31% dos
professores não está motivada para ensinar e 64% dos docentes refere que a
educação, em Portugal, se tem vindo a deteriorar.
Estes
dados são resultado de um estudo – ‘as preocupações e as motivações dos professores
portugueses’ – a que responderam cerca de três milhares de profissionais… dos
setores público e privado. Este inquérito foi realizado nos meses de maio a
julho… ao que parece deste ano… em quase centena e meia de escolas.
Embora
uma larga maioria dos (ditos) docentes – 92% – tenha dito que escolheu a
profissão por razões vocacionais, nota-se que quase um terço dos inquiridos se
sente desmotivado para ensinar e que 13% gostaria de se aposentar
antecipadamente.
Sobre as
causas de insatisfação mais de metade dos inquiridos salienta que não há
reconhecimento público e social da profissão, seguindo-se uma larga percentagem
que aduz a indisciplina na sala de aula e a extensão dos programas no leque de
razões para se sentirem menos bem ou até mal… pessoal, social e
profissionalmente.
Em todo
este conspecto de avaliação e de respostas pode encontrar-se que os mais
insatisfeitos são professores com mais de dez anos de serviço e que acusam mais
cansaço e até desilusão.
Quem
coordenou e analisou este inquérito referiu ainda que, entre outros fatores de
desgaste do corpo docente, se podem encontrar os cortes de vencimentos, o
congelamento das carreiras, o aumento da idade da reforma, o aumento do número
de alunos por turma e a prorrogação das horas letivas.
=
Perante este panorama duma das mais importantes instituições da nossa
sociedade, isto é, quem cuida da educação e da instrução dos futuros cidadãos,
poderemos considerar que algo está muito mal, pois no presente sentimos que
qualquer coisa não está a ser bem conduzida: a insatisfação do corpo docente
faz perigar algo em que uma sociedade deve estar alicerçada: a confiança na
docência e na aprendizagem, tendo em conta a reciprocidade de quem é ensinado e
que deve encontrar ‘modelos’ de conduta… muito para além do saber e do prestar
contas… com ou sem exames!
Daquele
inquérito ressaltou-nos ainda a visão vocacional de muitos dos professores,
pois uma coisa será a profissão outra, bem distinta e percetível, será a de ser
educador/a, ministrando conhecimentos e saberes que devem ser adquiridos para
uma boa socialização e cidadania…adequados ao comportamento e vivência ética.
Quando
tivermos professores ‘mercenários’ algo poderá ser dramático, mas já faltou
mais para que tal possa ser posto em prática!
= Talvez
se deva assumir que essa espécie de ‘profissão limpa’ – sem ter de se sujar nem
de mudar de roupa para o seu exercício – como chegou a ser vista a do ensino,
tenha os dias contados, pois certos fatores têm vindo a fazer decrescer o público-alvo,
que são os alunos. Se a natalidade diminuiu também os alunos entraram em
decrescimento… Serão consequências duma cultura-sem-filhos que irá deixar rasto
por vários anos na nossa sociedade… Até a instabilidade profissional dos
próprios professores terá contribuído para este estado das coisas. Se não
tentarmos inverter a tendência do ‘filho único’ ou de nem ter filhos ainda irá
bater mais no fundo esta crise humana, social e cultural!
= Não
deixa de ser inquietante a colapso social da profissão de professor/a. Muito
mais do que a perda de regalia social – reinante até há umas décadas – poderemos
ter em conta a desconjunção da qualidade de quem ensina, mesmo perante os
pais/educadores e até os próprios estudantes. Nota-se ainda um certo
desrespeito desde a sala de aula até ao ambiente extraescolar, passando ainda
por uma espécie de vulgarização da função de ser professor, muito em razão das
alterações socioculturais, pois a difusão de instrução deixou de colocar quem
ensina num estádio superior…
Urge,
por isso, que sejamos capazes de dignificar este setor humano e cultural para
que o nosso futuro coletivo seja mais superiormente conduzido por quem serve o
saber e menos por quem possa procurar a promoção…nem sempre global e
personalista. Aos verdadeiros professores: obrigado!
António Sílvio Couto
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