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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Deus continua a estar longe?


 ‘Onde estava Deus nesses dias’ do holocausto? – perguntou o Papa de origem alemã, Bento XVI, quando visitou o campo de extermínio de Auschwitz, na Polónia, no dia 26 de maio de 2006.

Diante deste questionamento, perguntamos agora nós: Deus continua a estar longe neste tempo de pandemia? Ou fomos nós que nos pusemos de fora, colocando-O longe? Tal como naquele passado, Deus estará fora de tudo isto? Ou estará tão perto que nem O vemos por incapacidade e negligência?

Há algo de muito grave em muitos dos momentos de leitura, de apreciação e de compreensão desta vaga pandémica que nos envolve mais intensamente desde março passado. As referências a Deus situam-se entre o ténue e o quase inexistente. Em contraste com outras épocas em que as epidemias, as pestes e muitas das doenças com incidência social eram lidas como ‘castigo’ divino, agora nada disso nos incomoda e tão pouco perpassa pela mente ou pelas palavras dos responsáveis…até eclesiásticos.

 = As forças ‘científicas’ vão dando resposta às questões, misturando coisas do passado, ludibriando o presente e envenenando o futuro. As entidades políticas vão gerindo alguns dos problemas que tentam gerar, embora sem arte nem engenho. Os mentores sanitários – quais gurus da nova época – vão titubeando entre os efeitos e confundindo as causas, sem saberem ler previdentemente as consequências. Os comunicadores parecem andar mais em busca de escândalos do que centrados em dizerem o que acontece, infletindo a necessária autonomia de não-tomarem posição naquilo que pretendem que outros conheçam. Com subtil esperteza poderemos questionar se não haverá interesses não-declarados em tantos dos momentos, das situações e dos casos em que o ‘covid-19’ se tem tornado sujeito de ação e não só parceiro de preocupação…

- Será que as razões desta pandemia são resultado da sofreguidão do capitalismo ou consequência enviesada de alguma experiência falhada do comunismo chinês?

- Com a facilidade com que se propaga não será mais um vírus biológico do que meramente social?

- A avaliar pelos resultados no mundo ocidental não estaremos a pagar uma fatura de excesso de confiança em vez de uma consciencialização da nossa coletiva fragilidade?

- A pandemia do medo não fará mais vítimas do que a infeção da doença?

- Porque será que ainda não houve uma alusão ao castigo de Deus pelas nossas tropelias fora dos seus mandamentos?

- Haverá assim tanto receio de confundir leitura cristã com fundamentalismo mais radical?

- Onde estão os intérpretes simples, serenos e sinceros dos sinais dos tempos?

 = Tendo em conta a grande evolução da medicina perfilam-se no horizonte várias vacinas para combaterem esta praga do ‘covid-19’. Percebem-se vários laboratórios com a descoberta mais eficaz: uns dão garantia de maior sucesso; outros facilitam a cura mais rápida; outros tentam cativar com o melhor preço…mas a confusão é generalizada, embora a ansiedade seja ainda mais clamorosa.

Ainda antes que aconteça a receção da cura, há pequenos-grandes casos que deveriam merecer a nossa reflexão mais atenta, pois, em certos acontecimentos, poderemos estar perante mudanças culturais acentuadas… e, porque rápidas, ainda não assimiladas…conscientemente. De facto, a proliferação de restaurantes – percetível pela reclamação em maré de calamidade – pode denotar o fracasso da família como espaço de partilha de vida, dado que até a simples refeição deixou de ter lugar na pretensa vida em comum. Poderemos estar diante da degeneração de uma faceta constitutiva da vida familiar, tornada menos essencial para construir o lar, pois já não há lareira onde se cozinha ou aquece a casa. Não estaremos a pagar a fatura do excesso de exposição da família num contexto de banalização nas relações humanas? Não seria de aproveitar esta maré de confinamento para refletirmos sobre quem somos, mais do que reclamarmos daquilo que não temos ou que vimos a gerir mal?

Porque acredito que nada aconteça sem que disso Deus sabe tirar proveito, continuo em grande busca para entender o que este vírus nos traz de linguagem divina…        

 

António Sílvio Couto

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