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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Agora são ‘coisas’ do dinheiro…na Igreja

 

Os custos do altar da celebração papal para as jornadas mundiais da juventude – Lisboa 2023 (JMJ 2023) ofuscam ou distraem dos problemas do governo… e até as greves dos professores passaram para plano secundário com a ‘comunicação social’ – bem instruída e numa nítida agenda preconcebida – foca-se numa das facetas mais atraentes para distrair do essencial: as ‘coisas’ do dinheiro, onde a Igreja tem, muitas vezes, dificuldades em lidar e quem a combate encontra – à saciedade, no passado e na atualidade – matéria para se entreter.

Depois dos casos de ‘abusos’ entre os membros do clero e que tanto jeito deu para encetar a cruzada contra as JMJ, agora emergiu um novo foco e com muitos tentáculos para crescer, entreter e ganhar foros de gastar os menos de duzentos dias para o acontecimento: o dinheiro e a forma como a Igreja católica lida com ele é capaz de fazer ainda mais estragos do que as questiúnculas de matéria sexual…

1. Seria uma espécie de distração de menos boa consciência não se interrogar sobre as invetivas quase miserabilistas que surgiram para reclamar dos custos do ‘altar papal’ das JMJ. Tantos que se julgam bons em fazerem contas, puxaram o assunto, logo numa época em que as pessoas estão a passar por dificuldades económico-financeiras. Embora o assunto – dos gastos e da cobertura do acontecimento – seja mais da área política, não faltaram as vozes mais proletárias – até no seio da Igreja – numa visão à maneira de Judas, quando reclamava do perfume usado para com Jesus em vésperas da sua paixão… era (é) um desperdício! Seja qual for a entidade coordenadora do projeto para as obras no terreno para as JMJ 2023, acredito que quererá fazer o melhor para receber a visita – embora breve, mas significativa – do Papa, seja aquele que está na cátedra de Pedro ou quem o represente. Por isso, os gastos/custos não serão desperdício mas investimento nacional e local, pois, segundo dizem, terá outros aproveitamentos posteriores.

2. Já tivemos exemplos de momentos recentes em que os projetos ao tempo contestados se tornaram obras emblemáticas quase do regime – centro cultural de Belém, Expo/98, ponte Vasco da Gama… e até estádios do ‘euro 2004’ – aproveitados pelos detratores para as suas iniciativas. Quem conhecer minimamente a mentalidade dos portugueses não ficará admirado desta onda de indignação, na medida em que tal atitude costuma ser a forma de se posicionar para com temas, áreas e assuntos que podem mobilizar o ‘coletivo’, desde que não seja de quem não se revê nas obras efetuadas. A psicologia de ‘velho do restelo’ está muito aferrada em tantos dos nossos coetâneos.

3. Questões de princípio podem ser colocadas sobre esta matéria – a dos gastos com o ‘palco’ (altar, envolventes e áreas de apoio técnico) onde vai ser celebrada a missa papal das JMJ. Não se podia reduzir isso a uma coisa mais simplista e de recurso? Porque tinham de pretender fazer uma ‘obra’ que perdurasse para depois do evento? Aqueles escombros à porta da capital não podiam continuar a deixar à vista a nossa pobreza mais do que material? Por que quiseram fazer algo que pode ajudar a combater a má-formação ecológica reinante? Como se pode compreender que gastem menos em idêntica obra do que as anteriores JMJ no Panamá (foram dez milhões de dólares) ou em Madrid, em 2011 (foram vinte milhões)?

4. Fique claro, pelo menos para mim: esta campanha empolada contra os gastos das JMJ faz parte de um programa de forças que já nem se escondem. Algumas têm órgãos de comunicação social – mesmo só no digital – dando extensão àquilo que já fizeram por ocasião dos casos de ‘abusos sexuais’ do clero. Não sejamos inocentes: o objetivo é o mesmo – sob a capa de uma certa transparência – a deles – usarão todos os meios, métodos e formas para tentarem puxar para a insignificância o alcance das JMJ 2023.

Nesta, como em tantas outras situações, gosto de recordar essa sábia intervenção de Gamaliel – o mestre de Saulo ainda judeu – quando disse aos membros do sinédrio, por ocasião da prisão dos apóstolos: tende cuidado porque se esta obra é de Deus, podereis estar lutar contra Deus…

Ora, nitidamente, pelos frutos apresentados, as JMJ são obra de Deus no nosso tempo.



António Sílvio Couto

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