Um
estudo de âmbito mundial, envolvendo mais de 200 mil jovens, em 42 países da
Europa e da América do Norte, revela que o fumo, o álcool, questões de saúde
(obesidade e excesso de peso), problemas de desigualdade em razão do sexo… são
questões de teor geral, enquanto nos rapazes se nota alguma propensão para
brigas e consequentes lesões e nas raparigas revela-se alguma tendência a
começarem a beber e a fumar cada vez mais cedo…
Embora
estes estudos sejam algo generalistas, neles podemos encontrar aspetos e
vertentes que revelam por onde anda o nosso futuro humano e cultural, na medida
em que se está a semear o que muito em breve dará os seus frutos. Também é
digno de ser referido que aquilo que se semeia é feito por quem hoje faz a
escolha das sementes, bem como quem seleciona aquilo que se querer colher,
tendo ainda em conta o modo como se prepara o terreno para que seja arroteado…
De
facto, em muitas situações dos nossos dias – especialmente vemo-lo no nosso
país – quem está em crise e à deriva são os adultos, muitos deles que eram
adolescentes à ocasião da revolução do 25 de abril. Com efeito, alguma confusão
moral – dir-se-ia quase duma certa amoral – foi semeado nesse tempo, trazendo
hoje aos filhos e mesmo aos netos alguma perplexidade naquilo que tem de mais
básico, isto é, nas questões dos valores e dos critérios de vida. Veja-se o
trato dos problemas relacionados com a sexualidade, os temas da ética, as
questões (pretensamente) fraturantes de género e de educação, de direitos, de
liberdades e de garantias pessoais ou sociais, de assuntos laborais e
políticos, etc.
Nestas
situações tão diversas o que temos vindo a constatar é o desinteresse, a
desmotivação e algum desleixo dos mais velhos, que se propagam – quase visceralmente
– aos mais novos e que deixam em perigo o futuro da sociedade, enquanto corpo
orgânico, estruturado e organizado, onde todos devem sentir os outros e interessarem-se,
genuinamente, por eles.
=
Nota-se, no entanto, em quase todos os estudos e inquéritos, que se evita a
abordagem ao tema da espiritualidade, ficando, na maior parte dos casos,
reduzida a pessoa humana a elementos de natureza mais física e, nalgumas
exceções, com breves resquícios de âmbito psicológico-emocional. Parece que há,
por parte de alguns sectores intelectuais e (ditos) culturais, algum receio em
tocar, mesmo que levemente, na dimensão mais específica humana: a sua
espiritualidade. Embora haja quem considere que a vertente espiritual é, mesmo
em caso de doença, um dos fatores de mais-valia para a enfrentar, aceitar e
recuperar, há ainda correntes que se recusam, claramente, incluir na terapia da
saúde a condição de espiritualidade da pessoa e da sua envolvência, familiar,
hospitalar ou de sociedade… mesmo da Igreja!
= Perante
estas considerações e, tendo em conta, os dados do estudo supra citado, talvez
seja urgente que saibamos investir na educação participativa dos adolescentes,
tendo em conta as aspirações humanas, emocionais e espirituais, sem deixar de
cuidar dos aspetos mais relevantes da sua construção na sociedade, que será
deles a muito curto prazo.
. Não
podemos continuar a deixar só à escola a educação para os valores éticos dos
nossos adolescentes. Eles precisam de ser estimulados naquilo que têm de mais
genuíno: o sonho de algo melhor, onde sejam intervenientes conscientes, ativos
e criativos.
. Não
podemos deixar que a sua felicidade (ou a mostra dela) se meça pela exibição de
coisas (tlm, roupa, calçado, adereços e arrebiques), que causam ‘boa impressão’
nos outros, mas teremos de tentar cativá-los para ações em favor dos outros… e
como são capazes, quando bem ajudados e orientados.
.
Precisamos de lançar a semente de Deus nos nossos adolescentes, dando-lhes
oportunidades de se fazerem um tanto felizes sem terem de chafurdar nos vícios
e nas experiências que deixam marcas para o resto da vida… direta ou
indiretamente.
Numa
palavra: temos de ser pacientes para com os adolescentes, como outros o foram –
à sua maneira – para connosco, quando fomos também adolescentes. Adultos
amadurecidos, precisam-se!
António
Sílvio Couto
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