De 1 a 8 de novembro está a decorrer, em Portugal, a ‘semana dos seminários’, subordinada ao tema: ‘Jesus chamou os que queria e foram ter com Ele’ (Mc 3, 13).
Na
mensagem para esta semana dos seminários escreveu o Bispo responsável da
Comissão episcopal das vocações e ministérios: «o chamamento que o Senhor fez então, continua a
fazê-lo nos nossos dias. Trata-se de uma escolha livre, uma eleição
surpreendente, puro dom da graça divina e não resultado dos méritos ou
propósitos humanos. A vocação sacerdotal é, de facto, da ordem do mistério, do
mistério da liberdade divina que se entrelaça com a liberdade do homem (...). A
opção pela vida sacerdotal com o pedido de ingresso ao seminário, exige hoje,
porventura mais do que noutras épocas, uma fé corajosa. Numa cultura que
promove o provisório e induz ao experimentalismo, uma opção de tal radicalidade
supõe uma fé capaz de arriscar, uma fé consciente de que é preciso deixar
algumas pedras preciosas porque se encontrou o verdadeiro tesouro».
Centrando a sua mensagem em três palavras – gratidão, compromisso e esperança –
o bispo de Vila Real, explica-as: «damos graças a Deus porque continua a chamar
alguns para serem pastores do seu povo e por todos os jovens e adultos que
souberam escutar e responder com generosidade, fazendo parte das comunidades
dos vários seminários do país. Gratidão é devida também às equipas formadoras
dos seminários e a todos os professores e colaboradores que se empenham na
exigente tarefa de formar pastores».
Sobre o compromisso refere: «o compromisso de todos para com o seminário é
indispensável para que ele cumpra a sua missão. Essa responsabilidade é pedida,
antes de mais, ao clero chamado a assumir o seu papel no processo formativo e a
manifestar solicitude, comunhão e proximidade para com o seminário. Também às
famílias e comunidades cristãs se pede que tenham consciência da importância do
seu apoio e acompanhamento aos seminaristas».
Por último sobre a esperança acentua que «é o sentimento que pode crescer em
nós com a celebração desta semana. Ela funda-se na convicção de que Deus não
abandona o seu povo mas, pela ação do Espírito, renova sempre a vida da Igreja
e lhe abre caminhos novos».
Aquilo que, desde tenra idade, ouvi designar por ‘coração da diocese’, que é o Seminário, precisa de homens sábios, santos e bem formados para prosseguirem esta tarefa de cuidar da Igreja de amanhã, parafraseando, por contraste, uma frase lida: escutando o Céu, olhando a Terra!
= Deixo agora, em jeito de testemunho, o que escrevi, há cerca de dois anos:
«Sair de casa aos dez anos – procurando concretizar o sonho de vir a ser padre, fui para o seminário com dez anos, a 5 de outubro de 1969. Esta opção exigiu da família sacrifícios, tendo a minha mãe posto na penhora o cordão em ouro, que era a honraria e resguardo de qualquer mulher no contexto rural, por forma a conseguir angariar os meios suficientes para preencher o enxoval obrigatório para entrar no seminário… Simbolicamente o meu número da roupa era o ‘60’, que minha mãe aprendeu a bordar nas várias peças de roupa…
(…) Ver nos outros como não fazer – com o desenrolar do tempo de preparação para o exercício do ministério sacerdotal fui-me apercebendo do significado da frase: que padre quero ser? Com efeito, via nos que já eram padres certas coisas que achava pouco adequadas à identidade sacerdotal. Se havia no meu imaginário um modo de ser, notava que outro tanto rejeitava o que não queria ser assim. Não havia conflito, mas antes um desejo de não querer usufruir dum estatuto social, quando o que era (ou viria a ser) somente tinha sentido pela vocação acolhida, aceite e correspondida…Nessa época – década de 80 – como que se vivia uma espécie de rejeição às fardas…não podemos esquecer que estávamos no rescaldo da revolução de abril e na tentativa de implementar as normas saídas do concílio Vaticano II. Deste modo muito poucos usavam o colarinho eclesiástico, nem mesmo uma boa parte dos superiores… Foi um modo de estar, que apreendemos…naturalmente!» (Remar e cavar…hoje como ontem, Prior Velho, Paulinas, 2018, pp. 140 e 143).
Neste pequeno excerto somente desejo exprimir gratidão para com quem me ajudou a ser algo que sou!
António Sílvio Couto
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