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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Despudoradamente

Cada vez mais vemos que as pessoas perderam o pudor de se exporem nas mais diversas situações, tanto ao nível pessoal como social, em aspetos residuais como em condições mais alargadas, sobre assuntos do foro familiar como quanto à sua história mais íntima… tudo aparece, sem grau de classificação nas ditas redes sociais, mais do que, em tempos idos, nas conversas de ocasião ou em tertúlias de revelação.

Dizia-se no passado que se corava de vergonha, agora tem-se vergonha de corar. Talvez se tenha mesmo perdido a noção de pudor e de quanto isso significa na vida de uma pessoa.

1. ‘Pudor’ é descrito como sentimento de vergonha, constrangimento, embaraço, pejo. Pode ainda ‘pudor’ ter relação com sentimento de recato, castidade, pudicícia, pundonor, pureza. Em certos aspetos ‘pudor’ pode ainda referir-se a timidez, inocência ou até constrangimento em falar sobre aspetos de educação de âmbito sexual e em situações de comportamento…

2. Atendendo a estes aspetos tão diversificados de ‘pudor’ poderemos colocar algumas questões sobre este despudor que temos vindo a ver crescer, criando quase alguma banalização sobre as pessoas e quanto aos respeito para consigo mesmas e para com os outros. Qual foi a causa mais razoável para que tantas pessoas tenham mudado o seu comportamento de reservadas para quase-tudo mostrarem? Haveria necessidade – como dizia um humorista televisivo – de fazer sair da penumbra tanta coisa que bem estava se de lá não tivesse saído? Porque precisarão tantas pessoas de mostram o que de vergonhoso era preferível encobrir? Não andaremos a reboque de certas tendências que banalizam as pessoas, quando as fazem passar por momentos de que se irão arrepender-se mais cedo do que tarde? Quem tudo (ou quase) mostra da sua vida – atual ou anterior – terá respeito pela sua dignidade mínima?

Confesso que há situações que bem preferia nunca conhecer – sobretudo pela forma algo abjeta como se deram a conhecer – até para que tais pessoas não possam ainda tornar-se mais vulgares pelo chafurdar numa lama que dificilmente será retirada, tal a peçonha com que a ela se apegaram…

3. Se bem que o conceito de ‘pudor’ possa ter apenso alguma conotação ético-moral, creio que será útil recorda o que o Catecismo da Igreja Católica refere sobre o assunto.

* O pudor preserva a intimidade da pessoa. Designa a recusa de mostrar o que deve ficar oculto. Ordena-se à castidade e comprova-lhe a delicadeza. Orienta os olhares e as atitudes em conformidade com a dignidade das pessoas e com a união que existe entre elas (n.º 2521).
* O pudor protege o mistério da pessoa e do seu amor. Convida à paciência e à moderação na relação amorosa (...) O pudor é modéstia. Inspira a escolha do vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha o perigo duma curiosidade malsã. O pudor é discrição (n.º 2522).
* Existe um pudor dos sentimentos, tal como existe um pudor corporal. Ele protesta, por exemplo, contra as explorações exibicionistas do corpo humano em certa publicidade(...) O pudor inspira um modo de viver que permite resistir às solicitações da moda e à pressão das ideologias dominantes (n.º 2523).
* As formas de que o pudor se reveste variam de cultura para cultura. No entanto, ele continua a ser, em toda a parte, o pressentimento duma dignidade espiritual própria do homem (n.º 2524).
* A pureza cristã exige uma purificação do ambiente social. Exige dos meios de comunicação social uma informação preocupada com o respeito e o recato. A pureza de coração liberta do erotismo difuso e afasta dos espectáulos que favorecem a curiosidade mórbida e a ilusão (n.º 2525).

4. A dignidade da pessoa humana não tem preço, pois o seu altíssimo valor precisa de ser cuidado. Ora, este despudoramento sociocultural não nos conduz a nada de bom. Cristãmente temos uma proposta…Assim a conheçamos, vivamos e proponhamos com verdade na vida…



António Sílvio Couto

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