Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Responder (só) ao que nos perguntam

 

Creio que é (ou pode ser) um bom princípio de conduta pessoal e social, podendo com issso evitarmos muitos dissabores sem sempre percetíveis: só devemos responder àquilo que nos perguntam, sem nos adiantarmos em dizer mais do que aquilo que é inquirido, mesmo que possamos saber, conhecer ou abranger as questões suscitadas. Será um ato de inteligência não dizer nada para além do perguntado, pois este tem um âmbito que deve ser claro, simples e preciso.

1. Nos tempos mais recentes afloraram à discussão pública questões sobre o ‘hino nacional’, uns porque não o entendem, outros porque o consideram bastante bélico e outros ainda porque quiseram trazer para a liça algo que nunca foi questionado, até pela configuração histórica do mesmo bem como pelas circunstâncias que assim o plasmaram como resumo de vida e de sentimentos coletivos... Alguém questionou o tal cantor-afro-português sobre o conteúdo do nosso hino nacional? Por que quis entrar numa luta pouco refletida e – ao que parece – mal resolvida? Não haverá nas palavras do nosso hino algo mais do que palavras bélicas no sentido conotativo? As ‘armas’ e o ‘marchar contra os canhões’ precisará de ser material ou será antes figurativo, emocional e denotativo? Se bem que tenha sido o futebol a trazer para a maior divulgação o ‘hino nacional’ – sob a influência de um estrangeiro – este não poderá ser ofendido por quem se quer promover com discordâncias mal amanhadas e insuficientemente justicadas...

2. De entre os vários exemplos de que não se deve responder senão àquilo que nos perguntam é a figura do atual presidente da república (PR), na medida em que por pouco ou por quase nada está falar de tudo como se fosse um especialista sobre todas as matérias. Nalgumas situações tem mais complicado do que facilitado, tem mais lançado achas para a fogueira do que acalmado o fogo, tem mais criado barulho sobre os assuntos do que tem ajudado a refletir serenamente sobre as soluções. Não será que quem fala tanto correrá o risco de menos acertar? Não poderá acontecer que, de tanto se pronunciar, correrá o risco de já poucos atenderem àquilo que é dito, mesmo que possa ser importante? Certas posturas do atual PR soam a tiques de funções anteriomente ocupadas...

3. Por seu turno, alguma da contestação social aos problemas da educação, às questões da saúde e mesmo ao tema da justiça tem servido para confundir os mais incautos, pois emergem questiúnculas que só servem para distrair do que é essencial. Também nestas matérias temos visto posições de certos dirigentes que mais parecem temas da sua agenda pessoal do que do interesse da classe e, pior, com prejuízo para as populações. Dá a impressão que alguns dos que deviam ser responsáveis na arte da contestação se comportam como a ‘mónica’ – uma série de desenhos animados de meados do século passado – que dizia: agora que eu sabia as respostas todas, trocaram-me as perguntas. Com efeito, as formas de trazer para a vida pública os problemas de algumas classes profissionais – atendemos às três supra citadas – estão eivadas de desconexão com a realidade e, sobretudo, com o cativar, de forma deficiente, de quem não tem diretamente a ver com o assunto. As greves dos professores têm tanto de justo quanto de inoportuno na forma, pois as famílias são quem paga a fatura dos protestos e estes tornam-se menos acertivos... nos resultados. A variação do atendimento na saúde faz com que os atingidos se coloquem contra os que protestam...com alguma razão. Na área da justiça certas anomalias dos serviços fazem com que se desacredite naquela que deveria ser, por si mesma, justa...

4. Saber perguntar é uma arte, mas ser capaz de responder com precisão e competência é ainda maior na sua habilidade e habilitação. Ora, como nos faltam pessoas que saibam o que dizem e que digam (sempre e só) o que sabem, na correta proporção de saberem-se servidoras da verdade. Com efeito, é esta e só esta que deve conduzir quem pergunta e quem responde com a mesma serenidade de saber que as respostas dadas conferem credibilidade, honestidade e lealdade a todos...



António Silvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário