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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Que felicidade entre os adolescentes?



Um estudo de âmbito mundial, envolvendo mais de 200 mil jovens, em 42 países da Europa e da América do Norte, revela que o fumo, o álcool, questões de saúde (obesidade e excesso de peso), problemas de desigualdade em razão do sexo… são questões de teor geral, enquanto nos rapazes se nota alguma propensão para brigas e consequentes lesões e nas raparigas revela-se alguma tendência a começarem a beber e a fumar cada vez mais cedo…

Embora estes estudos sejam algo generalistas, neles podemos encontrar aspetos e vertentes que revelam por onde anda o nosso futuro humano e cultural, na medida em que se está a semear o que muito em breve dará os seus frutos. Também é digno de ser referido que aquilo que se semeia é feito por quem hoje faz a escolha das sementes, bem como quem seleciona aquilo que se querer colher, tendo ainda em conta o modo como se prepara o terreno para que seja arroteado…

De facto, em muitas situações dos nossos dias – especialmente vemo-lo no nosso país – quem está em crise e à deriva são os adultos, muitos deles que eram adolescentes à ocasião da revolução do 25 de abril. Com efeito, alguma confusão moral – dir-se-ia quase duma certa amoral – foi semeado nesse tempo, trazendo hoje aos filhos e mesmo aos netos alguma perplexidade naquilo que tem de mais básico, isto é, nas questões dos valores e dos critérios de vida. Veja-se o trato dos problemas relacionados com a sexualidade, os temas da ética, as questões (pretensamente) fraturantes de género e de educação, de direitos, de liberdades e de garantias pessoais ou sociais, de assuntos laborais e políticos, etc.

Nestas situações tão diversas o que temos vindo a constatar é o desinteresse, a desmotivação e algum desleixo dos mais velhos, que se propagam – quase visceralmente – aos mais novos e que deixam em perigo o futuro da sociedade, enquanto corpo orgânico, estruturado e organizado, onde todos devem sentir os outros e interessarem-se, genuinamente, por eles. 

= Nota-se, no entanto, em quase todos os estudos e inquéritos, que se evita a abordagem ao tema da espiritualidade, ficando, na maior parte dos casos, reduzida a pessoa humana a elementos de natureza mais física e, nalgumas exceções, com breves resquícios de âmbito psicológico-emocional. Parece que há, por parte de alguns sectores intelectuais e (ditos) culturais, algum receio em tocar, mesmo que levemente, na dimensão mais específica humana: a sua espiritualidade. Embora haja quem considere que a vertente espiritual é, mesmo em caso de doença, um dos fatores de mais-valia para a enfrentar, aceitar e recuperar, há ainda correntes que se recusam, claramente, incluir na terapia da saúde a condição de espiritualidade da pessoa e da sua envolvência, familiar, hospitalar ou de sociedade… mesmo da Igreja!  

= Perante estas considerações e, tendo em conta, os dados do estudo supra citado, talvez seja urgente que saibamos investir na educação participativa dos adolescentes, tendo em conta as aspirações humanas, emocionais e espirituais, sem deixar de cuidar dos aspetos mais relevantes da sua construção na sociedade, que será deles a muito curto prazo.

. Não podemos continuar a deixar só à escola a educação para os valores éticos dos nossos adolescentes. Eles precisam de ser estimulados naquilo que têm de mais genuíno: o sonho de algo melhor, onde sejam intervenientes conscientes, ativos e criativos.

. Não podemos deixar que a sua felicidade (ou a mostra dela) se meça pela exibição de coisas (tlm, roupa, calçado, adereços e arrebiques), que causam ‘boa impressão’ nos outros, mas teremos de tentar cativá-los para ações em favor dos outros… e como são capazes, quando bem ajudados e orientados.

. Precisamos de lançar a semente de Deus nos nossos adolescentes, dando-lhes oportunidades de se fazerem um tanto felizes sem terem de chafurdar nos vícios e nas experiências que deixam marcas para o resto da vida… direta ou indiretamente.

Numa palavra: temos de ser pacientes para com os adolescentes, como outros o foram – à sua maneira – para connosco, quando fomos também adolescentes. Adultos amadurecidos, precisam-se!   
 

António Sílvio Couto



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