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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Entre a ‘bolha’ e o preconceito…quanto aos ciganos


Desgraçadamente vivemos num tempo onde se diz que temos liberdade, mas não respeitamos a dita no trato com os outros; onde uns tantos se acham donos da verdade (a sua) e anatematizam a opinião alheia; onde uns tais setores sociais se incluem numa bolha, conjeturando em preconceito contra quem não diz o que eles falam…mesmo sem o assumirem que pensam.

- Uma advertência de princípio: não tenho, nunca tive nem espero ter algum desaguisado com ciganos. Não os obstaculizo nem os patrocino e tão pouco os considero de menor ‘qualidade’ social, cultural ou mesmo económica. Das poucas vezes que lidei com eles tentei tratá-los o mais possível nos direitos e deveres, mesmo que eles não cultivem estes e enfatizem (ostensivamente) aqueles…

- Uma segunda nota de esclarecimento: não aprecio minimamente a esperteza de uma boa parte dos ciganos, quando tentam usufruir de todas regalias possíveis e imaginárias para andarem a enganar o fisco, a segurança social, os serviços de saúde, as entidades autárquicas nem as associações de caridade/solidariedade católicas ou não só.

- Terceira salvaguarda: custa-me ver a ostentação, por vezes, a roçar algum escândalo – o termo deveria ser ‘pornográfico’ – com que certos grupos de ciganos se exibem com ouros e lantejoulas, brincos e relógios, anéis e bijuterias… numa prosápia de ‘novos-ricos’ – onde um tal manipulador da bola se tornou o expoente máximo de um tal ridículo e da inconsequência fiscal – deambulando inter-pars ou sugestionando incautos…bimbos.

- Quarta observação: em maré de crise surgem uns tantos profetas da desgraça que tentam vislumbrar culpados por entre as sombras, mesmo a própria. O extremismo nem sempre é bom conselheiro, criando, na maior parte dos casos, fantasmas, alguns deles míticos e tantos outros dispensáveis.

= Este tema dos ciganos tem algo de complexo, tanto na sua origem, história e desenvolvimento, como no modo como que eles são vistos, entendidos e tratados. Segundo dados, os ciganos são a maior minoria da Europa com cerca de onze milhões de pessoas…e, em Portugal, haverá cerca de trinta e sete mil – 0,5% da população – espalhados por várias regiões do país. Na sua maioria trabalham, embora se possa tratar de um trabalho informal, sem contrato nem salário. Dizem que metade dos ciganos sobrevive com o rendimento social de inserção. Uma boa parte dos ciganos portugueses têm baixo nível de escolaridade (muitos não sabem ler nem escrever ou têm o ensino básico ou primeiro ciclo incompleto) e casam cedo.  

= A ‘bolha’ a que nos referimos no título deste texto tanto vale para os ciganos – na medida em que se consideram alguém à parte com as suas regras, comportamentos e (quase) leis específicas – como para quantos deles se dizem defensores ou detratores, pois se pretendem imiscuir numa questão que é mais do que meramente social, sendo antes do nível cultural. Por isso, criar lutas contra ou a favor não faz diluir o problema antes o acirra e/ou complica.

Pelas caraterísticas apresentadas, o povo cigano precisa de ser respeitado, mas também não pode querer usufruir de benesses para as quais não colaborou, antes só se faz beneficiário e não contribuinte, desde os encargos de segurança até aos proventos do trabalho.

Por outro lado, o preconceito com que muitas vezes os ciganos são julgados podem não ser tão justos quanto seria aceitável, dado que, sentindo-se acossados, têm tendência a fecharem-se e, possivelmente, de forma gregária a atacarem. Não será pela hostilidade que se fará diálogo, mas também não será pela esperteza pouco inteligente, que se criarão pontes, antes surgirão muros, senão físicos ao menos psicológicos… = Não chega (!) dizer mal nem encurralar os ciganos, é preciso fazê-los participar na vida cívica de todo o país, dando-lhes condições para que sejam cidadãos de participação inteira. Não interessa criar blocos (!) de defesa, quando se poderá estar a esconder pessoas sem cultura cívica mínima e suficiente…tanto ao nível pessoal como de grupo. A quem interessa fazer-de-conta que tudo corre bem, quando há problemas com a autoridade, com a justiça, com a vizinhança e mesmo com quem possa contrariar os ciganos. Eles têm de saber estar em sociedade, respeitando e sendo respeitados nos direitos e nos deveres…seus e alheios!    

 

António Sílvio Couto

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