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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

E as famílias, senhores professores?

 


Há dias, numa visita de cortesia com outra pessoa, a uma região onde houve um grande incêndio no pretérito verão, o interlocutor dizia: as chamas puseram a descoberto muitas coisas de arqueologia que a vegetação encobria...agora temos mais material para trabalhar... Isso mesmo me ocorreu por ocasião da greve de professores, que está cumulativamente a acontecer: foi posta a descoberto uma faceta nem sempre atendia ou corretamente olhada: as famílias são, para além dos alunos, fortemente atingidas por esta greve, com efeitos nem sempre fáceis de tornear. De facto, os filhos ficarem sem aulas obriga os pais (ou encarregados de educação) a encontrar solução para haver quem os cuide e nem todos têm respaldo familiar para tal...

1. Qualquer greve - por mui digna que se pretenda ou correta que se deseje - atinge terceiros, deixando um rasto de prejuízo direto, indireto ou subsequente. Quantas pessoas são (ou podem ser) vítimas de uma greve? Quantos transtornos são deixados, mesmo que isso seja minimamente acautelado? Quantas vezes os efeitos das reivindicações não produzem as consequências pretendidas? Quantas vezes a visão corporativa ofusca o bem comum? Em quantos casos as malfeitorias de uma greve conduzem à perda de razão dos seus autores?
No caso em apreço: um professor pode fazer greve a uma aula, sendo-lhe descontado no vencimento, mas pode atingir os alunos em todo o dia, sobretudo se for às primeiras horas. Atendendo ao impacto que a ausência de um professor pode gerar numa escola, isso torna-se num efeito em catadupa, deixando marcas por mais tempo do que só uma hora ou mesmo de um breve dia…

2. Quanto à matéria de mais esta greve de professores não tenho conhecimento capaz. No entanto, será que isto capta mais pessoas para querem exercer esta profissão? Com efeito, as reivindicações até podem ser justas, honestas e necessárias. Será preciso entender todas as partes envolvidas e, parece-me, que desta vez se abriu uma brecha de ‘sem-razão’ na forma de greve, até mais do que de conteúdo. Atendendo à importância deste setor do ensino no tecido social do nosso país, temos vindo a assistir a uma certa desacreditação e o prolongamento dos problemas não ajuda em nada a conquistar para as razões de fundo de quantos lutam pelos seus direitos...

3. A luta pela (dita) ‘escola pública’ está a perder com todos estes acontecimentos e os que fazem este mesmo serviço de ensinar no setor privado ou cooperativo serão dos mais beneficiados com tudo isto, tanto direta como indiretamente. Se colocarmos em análise o tema em apreço neste texto – a família – poderemos considerar que mais esta greve fará com que muitos estudantes engrossem o ensino não-público, mesmo pela garantia de que não tenha tantas anomalias como a que vemos acontecer. Quem organiza este tipo de greves deveria atender mais às causas e não se deixar ficar nas meras consequências.

4. Sem pretender entrar num campo que poderia ser considerado acintoso, pergunto: os professores têm cuidado da matéria prima para exercerem a sua profissão, isto é, têm gerado filhos para depois ensinarem? Não teremos andado antes a promover uma certa quebra da natalidade e agora não conseguem ter o mínimo para encherem as salas de aula? Com tanta promoção de fatores contra a natalidade não teremos arranjado mais problemas do que esses que pretendiam solucionar na raiz? Não será que os professores ao não terem atendido suficientemente à questão da família em mais esta greve, deixam perceber que a sua família se desmoronou e nem conta como deveria?

5. Numa palavra: a escola ensina, mas a família é quem educa. Ora o que temos visto é que o ensino parece estar um descalabro, não queiram, por isso, fazer da família um pântano ainda maior e mais profundo…



António Sílvio Couto

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