Numa
reportagem apresentada num desses canais regionais de televisão, a repórter de
serviço – num misto de simplicidade e dalguma ignorância – perguntava ao
maestro duma banda filarmónica qual o significado do gesto que ele fazia com a
batuta para com os músicos que orientava: aquilo é para enxotar as moscas?
Ao que o
interrogado ripostou: aquilo é para que possam todos saber o compasso da
música, que estão a tocar!
É
significativo que coloquem a fazer um trabalho de reportagem quem faça perguntas
que têm tanto de inesperado quanto de quase brejeiro. Com efeito, uma pergunta
daquelas só pode roçar ofensa a quem seja questionado… mesmo que isso aconteça de
forma um tanto inocente e/ou simplista.
Diante
deste episódio sentimos que há um número razoável de pessoas a desenvolver
tarefas de comunicação social que não parecem estar habilitadas para exercer
tal função… Não bastará ter um palmo de cara simpática para se tornar suporte
de microfone e desatar a pôr perguntas muitas delas desconexas e, possivelmente,
ofensivas… Temos de ter ‘profissionais’ que estejam capazes de estarem
preparados para os vários campos que têm de cobrir… Quem é informado não pode
ser tratado como um mero ignorante e quem é perguntado tem de saber ao que vem
da forma mais honesta e sincera…
= No
desenvolvimento do espaço da comunicação social cada vez mais precisamos de
acreditar que, quem exerce tal função, é isenta, mas não meramente anódina,
isto é, tem de saber da arte e não pode deixar-se ser interpretada como valendo
tudo e o resto... De facto, em cada pessoa que exerce as funções de ser veículo
de comunicação em estado social não podemos permitir que possa dizer tudo o que
pretendem que se diga, mas que o transmissor tem (ou deve ter) também critérios
e valores que passam (ou devem passar) por aquilo que transmite. Neste aspeto quem
dá notícias é uma pessoa, que tem, irremediavelmente, sentimentos e
inteligência, não podendo deixar estas faculdades anestesiadas com a (possível)
isenção de trabalho…
Neste
sentido, sim, estaria a enxotar moscas mais ou menos abstratas e virtuais, onde
cada um poderá ver o que deseja ou até ser manipulado pelo que mais favores lhe
possa trazer…
= Nesta
espécie de longo lamaçal em que nos vamos, apesar de tudo, movimentando,
torna-se importante e essencial que sejamos capazes de identificar os espaços
mais ou menos vulneráveis em que tentamos desenvolver a nossa atividade humana,
social e cultural. Atendendo a que as moscas se desenvolvem – nesse longo
processo de germinação – em situações menos boas do ponto de vista da higiene,
teremos de encontrar os lugares onde se alimentam as tais ‘moscas’ que é
preciso enxotar. Com efeito, em tantas situações da atividade humana –
política/autárquica, económica/financeira, religiosa, cultural/académica –
vemos uma proliferação de moscas que deambulam em redor dum certo manjar do
poder… real ou tácito, visível ou presumido… nessa espécie de sinfonia de
zangões e de vespas em conexão de canícula.
Quem não
terá já visto uns tantos (ou tantas) que estão (quase) sempre a flutuar nos
lugares mais almejados? Quem não se terá já interrogado sobre a
sobrevalorização de certas figuras desde que conste que possam aparecer? Quem
não se interrogará sobre a manutenção duns tantos/as a fazer figura de
intocáveis, quando o que têm desenvolvido fazia acreditar que o seu reinado já
deveria ter cessado…há muito tempo?
=
Precisamos de enxotar tantas moscas que ainda ocupam e como que infestam os
lugares onde o servir deve ser lema de vida e não engodo de promoção.
Precisamos
de enxotar umas quantas moscas que transmitem doenças em razão dos locais
infetocontagiosos por onde se pavoneiam e donde usufruem prebendas e regalias.
Precisamos
de enxotar tantas e tantas moscas que só desacreditam quem as vai ainda
tolerando… seja qual for a situação mais ou menos nefasta.
Por
alguma razão se atribui a uma das facetas do ‘espírito do mal’ a designação de
«belzebu», isto é, senhor do esterco ou das moscas! Credo abrenúncio!
António
Sílvio Couto
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