Nunca me tinha acontecido, ocorreu por estes dias: um dos locais onde costumo ir celebrar missa ao sábado à tarde como que me dispensou de o fazer, pela simples razão de que as pessoas mais velhas que ainda vão à missa têm medo e disseram que não iam – por precaução, digo eu – e outras duas ou três menos velhas estão doentes… logo, não havia condições para ter missa. Depois de duas semanas confinados à proibição de não sair de casa ao sábado à tarde, agora – mesmo no começo do Advento – não temos público/assembleia para a celebração da missa…
Este
pequenino episódio, perdido entre tantos outros, começou a dar-me voltas à
cabeça, procurando encontrar razões ou a cogitar a falta delas para tentar
entender a deserção – talvez o termo seja demasiado rude – de tantos dos nossos
católicos, desde que estamos sob o efeito psicológico-emocional da pandemia do
‘covid-19’.
= Para
esta minha reflexão – não sei se outros já fizeram devidamente a sua – vou
servir-me dos dados do espaço onde estou há mais de dez anos: Moita, Sarilhos
Pequenos e Gaio-Rosário, que têm no conjunto – segundo dados do censo de 2011 –
mais de vinte mil habitantes; destes teremos, na visão mais otimista, cerca de
mil praticantes regulares da missa dominical… Agora, pelas contas meio
superficiais, obteremos uns duzentos participantes nas missas, respeitando,
tanto quanto possível, as regras sanitárias.
Depois
da longa noite sem possibilidade de termos missa com assembleia – desde 14 de
março até 31 de maio, isto é, o que restava da quaresma e todo o tempo pascal –
quase tudo mudou: as crianças escafederam-se dos nossos espaços; os escuteiros
só aparecem para as ‘suas’ atividades; os catequistas deixaram de estar com
regularidade; muitos dos nossos mais velhos enclaustraram-se com medo;
responsáveis de grupos e de movimentos vão tendo as ‘suas coisas’, mas em
circuito fechado, como se o vírus se manifeste só nas ações comunitárias; o que
antes motivava sair de casa para ir à missa, agora foi convertido em tele-missa
ou pelas redes sociais, no remanso do sofá e das pantufas…como se tudo pudesse
ser tele-qualquer-coisa sem ser coisa nenhuma de comprometedor.
= É
verdade que, de uma forma um tanto esquisita, os católicos – a Conferência
Episcopal e o resto dos fiéis – têm sido elogiados como bons cumpridores das
regras higiene-sanitárias, emanadas da cátedra de uma tal senhora que mais
parece confundir as intervenções com considerandos a despropósito do que na
condução em bom senso… Às vezes é preciso ter gente à altura dos factos!
As
diretrizes da CEP, publicitadas a 8 de maio passado, mais pareciam saídas de um
manual de casuística moral de antanho do que provenientes de pessoas acertadas
com uma visão personalista veiculada e servida na Igreja católica…dos tempos
pós-conciliares. Sobre estas diretrizes considero que já era tempo de serem
introduzidas correções em aspetos que até podem conflituar com a teologia
eucarística e/ou a eclesiologia mais atenta, por exemplo as respostas à
apresentação da comunhão e até à forma de ser distribuída, pois as ‘procissões’
previstas na celebração revelam mais do que meros movimentos ou ações de
conveniência… Outro tanto se pode considerar sobre a partilha – devida em tempo
de ofertório – atirada para uma espécie de pagamento em final de situação.
Quanto foi (e é) tão difícil educar para que haja a mentalidade de que a ‘missa
não se paga’, como se poderá reverter tal consciencialização, se, no final da
missa, se passa a ‘receber’ o ofertório?
=
Excerto da audiência do Papa Francisco, no dia 25 de novembro passado:
«Muitas vezes, sinto muita tristeza quando
vejo uma comunidade com boa vontade, mas erra o caminho, pois pensa em fazer da
Igreja um encontro, como se fosse um partido político, a maioria, a minoria; o
que pensa sobre isso, sobre aquilo, como um sínodo, uma estrada sinodal que
devemos fazer. Eu pergunto-me: mas onde está o Espírito Santo ali, onde está a
oração, o amor comunitário, onde
está a Eucaristia? (…) A presença do Espírito Santo é garantida por
essas quatro coordenadas. Para avaliar uma situação se é eclesial ou não
devemos perguntar-nos sobre essas quatro coordenadas, como se desenvolve a vida
nessas quatro coordenadas. Se falta isso, falta o Espírito, e se falta o
Espírito seremos uma bonita associação humanista, de beneficência, até mesmo um
“partido” podemos dizer “eclesial”, mas não há Igreja».
António Sílvio Couto
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