Antes,
durante e depois do processo de impugnação e destituição – lá, no Brasil, dizem
à inglesa: ‘impeachment’ – à presidenta local, vimos escrita a expressão:
‘tchau, querida’… querendo significar a tentativa (em breve ou mais tarde) de
despedida da dita, usando uma outra frase dum telefonema do seu antecessor no
cargo e como pretenso colaborador… numa tentativa de imunidade à justiça.
Quem
tenha podido – mesmo por alguns minutos – ver o espetáculo da votação pode ter
percebido o ambiente crispado – como se diz cá pela nossa realidade – em que
tudo e muito mais estava a ser vivido. De facto, foi uma espécie de ambiente bastante
teatral aquele que nos era fornecido lá do outro lado do Atlântico…por horas e
horas a fio.
Muito
para além do resultado – 367 a favor e 137 contra o processo de
impugnação/destituição – feito um a um em alta voz de todos os deputados, podem
ser dignas de registo algumas das expressões usadas, evocando e invocando Deus,
lembrando e memorizando a família (humana e política), enterrando e
ressuscitando fantasmas do coletivo brasileiro, aplaudindo ou apupando os
intervenientes a favor ou contra, recriando um ambiente mais de futebol e de
carnaval – no interior e no exterior da sala de sessões – e, sobretudo, dramatizando
o presente e lançando suspeitas sobre o futuro… próximo ou a médio prazo.
=
Perante tudo isto que vimos e ouvimos, fica-nos a sensação de que algo vai
menos bem no reino alicerçado no ‘grito de Ipiranga’. A luta contra a corrupção
– que atinge (na investigação e na acusação) mais de 60% dos deputados em
exercício – foi uma espécie de labéu para conduzir todo este processo, que está
muito longe de estar concluído com algum resultado aceitável e vinculativo… Sobre
a visada neste processo diga-se que lhe chamam ‘pedaladas fiscais’ em que eram
incluídas nas contas públicas adiantamentos de créditos pelos bancos para o
financiamento de programas sociais e com a inserção desses dados no orçamento
de estado… e tudo isso feito sem autorização do congresso nacional!
= Esta
nova forma de enredo de telenovela vem prendendo a atenção dos europeus e como
que nos coloca, desde já, certas questões que poderão ser integradas na nossa
vida político-partidária.
Parece
que se acentua, neste lado oriental do Atlântico, uma tendência a descortinar
os vários componentes entre a vida política e os negócios
económico-financeiros. Repare-se no afã com que os atuais governantes
portugueses – trazendo à liça o novel e truculento presidente da república –
tentam interferir nas prestações de contas dos bancos – numa semana tecem-se
loas à boa prestação dos seus trabalhos e dos seus assessores e dias depois
encolhem-se os mesmos perante os retrocessos das ‘vitórias pírricas’ com que se
vangloriavam…
Nuns
casos dizem-se intrépidos defensores dos incautos cidadãos – escondendo até
onde podem as decisões que têm de ser tomadas a gosto ou contra vontade – e,
quais cordeirinhos mansos e gatos domesticados, terão de seguir as diretrizes
daqueles que sustentam a nossa economia e nos fornecem as receitas para
sustentar as despesas do estado e de seus milhentos servidores… a médio prazo.
Será que a austeridade foi mal traduzida pelos intérpretes de circunstância?
Quem engana quem e até quando?
= Por
certo que não iremos seguir o guião brasileiro para cuidar dos nossos
problemas. Por certo que já aprendemos que é com trabalho que se faz o sucesso
e se gera riqueza. Por certo que a nossa bandeira é verde/rubra e não se deixa
substituir por qualquer símbolo clubístico. Por certo que estamos numa Europa
de nações livres e responsáveis pelos seus desígnios mais profundos de séculos
de história e de memória. Por certo diremos à querida democracia que ela não
vale mais do que ser um método de escolha e de governação, mas onde as minorias
têm de saber respeitar as decisões das maiorias…que mudam tão depressa!
‘Tchau,
querida’ bem-falante e reivindicativa, mas as tuas seduções não dão segurança
com temas fraturantes e diversões de ocasião… ‘Tchau, querida’, mas
simplesmente – mesmo que vinda doutras paragens mais bem-pagas – não consegues
convencer quem recebe, ilusoriamente, mais no princípio do mês, mas no final
fica com menos nas economias e com mais desilusões…
Lá como
cá, os servidores de enredos simplistas também caem nas teias que fomentam e
tecem…Cuidem-se!
António
Sílvio Couto
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