Com a
publicação das colocações nas escolas de ensino superior – universidades e
institutos – vão surgindo notícias que aduzem criar ambiente para quem vai
começar uma nova etapa da sua formação humana e intelectual: uns chamam-lhe
praxe e outros vão tentando formas de inclusão que possam ser consideradas
civilizadas e menos medievalescas…tanto na forma como no conteúdo.
Desde um
ministro até a uma universidade já surgiram posições a contestar a prática das
praxes… tal como têm sido postas em prática. Com efeito, de tempos recentes
foram noticiados – quando escapam ao controle das (ditas) comissões – exageros,
nalguns casos a deixarem marcas nas pessoas e na reputação das instituições
onde tais vexames são cometidos.
= Se a
intenção das praxes é incluir pode, em muitas situações, resultar no seu
contrário, pois os ‘faltosos’ ao pretenso ritual como que se podem tornar
excluídos num meio onde ainda vigora um espírito demasiado gregário e, em
certas situações, deixando pouco em abono da inteligência de quem pensa – se
pensa – e executa…tais praxes. Se virmos em certas instituições o ‘chefe’ da
praxe é o aluno com mais matrículas, isso como que nos deverá questionar se tal
façanha abona pela capacidade de ultrapassar os estudos – se é que os faz – ou
se antes estaremos perante uma prorrogação de ‘estudante’ muito para além do
quadro da normalidade!
=
Nalgumas situações parece que os artefactos – cenas e confusões – que são
propostos não andarão muito longe daquilo que lhes foi feito há tempos mais ou
menos recuados, situando-se, assim a praxe numa repetição daquilo que lhes
fizeram outros e que se vai aturando até que haja quem não se deixe submeter a
humilhações e processos de menor dignidade de quem se quer valorizar culturalmente,
mas que, por momentos, é tornado alvo de chacota e de ridículo… Quantas vezes
quem pensa estar a crescer na sua dimensão humana e intelectual se pode sentir
aviltado, chafurdando em obscenidades e ações de menos boa conduta social…
Referimo-nos ao que é mostrado na via pública (incluindo a comunicação social)
e não no espaço das escolas e suas dependências mais próprias… Se algum
responsável dum jardim-de-infância permitisse tais casos certamente – e bem –
estaria sob a alçada da lei e da condenação pública. Porque, então, terá de
haver um manto de silêncio sobre coisas que nem de infantis se podem
considerar?
= A vida
académica é uma etapa essencial da estruturação de qualquer pessoa, mas não
pode ser levada com leviandade e muito menos com referências de banalidade,
tanto no que se refere ao saber como ao educar ou, então, teremos pessoas
imaturas e prolongadas numa adolescência psicológica muito para além do que é
(ou era) razoável.
Perante
este quadro complexo de questões, deixamos algumas que consideramos um tanto
pertinentes: praxes – porquê e para quê? Praxes socializam ou ostracizam?
Porque há tanta resistência em mudar este panorama nas escolas de ensino (dito)
superior? A quem interessa prolongar este cenário – às associações de estudantes
ou à direção das escolas? Até quando se irá dar cobertura a este processo de
inserir na vida académica?
Atendendo
ainda à posição do ministro da tutela em combater as comissões de praxe, porque
têm estado caladas as associações estudantis e de praxe: será porque se deve a
ser da sua área ideológica? Fariam o mesmo se fosse proposto por outro
governante não da área? Ou será que a racionalidade tem cor – se não é da minha
não vale tanto como quando tem afeição e identificação com o que eu acho ou
julgo?
= Agora
que a educação pré-universitária está numa certa ‘paz dos anjos’ – não sem
sabendo quem manda ou quem obedece: se os sindicatos ou se o ministro – talvez
seja oportuno refletir sobre questões de humanismo que envolvem a formação
cultural… As praxes académicas precisam de mudar e todos devemos ter uma
posição. Urge, por isso, ser sério e sereno. Com tão pouco tempo para ‘fazer
doutores à maneira de Bolonha’ corremos o risco de andar entretidos com as
praxes e cortejos académicos e não haver tempo para estudar!
António
Sílvio Couto
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