Quem
vir, escutar ou ler, por estes dias, as notícias do nosso país poderá ser
tentado a dizer: reina uma paz social imensa entre todos… desde trabalhadores a
empresários, de sindicatos a empregadores… nos mais diversos setores, sobretudo
nos (visivelmente) contestatários como os transportes e os professores,
passando pelas autarquias e na (apelidada) função pública.
Não se
consegue totalmente perceber ao que se deve tal ruidosa pacificação. Será que
está tudo a funcionar e todos ‘se dão bem’? Ou será que, não sendo dadas
notícias sobre os (possíveis) conflitos, as coisas acalmam e se resolvem?
Tanto
uma como outra destas (possíveis) razões são questionáveis. Pois, se a
pacificação foi conquistada com mais uns trocos no ordenado mensal porque não
se fez isso antes? Porque foi preciso esticar a ‘crise’ e se enfatizou tanto a
‘austeridade’? Ou se a pacificação se deve a que quem governa – sabe-se lá quem
é? – porque é da mesma cor ideológica, então, estaremos sob uma ditadura de quem
só cria paz quando os seus mandam ou os deixam mandar! Por outro lado, a
ausência noticiosa sobre conflitos e protestos poderá servir para que se possa
entender que os ‘profissionais’ da contestação conseguem condicionar as lutas e
as demais serventias com que são preenchidos os alinhamentos dos noticiários…
ao serviço doutros intentos e interesses. Certos ‘profissionais’ da comunicação
têm algum jeito para acirrarem os ânimos, senão na forma, ao menos na
interpretação dos casos que apresentam e servem… ardilosamente.
= Fique
claro: não há independência na comunicação social. Esta é tão facilmente
comprada que já nem vale um simples prato de lentilhas. Veja-se a forma como
certas figuras saltam das redações para os gabinetes de comunicação de
ministérios, de cargos públicos e até para os interesses desportivos… de clube.
Já não
basta saber quem disse, é preciso procurar, afinal, quem foi que induziu a
dizer. De pouco adianta querer fazer de forma diferente, que, bem depressa, se
cai no recurso a chavões, frases-feitas ou até a figuras da moda… logo
facilmente descartáveis. Veja-se o inciso aos ‘pokemóns’ para falar de coisas
sérias como a construção do futuro orçamento… A superficialidade da comunicação
está a tornar-se o mais vendável e os estrategas servem-se disso para distrair
e manipular…
= Embora
o admire pessoalmente como político com influência cristã – queimado nas
grelhas do avental em tempos do lamaçal – considero que o candidato luso às
altas esferas da ONU poderia ser mais uma espécie de engano para a continuação
de manipulação reinante cá pelas terras do ocidental da Europa. Cada vez mais
vamos sentindo que a crispação ideológica vai deixando rasto no comportamento
ético de muitos que têm mais a perder do que a ganhar com a batalha que têm
curso… Por agora parecem a rã da fábula de Esopo tentando crescer até ao
tamanho do boi… lá na estória, como em breve por cá, veremos os estilhaços
espalhados sem recuperação…
= São
fortes os indícios dum certo estertor da civilização ocidental. Tal como no crepúsculo
da sociedade romana antiga – com pão e jogos – estamos a sentir que será
precisa uma séria revolução onde os paladinos das liberdades no antigo leste
europeu possam experimentar os resultados – veja-se o que acontece na
‘próspera’ Venezuela – e que outros defensores do facilitismo (da esquerda
caviar) possam sentir que os objetivos por eles defendidos só podem vingar
porque há uma sociedade capitalista e liberal, que dá cobertura aos seus anseios
de bem-estar e às travessuras de contestação… Se fossemos governados por tais
ideais andaríamos todos à míngua de pão e de liberdade… De facto, a
reivindicação só é possível porque os liberais dão paz e segurança… à mistura
com tolerância e pagamento de impostos da iniciativa privada.
= Como é
capcioso o jogo de interesses com que certas autarquias promovem festas e
distrações populares: à custa dum razoável capitalismo popular – suportado por
taxas e prebendas – que vai entretendo o povo, excogitando o que há de mais
sensorial e, assim, se governa com populismo e de mãos voltadas para recolher
os proveitos, enrolando tudo e todos sem grande esforço e inteligência.
Acordem!
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário