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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Que presépio em tempo de ‘covid’?


Estas coisas difíceis e complexas da vida podem ter várias respostas: umas mais sérias e graves e outras mais ou menos leves, levadas com ironia e humor. Sobre a temática do presépio em tempo de covid deixo uma transcrição de uma dessas leituras com algum sarcasmo sobre os possíveis/vários intervenientes…colocando, posteriormente, outras questões mais atuais, sensatas e positivas.

 

= Normas do protocolo em vista da quarentena por ocasião do Natal 2020: a visita ao presépio é autorizada, podendo ir até quatro pastores…todos devem usar máscara e seguir o distanciamento social, medir a temperatura e desinfetar correta e repetidamente as mãos; José, Maria e o Menino-Jesus podem ficar juntos porque são da mesma família; a vaca e o burro devem ter um certificado de doenças emitido pelo serviço veterinário; os ‘três reis’ devem passar por uma quarentena de quinze dias, independentemente de terem um certificado de teste negativo de coronavírus, visto que chegaram do estrangeiro; a palha, o musgo, a árvore de natal e outras decorações devem ser desinfetadas com álcool; o Anjo está proibido de voar sobre a manjedoura, devido ao efeito de aerossol decorrente da onda de asas; o coro será limitado a um participante devido ao risco de infeção com outros possíveis cantores; nenhum pastor deve ter mais de 65 anos, por ser de um grupo de risco; todos os participantes secundários – romanos, pescadores, lavadeiras e o resto das profissões representadas no cenário – são proibidos para não haver perigo de contágio social; Pilatos – qual autoridade de saúde – ensinará a todos como lavar as mãos….

. Nota: estas ‘normas’ estão sujeitas ao momento do Natal, que pode ser de estado de alerta, de calamidade ou de emergência…total ou parcial!

 

= Tirando o possível jocoso deste plano preventivo, poderemos introduzir agora alguns aspetos decorrentes de estarmos num tempo de pandemia, ainda não totalmente percebida no sentido, no significado, nas razões, nas consequências e mesmo nas subtilezas ideológicas, culturais e até religiosas profundas.

À luz da mensagem do Natal – onde O festejamos é Jesus e não nós – precisamos de refletir com maior verdade sobre quanto vivermos, sobretudo, nas condições de pandemia em vigor.

* Do pretenso ‘vai ficar tudo bem’ à exigência de mudança/conversão

Essa frase oca e bacoca do ‘vai ficar tudo bem’, associada ainda a um certo simbolismo duvidoso, precisa de ser corrigida e abandonada, pois nada está bem nem ficará depois desta experiência de fragilidade de tudo e em todos. Aquilo que parecia um mau sonho tornou-se um pesadelo de consequências ainda não totalmente vistas. Não estaríamos todos a precisar de uma boa dose de humilhação – pois vivemos, como disse o Papa Bento XVI, como se Deus não existisse – nas nossas certezas, nas nossas convicções e mesmo na presunção desmedida. A interdependência nota-se para o bem e para o mal. Os cuidados não podem ser aliviados. Cada um de nós pode tornar-se inimigo de si mesmo, se baixar a barreira dos mínimos exigidos…

O Natal fala-nos de fraternidade. Agora temos de vivê-la mais do que nunca, pois o outro é companheiro de jornada e não adversário e tão pouco inimigo. Jesus irmanou-os para sempre.

* Aprender a cuidar e a cuidar-se…no respeito e na responsabilidade

Nenhum de nós sobreviverá sem os outros. Nesta fase de maior fragilização precisamos uns dos outros e de amparar-nos na sobrevivência com saúde e na doença. E nem o dito ‘serviço nacional de saúde’ servirá de nada se continuar a ser ideologizado para afastar quem sabe colocar-se na esfera dos outros com todos os riscos. Certas prosápias não confundirão partilha com negligência ou estimativas com vítimas? Em maré de dificuldade será de boa consciência centrar-se nas reivindicações e não na articulação de ações? Porque serão tão submissas certas instituições para com as diretrizes governamentais, precisariam de se descaraterizarem, confundindo fiéis e seguidores? Ainda não percebemos que foi na provação que se fez a evangelização em nome de Jesus em todos os tempos?

Queira Deus que saibamos interpretar os sinais de hoje!

 

António Sílvio Couto

 

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