que temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro’. Foi desta forma altissonante que uma deputada de um dos partidos que apoia o atual governo quis enunciar uma nova taxa sobre quem ‘acumula riqueza’… confundindo – não se sabe com que propósito – acumular riqueza com a possibilidade dessa (dita) riqueza ser resultado de poupança…

Para além de todas as derivas que foram apresentadas posteriormente, vimos como que ressurgir um ambiente de luta de classes – ricos e pobres – com que uns tantos querem fazer de ‘robin dos bosques’ do século XXI… embora não se saiba claramente aonde querem chegar de verdade.

Passadas quatro décadas sobre a ‘revolução do abril’ e as subsequentes conquistas proletárias pensávamos que já tinha sido ultrapassado um certo fervor anticapitalista, onde mais do que acabar com os pobres se pretende dar combate aos ricos… essa lepra social de que alguns só se coçam quando atingem o poder… 

= Talvez a deputada se tenha quedado em ler a primeira versão da constituição portuguesa de 1976 que, então, dizia: ‘Portugal é uma república soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na sua transformação numa sociedade sem classes’. Ora, a versão atual diz: ‘Portugal é uma república soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária’.

Pelo que se pode ver, na versão de 1976, diz-se que vamos em vias de ‘uma sociedade sem classes’, enquanto que, na versão mais atualizada, refere-se ‘a construção de uma sociedade livre, justa e solidária’…

A deputada parece que está saudosa desse registo onde deve ser sido educada: a luta de classes marxista/trotskista e que tão maus frutos deixou numa parte significativa da Europa. Também não precisamos de desenterrar conflitos que não trazem paz nem segurança… a ninguém.

O problema principal parece ser, no entanto, que foi numa reunião partidária de quem faz o governo que tal declaração foi proclamada e com aplausos dos participantes… A quem interessa regressar a matérias que já deviam estar resolvidas intelectual e socialmente? Estas derivas dialético-marxistas revelam que ainda há poeiras que não assentaram nalgumas mentes? 

= De quem está em serviço do bem público espera-se – creio – um equilíbrio emocional e intelectual capaz de ser responsável pelo que diz e que faz. Ora, quando vemos intervenções destas, surge-nos a sensação de que algo vai mal no reino da fantasia, pois as pessoas evoluem em razão das dificuldades da vida e, no caso em apreço, parece que as pessoas, que direta ou indiretamente, intervieram, notou-se mais uma tentativa de ver se resultava a pretensão, dando ainda conta da possibilidade das pessoas andarem distraídas e a coisa poder seguir os objetivos traçados… Já vimos esta habilidade noutros campos e áreas de governação... Daí que temos de estar em constante alerta para não sermos apanhados na execução de algo que não tem em conta o bem comum, mas antes pretendam satisfazer alguns grupos e lóbis… mais ou menos declarados.  

= O pior que nos pode acontecer é a situação de vivermos na desconfiança e em sobressalto do que nos querem fazer, sobretudo, na nossa ausência. Com esta apreensão sobre o presente e para com o futuro, estaremos a criar uma sociedade onde as relações humanas se vão deteriorar rapidamente, tornando cada outro num adversário, senão mesmo inimigo, de quem nos temos de defender.

Quem irá acreditar num país que modifica as regras com o jogo a decorrer? Quem será capaz de investir num país onde quem coloca a sua riqueza a render pode ser taxado e castigado? Quem poderá aceitar que, por ter poupado e amealhado algum dinheiro, tenha de ser considerado inimigo da classe operária?

A quem interessa acirrar as pretensões (sociais, económicas e financeiras) se não tem capacidade de gerir o ordenado que aufere? A quem iremos pagar a fatura por nos tentarem iludir com mais proventos senão temos capacidade de gestão do sustentável?

Numa palavra: cristãmente temos de evangelizar os ricos – isto é, de lhes anunciar a Palavra de Deus – para que sejam tocados e possam investir em favor dos pobres, criando riqueza e emprego.

 

António Sílvio Couto



Sem comentários:

Enviar um comentário