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sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Confusão quase-absoluta

 


Cá na parte mais ocidental da Europa está em vigor crescente aquela informação, atribuída a um general romano, que daqui enviou à sede do império esta descrição: ‘há, na parte mais ocidental da Iberia, um povo muito estranho – não se governa nem se deixa governar’.

Esta estória quase-lendária regressa à nossa memória coletiva sempre que algo correr menos bem ou até mal, no desempenho do poder (nacional ou autárquico, civil ou religioso, social ou económico, público ou privado), numa explicação assaz conveniente para tentarmos interpretar as dificuldades em sermos cordatos e – porque não – corretos uns para com os outros, sobretudo se quem governa não é tanto da nossa simpatia ou coloração.

Os episódios politico-partidários do último ano no nosso país e mais recentemente no mês findo são algo que nos deveria fazer refletir em ordem a discernirmos para onde vamos...assim.

1. Pelo que temos visto parece que se tem vindo a tornar ‘moda’: primeiro indica-se alguém para um posto no governo e só depois se vai aferir se aquela pessoa não tem nada que turve a sua personalidade ou condicione o seu desempenho. Nalgumas circunstâncias não está em causa a capacidade, preparação ou desempenho do visado/a, mas se ele/ela não soube fazer as coisas sem dar nas vistas, logo os abutres tentam descobrir modo de o/a destronar. Não bastaria um pouco mais de atenção para que se aprendesse de umas situações – e são várias – para as outras? Em onze meses deste vigésimo terceiro governo constitucional justifica-se tanta tropelia e confusão? Dado estarem a encolher os disponíveis (para postos de governação) ter-se-á de pescar sempre e só no aquário do partido ou nas falanjes dos apaniguados?

2. Infelizmente o papel escrutinador tem sido feito por certa comunicaçao social, que, numa forma bastante pidesca – dizem fazer jornalismo de investigação – cuida de vender papel impresso ou de atrair audiências, nem sempre respeitando a honorabilidade das pessoas e respetivas famílias. A destreza com que certos ‘factos’ aparecem plantados dá a impressão que se obedece a um processo tecido para conjugar o verbo ‘desgraçar’ com todas as pessoas, em todos os tempos, modos e feitios...

3. Dá a impressão que, em quase todos os casos veiculados, o fator dinheiro andou envolvido: recebido por indemnizações, por ganhos, por negócios, por gastos, por compadrios, por afinidades familiares... por... por dinheiro, muito e ainda mais! Dado que o vulgo anda entretido nos casos, casinhos ou casões, não temos estado tão atentos a que é o dinheiro que comanda a vida de tantos dos intervenientes, mesmo que não seja sempre dinheiro sujo.

4. Tenho para comigo que será cada vez mais difícil encontrar quem se disponibilize para expor a sua vida – pessoal, familiar, profissional, etc – às escarafunchices de tantos e de quase todos. Com efeito, para quem aceite estar nalgum lugar público, torna-se quase impossível ter privacidade e muito menos não estar sob a suspeita de quem quer que seja. Pior ainda se quem avalia – muitas das vezes manipulando as mais elementares regras – tenta que não se descubra algo sobre si. Estão, assim, criadas as condições para vivermos num estado de desconfiança, onde todos são maus (corruptos ou corruptores,) até prova em contrário. Se até o diretor nacional da polícia judiciária afirma peremptoriamente que ‘há muita corrupção’, quem serão os demais para não julgarem os outros por esta bitola desfavorável das pessoas e da sociedade?

5. Com um governo de maioria absoluta e que pretendia ser para mais de quatro anos, talvez fosse desejável que a confusão fosse menor ou pelo menos evitável, Será que ainda vamos a tempo de sermos um povo, uma nação e um país digno dos nossos antepassados pelas boas razões?



António Silvio Couto

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