No quadro da nossa vida pública – política, social, económica, financeira,
religiosa ou mesmo comunicacional – vemos surgirem pessoas cujo ego de tão
inchado com que se apresenta como que ofusca quem com elas se cruza ou tem de
contatar, com quem se trabalha ou tem de conviver.
Por estes dias tive de estar num encontro – por sinal no âmbito religioso –
em que as façanhas do interlocutor eram de tal forma imensas – centenas de
encontros, ‘retiros’, quilómetros em vários países e continentes, declarações
(bem) abonatórias de bispos e outros – que qualquer mísero terráqueo – como eu
– se sentiria esmagado… Este acontecimento já tem semanas… por isso, foi-me um
tanto difícil de digerir tanta gabarolice… Explicando o termo: ato ou ação, direta
ou indireta de se fazer mais importante do que os outros, mesmo que usando-os
em seu proveito… podendo se entendido também como fanfarronice…
= Mutatis mutandis, isto é, por comparação, vemos que, na vida política
(parlamentar ou social), certos grupos partidários, que se acham tão
imprescindíveis naquilo que dizem ou fazem se podem ir tornando numa espécie de
gabarolice ao desbarato… Sabe-se lá com que consequências!
O mais recente dos episódios foi a pretensão em fazer mudar a designação de
‘cidadão’ para ‘cidadania’, tentando criar – segundo dizem – alguma igualdade
de género, pois, ao que parece ‘cidadão’ soa demasiado a masculino e
‘cidadania’ seria mais abrangente e (pretensamente) inclusivo… nas suas
leituras!
Será que fizeram as contas aos custos de tal mudança? O que traz isso de
igualitário e não de discriminatório? Até onde iria a razão dessa pretensão –
lojas e espaços de atendimento, cartões emitidos, identidades a acertar?
Esta iniciativa não foi mais uma, de algumas já intentadas, para fazer
distrair o povo doutros negócios de bastidores? Até onde irá a paciência para
com tais ‘fazedores’ de distrações, quando há assuntos bem mais importantes na
vida, realmente dura, das pessoas? Não será que o cheiro do poder chamusca
muitos/as dos intrépidos defensores da liberdade, se não for da sua coloração?
= Vivemos num tempo onde pequenos detalhes podem revestir de significado
tanto aquilo que se diz como até o que se deseja fazer. Com que velocidade se
difundem menos boas declarações – veja-se o episódio das desejadas bofetadas do
ministro demissionário, comentários inconvenientes ou precipitados de figuras
com responsabilidade, intervenções quase insignificantes, que facilmente se
podem tornar – como agora se diz – virais e corrosivas…
Nisto que referimos e muito mais daquilo que nos passa pela mente há uma
razoável superficialidade, onde a falta de tino se pode conjugar com alguma
precipitação… tanto ou mais perigosa quando se conjugam interesses de grupo – a
favor ou contra – e numa (dita) opinião pública facilmente manipulada…
= Porque acreditamos acima de tudo na verdade e nas consequências de a
servirmos desinteressadamente, parece que o culto da gabarolice denota que
estamos numa época de crise acentuada, onde os valores humanos e éticos/morais
precisam de ser ensinados, educados e cultivados. Neste sentido acreditamos que
só a Verdade nos fará realmente livres: nada de exageros nem por excesso nem
por defeito, pois a verdadeira verdade – desculpando esta espécie de
redundância – não nos permite vivermos para além daquilo que somos com todos os
defeitos, qualidades e dons… em favor dos outros.
Gabarolice, assim, não, obrigado!
António
Sílvio Couto
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