Dizem os
noticiadores – isto é, os que fazem e fornecem as notícias, que é muito mais do
que os factos reais – que os hotéis da capital e do norte do país estão
esgotados para as ‘férias da Páscoa’… com nacionais e estrangeiros, numa
simbiose de interesses e de sucessos.
Sobre
este fenómeno crescente de ‘férias’ por ocasião da Páscoa, poderemos elencar
algumas questões: isto significa que se está a criar uma nova onda de
recuperação económica ou está-se a lançar mais um estado de descontração
psicológica? Tenta-se arranjar distrações humanas e ‘culturais’ ou divergem-se
as fontes de ocupação do tempo, quando Deus pode não ter espaço nem
oportunidade? Estar-se-á a fazer uma cultura sem culto ou a gerir um culto à
revelia duma certa cultura cristã?
Num
mundo algo atemorizado com manifestações de terrorismo em várias latitudes e
confrontos, este nosso país ainda vai usufruindo dalguma pacatez, servindo
quase de alternativa a outros destinos mais apetecíveis, mas, por agora, perigosos.
Até a confusão político-social do Brasil se conjuga para que as nossas terras
sirvam de refúgio para os mais acautelados…
Dizem
que os mais díspares espaços de lazer (com praias incluídas) estão preenchidos
quase na totalidade, tanto dentro como fora do país… Parece que não há crise
nem as contenções mínimas têm lugar para uma razoável maioria… de cidadãos
normais.
=
Certamente todos sabemos como se calcula a data da celebração da Páscoa, em
contexto católico! Recordamos: ocorre no primeiro domingo depois da lua cheia
após o equinócio da primavera (no hemisfério norte)…tendo como data mínima o
dia 22 de março e como máxima o dia 25 de abril. Por isso, se verifica a
variação e as contingências climatéricas, aliadas às razões mais ou menos
espirituais, sociais, culturais e/ou circunstâncias de cada lugar ou em cada
tempo.
Com que
facilidade vemos surgirem simbologias que se referem à vida, como os ovos
(pintados ou com outros adereços e significações), pululam coelhos…numa
representação da vida nova e da fertilidade. Outros símbolos configuram uma
leitura mais religiosa, como o cordeiro – numa alusão ao ‘cordeiro pascal’ da
páscoa judaica – e até como elemento de culinária; também as velas – círio
pascal ou velas batismais – nos fornecem elementos de reflexão e com conteúdo
espiritual… Até mesmos as doçarias têm algo a ver com a festa e a
confraternização humana… Poderemos ainda incluir na lista de símbolos pascais,
com incidência mais cristã, a cruz – sobretudo florida, sinal de amor e de
ressurreição – pão e vinho, bem como outros sinais de conteúdo cristão e
católico em particular…
= Por
agora vamos sentindo uma nota de algum afastamento das pessoas (ditas)
praticantes da sua fé, sobretudo, em contexto de vida paroquial mais ou menos
habitual. Por estes dias um senhor bispo até referiu que a páscoa não se pode
reduzir a amêndoas e folares!...
Tudo
isto soaria a prevenção, se as pessoas escutassem as advertências, mas como uma
parte significativa vive ao seu ritmo religioso, escutando mais as memórias de
experiências passadas do que se deixa conduzir pelo compromisso de vida cristã
comunitária, vemos esvaziarem-se as paróquias, escoarem-se os mais novos,
inventarem-se ocupações e diversões… para estes dias, que deveriam ser
fundamentais para celebração da Vida em Cristo na Igreja.
Deixamos,
por isso, algumas inquietações sobre se a celebração da Páscoa, este ano em
particular, é para celebrar a Vida – a de Jesus por nós e a nossa de uns pelos
outros – ou se preferimos gozar a vida, mais como vidinha imediata e hedonista
– mesmo que nos fervores religiosos mais ou menos individuais e talvez egoístas
– que vai dando sinais complicados e delicados.
E, se de
repente, tivéssemos de mudar os nossos projetos pessoais, se algo de grave
acontecesse, como uma calamidade, um atentado terrorista, um acidente, uma
doença… Talvez ao vermos isso ao perto ou ao longe tenhamos de questionar-nos
muito mais do que, habitualmente, fazemos.
Celebrar
a Páscoa é, essencialmente, celebrar a vida como dom e como mistério!
António Sílvio Couto
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