Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sábado, 28 de novembro de 2020

Eutanasiados pela vacina?

 


Causou alguma perplexidade uma espécie de ‘fake new’: os mais velhos iriam ficar fora das prioridades no (possível) plano de vacinação em Portugal. Isto que parecia uma parte de um relatório preliminar como que se converteu rapidamente em algo alarmista, embora não muito bem fundamentado…

Se, noutros países, os mais velhos – superiores a 75 anos – constavam do topo da lista para a vacinação, por cá as razões pareciam ser as contrárias: está (ou estava) por demonstrar a eficácia das vacinas naquela idade, até porque não terão sido feitos testes – suficientes e convincentes – abrangendo tal setor da população.

Se a confusão trazida pelo ‘covid-19’ era grande, agora transformava-se noutro assunto ainda mais agravado. Diz-se por aí que esta coisa da pandemia ‘deu a volta à moleirinha’ de muita gente, isto é, confundiu as ideias onde as havia e turvou os pensamentos naqueles que os cultivavam…

A catadupa de episódios deste mega-acontecimento em que se converteu a pandemia do vírus fatal, far-nos-á corar de vergonha quando, daqui a uns tempos, analisarmos o que dissemos, o que fizemos e, sobretudo, o que não dissemos nem fizemos…correta e sensatamente.

Deixo alguns flashes para uma possível avaliação com mais serenidade, racionalidade e compostura… daqui a uns tempos:

* Aquele irrisório e bacoco cartaz tão difundido e quão pífio: ‘vai ficar tudo bem’, ainda por cima com o recurso a umas cores a fazerem lembrar outras lutas e piores diatribes…tornar-se-á a vergonha de quem dele se serviu para se autoiludir, ludibriando os outros. Não, não vai ficar tudo bem ou, então, seremos uns grandessíssimos irresponsáveis, se não tivermos visto e feito o que devemos e que vai ter mesmo de mudar, desde as coisas mais básicas de higienização até às mais complexas de convívio social.

* Teremos de reconhecer que há pessoas suficientemente oportunistas em tanto deste processo de pandemia em curso, na medida em que voltaram a discutir e contumazmente aprovaram a legislação facultativa da eutanásia. Isto é de pessoas que colocam o essencial no seu devido lugar ou que, pelo contrário, brincam com as circunstâncias para prosseguirem os seus intentos? O calendário ideológico não foi capaz de se conter tanto na forma, como no conteúdo, desde que consigam enganar os incautos… 

* O põe-e-tira da máscara fora ou dentro de espaços cobertos, com pessoas ou a sós, na conversa ou às refeições, nas missas ou na ida às compras…Dizem que resguarda, mas será que resulta? Dizem que evita contágios, mas será que é eficiente? Uns tantos/as mais fundamentalistas contestam o uso da máscara, mas podem ter de responder perante a justiça se se comprovar que foram causadores de difusão do vírus.

* Há um assunto neste campo pandémico em que me questiono com alguma preocupação: se alguns desses apelidados ‘negacionistas da covid-19’ – aqueles que negam o que há de nefasto provocado por este vírus, rejeitando o confinamento e outras medidas – adoecerem, precisando de tratamento hospitalar, terão o mesmo atendimento que outros não contestatários? Será justo que, não tendo cumprido as regras sanitárias, possam usufruir de idêntico cuidado, podendo até terem sido difusores do contágio? Será que deveremos ser corretos com quem foi, no mínimo, incorreto e/ou imprudente?

 

= O processo para a vacinação precisa, agora, de ser devidamente delineado, sem colocar ninguém de fora. Se aquela corrente de ideias – dado que de pensamento poderia ter outra qualificação – de deixar os mais velhos fora das prioridades avançasse, não estaríamos a praticar uma eutanásia social sem pedido? Se tal acontecesse a vacina poder-se-ia tornar uma arma dos mais fortes sobre os mais fragilizados ou, porque não, dos mais ricos sobre os mais empobrecidos…Mais do que estarmos todos no mesmo barco – alguns não sabem nadar – estamos envolvidos nas mesmas circunstâncias, onde todos somos pessoas com direitos e deveres iguais, cuidando e sendo cuidados com carinho e ternura, mais por humanismo do que por conveniência. Afinal, estamos irmanados na desgraça. Que o sejamos também na vitória contra as forças malignas!    

 

António Sílvio Couto

 

Sem comentários:

Enviar um comentário