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domingo, 3 de maio de 2020

’13 de maio’ como o ‘primeiro’ - (Igreja católica vale menos do que a CGTP?)


À luz daquilo que aconteceu na manifestação do ‘1.º de maio’ da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) poderemos questionar tantas outras iniciativas de caráter público, seja qual for o promotor ou os participantes. Isto é, o modo de disposição no terreno dos presentes poderá ditar que algumas propostas com presença de pessoas possam ter idêntica configuração: colocadas em filas, com distanciamento considerado de segurança – dizem que com dois metros de separação – e com espaço ainda entre as filas…até à ocupação total do terreno.

Perguntado à ministra da saúde se, deste modo, poderão acontecer as celebrações religiosas do dia 13 de maio, em Fátima, ela não descartou a possibilidade, senão na prática, ao menos teórica, dizendo: ‘é uma possibilidade… desde que sejam respeitadas as regras sanitárias’! 

= Efetivamente a manifestação do ‘1.º de maio’ da CGTP, em Lisboa, apresentou um role de atropelos à lei em estado de emergência: pessoas acotoveladas umas às outras, nos passeios e em muitas das imagens televisionadas; pessoas procedentes de fora do concelho lisboeta (viram-se autocarros de várias localidades da ‘margem sul’), quando era proibido sair do concelho de residência; a presença de elementos maiores de setenta anos, quando são considerados, genericamente, em idade de risco; figuras sem máscara a dar ordens ao telemóvel, quando esta já era obrigatória na presença de mais pessoas em volta…

As filas armadas no terreno não são novidade, pois nos desfiles já é costume irem daquele modo, só que os cartazes colocados estrategicamente encobrem mesmo a ausência de pessoas. Ali não era possível disfarçar. Com efeito, um oficial da polícia deixou escapar esta frase: ‘aquilo é uma máquina bem oleada’… Sim, só que desta vez se tornaram mais evidentes as lacunas, noutros anos ofuscadas… 

= Tendo em conta os ardis da CGTP não será oportuno intentar que as celebrações do ‘dia 13 de maio’ possam realizarem-se, este ano, ainda em Fátima? A organização não deveria reconsiderar a sua posição, mesmo que trazendo à liça as razões de exceção aduzidas para a CGTP? Ou será que teremos – como é costume na arte de comunicação da governança – dentro de dias uma portaria a condicionar o decreto-lei que rege o ‘estado de calamidade’? Não terá chegado a hora de nos (os católicos, cidadãos, eleitores e contribuintes) colocarmos mais em confronto do que estarmos tão submissos ao poder, que, afinal, sabe proteger quem o vota, o elege e o suporta? Teremos ainda cristãos que não se atemorizam e defendem a sua fé, mesmo que pareçam menos cordatos do que os responsáveis episcopais? Até onde irá a nossa falsa resignação, acomodação ou cobardia, quando era preciso ser destemido, audaz e lutador? Não foi, por sinal Fátima quem desmentiu o político que prognosticou o fim da fé no espaço de duas gerações em Portugal? Se fosse hoje – e os indícios estão à vista – a ‘profecia’ não seria facilmente cumprida, tal o amorfismo generalizado em que vivemos….a começar pelas cabeças? A máquina católica – dioceses, paróquias, movimentos, associações, fiéis (bispos, padres, religiosos/as e leigos) – não terá capacidade de se mobilizar ainda para as celebrações do ‘dia 13’? Mesmo que os ‘peregrinos a pé’ tenham sido desmotivados, não há muitos outros recursos que poderiam dar uma resposta superior à máquina sindicalista? 

= Não há qualquer interesse em colocar-nos em confronto ou de entrarmos em comparações, mas não podemos permitir que sejamos tratados como cidadãos de segunda ou de terceira perante as regalias de uns tantos bem-pensantes, maldizentes ou provocadores. Como cristãos/católicos somos e devemos ser cidadãos que se regem pelas leis do estado, mas não podemos permitir que este seja o primeiro a criar estratos sociais, que foram abolidos e nunca deveriam ter existido. Confesso: não gosto de ser privilegiado por ser cristão (católico ou padre), mas também não aceito ser depreciado ou discriminado por sê-lo…

Basta de conluios entre a ‘espada e o altar’, onde este parece mais servir aquele do que em ser parceiro com igualdade de direitos, de obrigações e respeitando-se, mutuamente, nas suas funções. Foi assim que calaram tantas vozes proféticas, não pelo combate, mas pela adulação!    

 

António Sílvio Couto

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