Quem ouviu certas perguntas ao escolhido substituto do ministro da cultura,
ficou com a sensação de que, alguém chamado a uma tarefa governativa, poderá
ter ‘as suas ideias’ que podem não estar focadas no (pretenso) programa onde se
vai inserir… Se tal acontecesse, o tal ‘governo’ seria uma soma de partes que
não se cosem umas com as outras… o que seria grave e perigoso… e para não mais
poder considerar-se uma espécie de manta-de-trapos sem nexo nem futuro…
Por outro lado, a confeção – sobretudo no atual elenco governativo – foi
resultado de múltiplas influências – internas e exteriores – e que poderão
funcionar enquanto não houver fricções mais significativas. Com efeito, o
‘poder’ catalisa até os mais desavindos, desde que possam reinar por breves
horas, dias ou meses… Mais vale ser ex-governante do que pretendente nunca
escolhido.
= Há, no entanto, na nossa vida política uma urgente necessidade de mudar
de comportamentos e de diretrizes, que até agora têm sido mais ou menos
reinantes. Bem sabemos que não é tradição na nossa ‘democracia’… embora tenha
algum significado nos países do norte da Europa… Não nos servimos sequer desse
– modelo nem título – dum tal programa entre o irónico e o anedótico que um
canal televisivo tem vindo a servir a certas horas da noite.
Referimo-nos a um projeto que devia ser implementado – para salvaguarda do
nosso futuro e dos ténues resquícios de democracia que ainda lampejam – no
nosso país como alternativa a quem ocupa as cadeiras ou gabinetes do poder…
muitas delas servidas mais por interesses de fação ou de corrente amordaçada
pelo partido reinante do que pela competência e boas práticas de preparação
para o cargo, que deve ser exercido com mérito e não como mediatização ou pagamento
de favores mais ou menos recentes…
= Já lá vai o tempo em que o chefe de governo tinha de saber de tudo e de
responder às mais diversas questões com a competência mínima. Nem os tais ‘cem
dias’ de estado de graça podem servir para estudar – superficial e
rudimentarmente – os dossiers que envolvem desde a economia até às finanças,
das situações de âmbito interno até aos problemas de alcance europeu, das
tricas e reivindicações de setores até aos conluios entre apaniguados e
adversários… na rua ou no parlamento…
Bastará ver o descalabro visto de interferências em matéria de contas –
umas arranjadas, outras alouradas e tantas outras corrigidas sem nexo nem
acerto… do orçamento e afins – para além das correções às erratas sob o
beneplácito do inquilino de Belém, que no seu jeito de criador de ‘bom-humor’
nacional (ou será nacionalista?) tenta evitar ser considerado obstáculo à
governação… mesmo que seja, num breve mês de exercício, mais fazedor de
palavras e boas intenções do que de ações…efetivas, que não pode por falta de
autoridade constitucional.
= A sugestão é simples: para cada área governativa deve haver um titular
bem preparado, conhecedor das matérias – e não como alguns arranjados à pressa
e sob anonimato de (bem) pensantes e ignotos executantes – marcando o ritmo e
apresentando alternativas… Podem e devem ter já a sua equipa de colaboradores –
futuros ou putativos secretários de estado – que os ajudarão a traduzir, na
prática, o que acham ser o melhor para tal teoria… se possível e necessário, amanhã!
Temos de saber com quem contamos para conseguirmos escolher entre quem diz
e faz ou quem acha que diz, propõe e tenta, mas que não sabe fazer… O país não
pode continuar ao sabor das lamúrias de uns tantos, que se calam, quando os
seus adeptos atingem o poder. O país não pode viver amarrado à ideologia de há
quarenta anos e, entretanto, caíram muros e foram derrubadas peias de
coletivismo atávico e rançoso…noutras latitudes.
Nem as loas sobre vitórias que se esboroam com as promessas em ‘economias
(ditas) emergentes’ podem servir para que não tentemos uma nova forma de cuidar
do nosso país…sempre atrasado no contexto europeu, mas pedinte de favores
quando os governantes se mostram incompetentes e fogem na hora da
verdade…embora com sinais evidentes de riqueza pessoal/familiar.
António
Sílvio Couto
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