‘Onde estava Deus nesses dias’ do holocausto? – perguntou o Papa de origem alemã, Bento XVI, quando visitou o campo de extermínio de Auschwitz, na Polónia, no dia 26 de maio de 2006.
Diante
deste questionamento, perguntamos agora nós: Deus continua a estar longe neste
tempo de pandemia? Ou fomos nós que nos pusemos de fora, colocando-O longe? Tal
como naquele passado, Deus estará fora de tudo isto? Ou estará tão perto que
nem O vemos por incapacidade e negligência?
Há algo
de muito grave em muitos dos momentos de leitura, de apreciação e de
compreensão desta vaga pandémica que nos envolve mais intensamente desde março
passado. As referências a Deus situam-se entre o ténue e o quase inexistente.
Em contraste com outras épocas em que as epidemias, as pestes e muitas das doenças
com incidência social eram lidas como ‘castigo’ divino, agora nada disso nos
incomoda e tão pouco perpassa pela mente ou pelas palavras dos responsáveis…até
eclesiásticos.
- Será
que as razões desta pandemia são resultado da sofreguidão do capitalismo ou
consequência enviesada de alguma experiência falhada do comunismo chinês?
- Com a
facilidade com que se propaga não será mais um vírus biológico do que meramente
social?
- A
avaliar pelos resultados no mundo ocidental não estaremos a pagar uma fatura de
excesso de confiança em vez de uma consciencialização da nossa coletiva
fragilidade?
- A
pandemia do medo não fará mais vítimas do que a infeção da doença?
- Porque
será que ainda não houve uma alusão ao castigo de Deus pelas nossas tropelias
fora dos seus mandamentos?
- Haverá
assim tanto receio de confundir leitura cristã com fundamentalismo mais
radical?
- Onde
estão os intérpretes simples, serenos e sinceros dos sinais dos tempos?
Ainda
antes que aconteça a receção da cura, há pequenos-grandes casos que deveriam
merecer a nossa reflexão mais atenta, pois, em certos acontecimentos, poderemos
estar perante mudanças culturais acentuadas… e, porque rápidas, ainda não
assimiladas…conscientemente. De facto, a proliferação de restaurantes –
percetível pela reclamação em maré de calamidade – pode denotar o fracasso da
família como espaço de partilha de vida, dado que até a simples refeição deixou
de ter lugar na pretensa vida em comum. Poderemos estar diante da degeneração
de uma faceta constitutiva da vida familiar, tornada menos essencial para
construir o lar, pois já não há lareira onde se cozinha ou aquece a casa. Não
estaremos a pagar a fatura do excesso de exposição da família num contexto de
banalização nas relações humanas? Não seria de aproveitar esta maré de confinamento
para refletirmos sobre quem somos, mais do que reclamarmos daquilo que não
temos ou que vimos a gerir mal?
Porque
acredito que nada aconteça sem que disso Deus sabe tirar proveito, continuo em
grande busca para entender o que este vírus nos traz de linguagem divina…
António Sílvio Couto
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