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domingo, 10 de maio de 2020

Mudanças ou adaptações…com o vírus?


Vimos confirmando a perceção desde a primeira hora: não, não vai ficar tudo bem! Com efeito, este slogan bem depressa deu para perceber que era um bluff senão pessoal ao menos social e até cultural.

Reafirmo ainda que foi de mau gosto e de pior sentido de oportunidade ter associado àquele estribilho o símbolo do ‘arco-íris’, usado como bandeira de interesses (morais, civilizacionais e culturais) menos claros e de motivações (atingidas só por iniciados nesse exoterismo) que beneficiam quem sob a sua coloração se esconde, refugia ou atua…

Bastará ver a longa lista de recomendações que os vários organismos, entidades ou serviços nos apresentam para ‘voltarmos’ ao novo normal: desde as de higienização até ao convívio social, passando pelas áreas ligadas à saúde e mesmo à prática religiosa…  

= Desde logo poderemos colocar certas questões sobre esta temática…em contexto de vírus:

- Vamos viver um tempo de adaptação – como já foi noutras crises mais ou menos recentes – ou isto terá repercussões na mudança de comportamento, de atitude ou de convivência?

- As aprendizagens não deverão ser mais lentas para serem mais consistentes e duradouras?

- Como irão ser corrigidos certos exageros, desde o excesso de cumprimentos sociais – beijocava-se por tudo e por nada! – até a uma espécie de abuso nas refeições extrafamiliares?  

- Não teremos de corrigir alguns dos rituais de convivialidade por sinais que sejam significativos, tanto no conteúdo como na forma?

- Mesmo no sentido económico das questões não teremos de reaprender a enfrentar os problemas – de trabalho, de família, de sindicalismo ou de compromisso politico – com mais inteligência e não de andarmos a adiar com paliativos de circunstância as soluções que tardam em acontecer?

- Não será chegada a hora de querermos mudar de sistema e não de iludirmo-nos em modificar o regime?

- Quem estará disponível para dar o contributo em ensinar a ‘governar a casa’ e não de continuarmos a fornecer coisas, que adiam a solução dos problemas?

 

= Mesmo que de forma sucinta vou centrar a atenção nas orientações emanadas – são 79 e destas 32 referem-se à eucaristia – da Conferência Episcopal em ordem a voltarmos ao ‘novo normal’ da prática religiosa…simbolicamente delineada para a celebração do Pentecostes – 30/31 de maio – onde se inclui também a festa da visitação de Nossa Senhora e data celebrativa da ‘padroeira’ das Misericórdias. Já lemos a simbologia? Vejamos os vários itens só no tocante à celebração da eucaristia (incluímos a numeração das ‘nomas’ da CEP de 8 de maio):

a) antes da missa
- As comunidades cristãs deverão organizar equipas de acolhimento e ordem que auxiliem os fiéis no cumprimento das normas de proteção (5);
- É obrigatório o uso de máscara, a qual só deverá ser retirada no momento da receção da Comunhão eucarística (9);
- O acesso dos fiéis às Missas dominicais, às celebrações da Palavra e a outros atos de culto será limitado no número de participantes, de acordo com a dimensão da igreja (10);
- Deve respeitar-se a distância mínima de segurança entre participantes de modo que cada fiel disponha, só para si, de um espaço mínimo de 4m2 (11);
b) durante a missa
- Os fiéis ocupam os lugares previstos, mantendo as distâncias estabelecidas, sob a supervisão das pessoas a quem a comunidade cristã confia esta tarefa (15)
- Os leitores e cantores desinfetarão as mãos antes e depois de tocarem no ambão ou nos livros (18);
- Os recipientes para recolher a coleta não se passarão no momento do ofertório, mas serão apresentados à saída da igreja pela equipa de ordem e acolhimento, seguindo os critérios de segurança apontados (19);
- O sacerdote desinfetará as mãos antes da apresentação dos dons (21);
- O diálogo individual da Comunhão («Corpo de Cristo». – «Amen.») pronunciar-se-á de forma coletiva depois da resposta «Senhor, eu não sou digno…», distribuindo-se a Eucaristia em silêncio (25);
- Continua a não se ministrar a comunhão na boca e pelo cálice (27);
c) depois da missa
- Após a Missa, proceda-se ao arejamento da igreja durante pelo menos 30 minutos, e os pontos de contacto (vasos sagrados, livros litúrgicos, objetos, bancos, puxadores e maçanetas das portas, instalações sanitárias) devem ser cuidadosamente desinfetados (32). 
  

= Eis algumas questões teológico-pastorais, umas que deveriam ser incrementadas com mais regularidade depois desta circunstância social e outras que não podem subverter a dimensão católica por ocasião destas ‘normas’ higienistas.

* O serviço de acolhimento/ordem deveria ser um investimento em todas as paróquias e não só por mero controlo sanitário. Talvez seja bom não confundir higiene com limpeza, pois a partir desta se poderá ver o estado da cada paróquia…na igreja.

* Não se deverá misturar a desinfeção das mãos do padre com o rito de ablução após a apresentação dos dons… Repare-se na oração que ele diz em silêncio: ‘lavai-me, Senhor, da minha iniquidade e purificai-me do meu pecado’… É algo de espiritual e não de limpeza meramente corporal.

* O recipiente para recolha da coleta/ofertas deveria ser colocado no princípio da missa, à entrada do espaço celebrativo e não no final, pois neste momento parecerá mais ‘pagamento’ do serviço recebido, enquanto se for colocado no início e levado ao altar na hora do ofertório poderá ter outro significado e envolvência de toda a assembleia…e da semana vivida.

* A resposta, no momento da receção da comunhão eucarística, poderá continuar a ser o ‘Ámen’ habitual pessoal e não o genérico, como é apresentado na norma 25… Um gesto de adoração também pode conter essa resposta pessoal.

Estamos a aprender. Seria bom que ficasse algo de novo de toda esta crise: maior fé e vivência comunitária.

 

António Sílvio Couto

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