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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Numa certa cultura homofílica?


Pé-ante-pé vemos sair do armário algo que, depois de motivo de exclusão, se tem vindo a revelar razão de promoção, desde o nível individual até ao mais social e mesmo cultural.

Nada nem ninguém acentua algo que possa ser referido como passível de ser visto, julgado ou interpretado em tempo algum de menos boa aceitação de alguém que se assuma como homossexual. Nunca o fiz nem espero ter de sinalizar. Por isso, aquilo que motiva esta sucinta reflexão é, tão simplesmente, a contestação a um certo ambiente assaz favorecedor dessa cultura homofílica, que é muito mais do que ser avesso a alguma visão, comportamento ou vinculação anti-homofóbica. 

Deixo duas situações veiculadas pela comunicação social…antagonicamente interpretadas:

- Uma de quase exaltação de um responsável banqueiro que referiu ter sido escolhido como chefe máximo europeu por ser gay, dizendo: ’se não fosse gay provavelmente não seria CEO do banco’. Claro que omito a entidade bancária envolvida, mas registo a ousadia – será isso ou tem algo de subterrâneo? – de trazer para a vida pública e empresarial as opções/tendências mais reservadas e/ou pessoais. Será desta forma acintosa que pretendem fazer ambiente para vulgarizar tudo e o que mais desejam impor? Este folclore poderá servir para épocas de crise – como aquela que estamos a viver – mas será revertida em tempos bem mais racionais!

- Um outro caso de sinalização contrária percorre as reações a um programa televisivo – continuam a insistir no formato com duas décadas – onde um concorrente ousou declarar que preferia ‘ser mulherengo do que ser gay’…naquilo que interpretaram – no programa e fora dele, mesmo na estação televisiva – ser uma declaração machista e homofóbica… Já está: começou o espetáculo na tentativa de angariar audiências para um programa de tão baixo teor mental, social e de rasca conteúdo cultural. É, assim, que querem que o povo se esqueça das agruras do confinamento pandémico? Usem outros truques e melhores habilidades! 

= Depois de termos vividos tempos de alguma intolerância para com quem manifestava opções/tendências/vivências fora do comum tolerado, moral, social ou culturalmente, eis que parece ter chegado um outro tempo em que do excluído se quer fazer promovido em exclusividade. Nalguns casos quase dá a impressão de que é preciso pedir desculpa por não entrarmos na onda da ‘ideologia de género’ com que alguns setores querem varrer os que pensam de forma diferente ou não-concordante com essa (nova) maioria.

Mal vai uma sociedade que precisa de desvalorizar – às vezes reveste até a faceta de perseguir de forma tácita e capciosa – uma tendência para equilibrar qualquer outra. Nalguns momentos a dimensão heterossexual está a ser colocada no armário, onde antes estavam os que – segundo dizem – de lá saíram. Sem prejuízo de outros entendimentos – científicos, artificiais e muito caros – como se renovará, de forma natural, a população, se ‘todos’ recorressem à fórmula de vida homossexual? Como seriam realizados os sonhos de paternidade/maternidade se fôssemos confinados à opção homossexual nos desejos de ter crianças e a quem se dedicar afetuosamente? Será que a exaltação do cuidado dos animais funciona como mecanismo de substituição/compensação desses desejos mais profundos de cada ser humano?

Fique claro: qualquer pessoa bem formada – segundo os valores humanos de civismo, de critérios morais/éticos cristãos ou de respeito elementar pelos outros – saberá aceitar cada pessoa como ela é, sem atender àquilo que divide, antes ao que une. Embora a sexualidade seja um valor intrínseco a cada ser humano, as opções de a revelar, de a assumir ou mesmo de a exercitar deverá ser respeitada acima de qualquer diferença ou processo de educação.

 

= Há gente que terá de recolher a pedra acusatória que pretende atirar a outros, quando pode ter nalgum momento, mesmo anedótico, veiculado intenções, proferido palavras ou tido comportamentos menos respeitadores da diferença para com os outros. Sim: todos diferentes, todos diferentes…para sermos, de verdade, todos e mais iguais!  

   

António Sílvio Couto

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