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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Onde se meteram os católicos, nesta pandemia?

 


Nunca me tinha acontecido, ocorreu por estes dias: um dos locais onde costumo ir celebrar missa ao sábado à tarde como que me dispensou de o fazer, pela simples razão de que as pessoas mais velhas que ainda vão à missa têm medo e disseram que não iam – por precaução, digo eu – e outras duas ou três menos velhas estão doentes… logo, não havia condições para ter missa. Depois de duas semanas confinados à proibição de não sair de casa ao sábado à tarde, agora – mesmo no começo do Advento – não temos público/assembleia para a celebração da missa…

Este pequenino episódio, perdido entre tantos outros, começou a dar-me voltas à cabeça, procurando encontrar razões ou a cogitar a falta delas para tentar entender a deserção – talvez o termo seja demasiado rude – de tantos dos nossos católicos, desde que estamos sob o efeito psicológico-emocional da pandemia do ‘covid-19’.

= Para esta minha reflexão – não sei se outros já fizeram devidamente a sua – vou servir-me dos dados do espaço onde estou há mais de dez anos: Moita, Sarilhos Pequenos e Gaio-Rosário, que têm no conjunto – segundo dados do censo de 2011 – mais de vinte mil habitantes; destes teremos, na visão mais otimista, cerca de mil praticantes regulares da missa dominical… Agora, pelas contas meio superficiais, obteremos uns duzentos participantes nas missas, respeitando, tanto quanto possível, as regras sanitárias.

Depois da longa noite sem possibilidade de termos missa com assembleia – desde 14 de março até 31 de maio, isto é, o que restava da quaresma e todo o tempo pascal – quase tudo mudou: as crianças escafederam-se dos nossos espaços; os escuteiros só aparecem para as ‘suas’ atividades; os catequistas deixaram de estar com regularidade; muitos dos nossos mais velhos enclaustraram-se com medo; responsáveis de grupos e de movimentos vão tendo as ‘suas coisas’, mas em circuito fechado, como se o vírus se manifeste só nas ações comunitárias; o que antes motivava sair de casa para ir à missa, agora foi convertido em tele-missa ou pelas redes sociais, no remanso do sofá e das pantufas…como se tudo pudesse ser tele-qualquer-coisa sem ser coisa nenhuma de comprometedor.

= É verdade que, de uma forma um tanto esquisita, os católicos – a Conferência Episcopal e o resto dos fiéis – têm sido elogiados como bons cumpridores das regras higiene-sanitárias, emanadas da cátedra de uma tal senhora que mais parece confundir as intervenções com considerandos a despropósito do que na condução em bom senso… Às vezes é preciso ter gente à altura dos factos!

As diretrizes da CEP, publicitadas a 8 de maio passado, mais pareciam saídas de um manual de casuística moral de antanho do que provenientes de pessoas acertadas com uma visão personalista veiculada e servida na Igreja católica…dos tempos pós-conciliares. Sobre estas diretrizes considero que já era tempo de serem introduzidas correções em aspetos que até podem conflituar com a teologia eucarística e/ou a eclesiologia mais atenta, por exemplo as respostas à apresentação da comunhão e até à forma de ser distribuída, pois as ‘procissões’ previstas na celebração revelam mais do que meros movimentos ou ações de conveniência… Outro tanto se pode considerar sobre a partilha – devida em tempo de ofertório – atirada para uma espécie de pagamento em final de situação. Quanto foi (e é) tão difícil educar para que haja a mentalidade de que a ‘missa não se paga’, como se poderá reverter tal consciencialização, se, no final da missa, se passa a ‘receber’ o ofertório?

 

= Excerto da audiência do Papa Francisco, no dia 25 de novembro passado:

«Muitas vezes, sinto muita tristeza quando vejo uma comunidade com boa vontade, mas erra o caminho, pois pensa em fazer da Igreja um encontro, como se fosse um partido político, a maioria, a minoria; o que pensa sobre isso, sobre aquilo, como um sínodo, uma estrada sinodal que devemos fazer. Eu pergunto-me: mas onde está o Espírito Santo ali, onde está a oração, o amor comunitário, onde está a Eucaristia? (…)  A presença do Espírito Santo é garantida por essas quatro coordenadas. Para avaliar uma situação se é eclesial ou não devemos perguntar-nos sobre essas quatro coordenadas, como se desenvolve a vida nessas quatro coordenadas. Se falta isso, falta o Espírito, e se falta o Espírito seremos uma bonita associação humanista, de beneficência, até mesmo um “partido” podemos dizer “eclesial”, mas não há Igreja».        

 

António Sílvio Couto

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