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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Dos ‘burros’ azuis às farpas vermelhas


Têm estado a decorrer as eleições nos EUA, vislumbrando-se nos resultados a vitória de uma das partes dos eleitores. Naquilo que se consegue perceber, a dicotomia: ‘burro’ – azul – democratas; ‘elefante’ – vermelho – republicanos na designação da política nos Estados Unidos da América reporta-se ao último quartel do século dezoito, por ocasião das primeiras eleições presidenciais. Um candidato democrata era tão pouco dotado de inteligência que o rotularam de ‘burro’ e ele aceitou o epíteto e a figura, tal como os seus apaniguados. Por seu turno, a simbologia do ‘elefante’ é um aproveitamento pelos republicanos para resumir a mobilização em tempos da guerra civil… Tudo isto foi ‘imortalizado’ por um cartoonista da época, estendendo-se o tema até aos nossos dias.
Algo de muito especial parece verificar-se no tecido da nossa classe política, pois, nem sempre as palavras têm o mesmo sentido denotativo, quando são proferidas por figuras de um ou de outro dos lados da barricada partidária. Numa leitura um tanto simplista trago à colação uma observação da vida: será mera coincidência ou terá algum significado que as indicações – pelo menos nas que conheço – das torneiras apontem o ‘azul’ para a água fria e o ‘vermelho’ para a água quente? Ou será que estas designações estão tão anquilosadas, ao menos no sentido político dos termos, que mais merecem pena do que compreensão? Isto de ‘direita’ ou de ‘esquerda’, azul ou vermelho, terá, então, o alcance que cada lhe quiser dar ou, conforme, a tradição precisam de ser aferidos, refletidos e modificados para que não caiamos no ridículo, já e mais tarde?

= Ora, foi trazido à discussão – mais como fait-divers do que como assunto sério e com conteúdo – um acordo de incidência parlamentar regional entre um dos partidos do (dito) arco da governação (ou da alternância nela) e uma formação mais recente com alguma expressão de arremedo do que com significado relevante. Da tribuna solene da inquisição de alguma esquerda, o chefe do governo logo invetivou os intervenientes, pois os já habituais nas tarefas governativas teriam aberto a porta a uma agremiação ‘xenófoba, populista, de extrema-direita’ e mais uns tantos epítetos de descrença no futuro próximo… pessoal, social e político!
- Não deixa de ser significativo que alguns dos nossos políticos profissionais, dizendo-se  democratas, se comportam como razoáveis ditadores, parafraseando a frase do rei francês do século dezassete: ‘l´État c’ est moi’ (o estado sou eu), querendo dizer: ‘o democrata sou eu’, os outros são tudo (e o resto) que não isso…
- No artigo oitavo da ‘lei dos partidos políticos’ diz-se: «não são consentidos partidos políticos armados nem de tipo militar, militarizados ou paramilitares, nem partidos racistas ou que perfilhem a ideologia fascista». É, por isso, esquisito este clima de sobranceria com que alguns mentores, fazedores e profissionais políticos olham para aqueles que não pensam como eles, nem pela forma com entendem as questões de forma plural, pois só eles são donos da verdade …se for a sua!
Quem investiu ou reconhece o chefe do governo como juiz das formações partidárias, isso não compete ao tal tribunal constitucional, que reconheceu as agremiações em curso? Quem são estes críticos agora quando já fizeram coisa idêntica antes e qual a cobertura que lhes é dada pela maioria de comunicação social com arremedos de um certo esquerdismo saudosista?
- Nota-se que, no nosso subdesenvolvimento cultural, cívico e político, precisamos de refletir mais sobre o essencial, deixando de andarmos entretidos com questiúnculas de lana-caprina, tentando disfarçar a nossa incompetência em assuntos de relevo, mas prendendo-nos a ataques de baixa qualidade e em diatribes de má-fé. Os quase cinquenta anos de democracia ainda escondem tiques ressabiados de perseguidos de antanho à mistura com intentos de transferirem para cá esquemas que deram tão mau resultados noutras paragens…

Quando aprenderemos a sermos portugueses na Europa e europeus numa cultura ocidental com matriz judaico-cristã? Quando assumiremos que temos uma história construída mais em princípios e valores de índole espiritual do que em utopias que roçam a dialética marxista e as lutas anarco-trotskistas?

- Enquanto uns tantos fazem cócegas de propaganda à 2.ª vaga de pandemia não há como discutir questões de populismo barato, enfatizando problemas da casa dos outros para iludir os da sua própria… Assim vamo-nos afundar…irremediavelmente!

 

António Sílvio Couto

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