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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

‘Não valorização’… dos professores


31% dos professores não está motivada para ensinar e 64% dos docentes refere que a educação, em Portugal, se tem vindo a deteriorar.

Estes dados são resultado de um estudo – ‘as preocupações e as motivações dos professores portugueses’ – a que responderam cerca de três milhares de profissionais… dos setores público e privado. Este inquérito foi realizado nos meses de maio a julho… ao que parece deste ano… em quase centena e meia de escolas.

Embora uma larga maioria dos (ditos) docentes – 92% – tenha dito que escolheu a profissão por razões vocacionais, nota-se que quase um terço dos inquiridos se sente desmotivado para ensinar e que 13% gostaria de se aposentar antecipadamente.

Sobre as causas de insatisfação mais de metade dos inquiridos salienta que não há reconhecimento público e social da profissão, seguindo-se uma larga percentagem que aduz a indisciplina na sala de aula e a extensão dos programas no leque de razões para se sentirem menos bem ou até mal… pessoal, social e profissionalmente.

Em todo este conspecto de avaliação e de respostas pode encontrar-se que os mais insatisfeitos são professores com mais de dez anos de serviço e que acusam mais cansaço e até desilusão.

Quem coordenou e analisou este inquérito referiu ainda que, entre outros fatores de desgaste do corpo docente, se podem encontrar os cortes de vencimentos, o congelamento das carreiras, o aumento da idade da reforma, o aumento do número de alunos por turma e a prorrogação das horas letivas. 

= Perante este panorama duma das mais importantes instituições da nossa sociedade, isto é, quem cuida da educação e da instrução dos futuros cidadãos, poderemos considerar que algo está muito mal, pois no presente sentimos que qualquer coisa não está a ser bem conduzida: a insatisfação do corpo docente faz perigar algo em que uma sociedade deve estar alicerçada: a confiança na docência e na aprendizagem, tendo em conta a reciprocidade de quem é ensinado e que deve encontrar ‘modelos’ de conduta… muito para além do saber e do prestar contas… com ou sem exames!

Daquele inquérito ressaltou-nos ainda a visão vocacional de muitos dos professores, pois uma coisa será a profissão outra, bem distinta e percetível, será a de ser educador/a, ministrando conhecimentos e saberes que devem ser adquiridos para uma boa socialização e cidadania…adequados ao comportamento e vivência ética.     

Quando tivermos professores ‘mercenários’ algo poderá ser dramático, mas já faltou mais para que tal possa ser posto em prática!  

= Talvez se deva assumir que essa espécie de ‘profissão limpa’ – sem ter de se sujar nem de mudar de roupa para o seu exercício – como chegou a ser vista a do ensino, tenha os dias contados, pois certos fatores têm vindo a fazer decrescer o público-alvo, que são os alunos. Se a natalidade diminuiu também os alunos entraram em decrescimento… Serão consequências duma cultura-sem-filhos que irá deixar rasto por vários anos na nossa sociedade… Até a instabilidade profissional dos próprios professores terá contribuído para este estado das coisas. Se não tentarmos inverter a tendência do ‘filho único’ ou de nem ter filhos ainda irá bater mais no fundo esta crise humana, social e cultural! 

= Não deixa de ser inquietante a colapso social da profissão de professor/a. Muito mais do que a perda de regalia social – reinante até há umas décadas – poderemos ter em conta a desconjunção da qualidade de quem ensina, mesmo perante os pais/educadores e até os próprios estudantes. Nota-se ainda um certo desrespeito desde a sala de aula até ao ambiente extraescolar, passando ainda por uma espécie de vulgarização da função de ser professor, muito em razão das alterações socioculturais, pois a difusão de instrução deixou de colocar quem ensina num estádio superior…

Urge, por isso, que sejamos capazes de dignificar este setor humano e cultural para que o nosso futuro coletivo seja mais superiormente conduzido por quem serve o saber e menos por quem possa procurar a promoção…nem sempre global e personalista. Aos verdadeiros professores: obrigado!   

    

António Sílvio Couto

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