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segunda-feira, 18 de abril de 2016

‘Tchau, querida’!


Antes, durante e depois do processo de impugnação e destituição – lá, no Brasil, dizem à inglesa: ‘impeachment’ – à presidenta local, vimos escrita a expressão: ‘tchau, querida’… querendo significar a tentativa (em breve ou mais tarde) de despedida da dita, usando uma outra frase dum telefonema do seu antecessor no cargo e como pretenso colaborador… numa tentativa de imunidade à justiça.

Quem tenha podido – mesmo por alguns minutos – ver o espetáculo da votação pode ter percebido o ambiente crispado – como se diz cá pela nossa realidade – em que tudo e muito mais estava a ser vivido. De facto, foi uma espécie de ambiente bastante teatral aquele que nos era fornecido lá do outro lado do Atlântico…por horas e horas a fio.

Muito para além do resultado – 367 a favor e 137 contra o processo de impugnação/destituição – feito um a um em alta voz de todos os deputados, podem ser dignas de registo algumas das expressões usadas, evocando e invocando Deus, lembrando e memorizando a família (humana e política), enterrando e ressuscitando fantasmas do coletivo brasileiro, aplaudindo ou apupando os intervenientes a favor ou contra, recriando um ambiente mais de futebol e de carnaval – no interior e no exterior da sala de sessões – e, sobretudo, dramatizando o presente e lançando suspeitas sobre o futuro… próximo ou a médio prazo. 

= Perante tudo isto que vimos e ouvimos, fica-nos a sensação de que algo vai menos bem no reino alicerçado no ‘grito de Ipiranga’. A luta contra a corrupção – que atinge (na investigação e na acusação) mais de 60% dos deputados em exercício – foi uma espécie de labéu para conduzir todo este processo, que está muito longe de estar concluído com algum resultado aceitável e vinculativo… Sobre a visada neste processo diga-se que lhe chamam ‘pedaladas fiscais’ em que eram incluídas nas contas públicas adiantamentos de créditos pelos bancos para o financiamento de programas sociais e com a inserção desses dados no orçamento de estado… e tudo isso feito sem autorização do congresso nacional! 

= Esta nova forma de enredo de telenovela vem prendendo a atenção dos europeus e como que nos coloca, desde já, certas questões que poderão ser integradas na nossa vida político-partidária.

Parece que se acentua, neste lado oriental do Atlântico, uma tendência a descortinar os vários componentes entre a vida política e os negócios económico-financeiros. Repare-se no afã com que os atuais governantes portugueses – trazendo à liça o novel e truculento presidente da república – tentam interferir nas prestações de contas dos bancos – numa semana tecem-se loas à boa prestação dos seus trabalhos e dos seus assessores e dias depois encolhem-se os mesmos perante os retrocessos das ‘vitórias pírricas’ com que se vangloriavam…

Nuns casos dizem-se intrépidos defensores dos incautos cidadãos – escondendo até onde podem as decisões que têm de ser tomadas a gosto ou contra vontade – e, quais cordeirinhos mansos e gatos domesticados, terão de seguir as diretrizes daqueles que sustentam a nossa economia e nos fornecem as receitas para sustentar as despesas do estado e de seus milhentos servidores… a médio prazo. Será que a austeridade foi mal traduzida pelos intérpretes de circunstância? Quem engana quem e até quando? 

= Por certo que não iremos seguir o guião brasileiro para cuidar dos nossos problemas. Por certo que já aprendemos que é com trabalho que se faz o sucesso e se gera riqueza. Por certo que a nossa bandeira é verde/rubra e não se deixa substituir por qualquer símbolo clubístico. Por certo que estamos numa Europa de nações livres e responsáveis pelos seus desígnios mais profundos de séculos de história e de memória. Por certo diremos à querida democracia que ela não vale mais do que ser um método de escolha e de governação, mas onde as minorias têm de saber respeitar as decisões das maiorias…que mudam tão depressa!

‘Tchau, querida’ bem-falante e reivindicativa, mas as tuas seduções não dão segurança com temas fraturantes e diversões de ocasião… ‘Tchau, querida’, mas simplesmente – mesmo que vinda doutras paragens mais bem-pagas – não consegues convencer quem recebe, ilusoriamente, mais no princípio do mês, mas no final fica com menos nas economias e com mais desilusões…

Lá como cá, os servidores de enredos simplistas também caem nas teias que fomentam e tecem…Cuidem-se!           

 

António Sílvio Couto

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