Por não
estar tanto sob os holofotes de certa comunicação social poderá parecer que não
existe. Por ser ofuscado pelo barulho e a exposição de um racismo mais
combativo não se percebe o seu alcance. Por ser silencioso e quase subtil não
emergem os sinais da sua negligência.
Referimo-nos
ao racismo exercido capciosamente sobre os brancos por outras cores – haverá
mesmo essa designação de ‘cor’ para distinguir as pessoas? – de ‘raças’ – a
quem interessa acirrar tais distinções? – ou até etnias – essas subdivisões
artificiais são para quem pretende tirar proveito do ‘quanto pior melhor’!
Fique
claro que nenhuma pretensão ideológica está subjacente a esta
partilha/reflexão. Antes pelo contrário, sinto vergonha, apreensão e quase nojo
que se tente trazer para a discussão pública/política/social algo que parece só
servir a quem faz, na sua lide humana, o recurso a questiúnculas mais do que
relacionamento daquilo que é trato substancial, adjetivando problemas que
deveriam ser tratados no âmbito da educação e não das fraturas de civilização…Tenham
cuidado para que não brinquem com o rastilho daquilo que os pode queimar!
= Se
consultarmos alguma publicação sobre este tema do ‘racismo’ poderemos ser
elucidados da natureza do problema: «racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em
percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Muitas
vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos
que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente
superiores ou inferiores com base em características, habilidades ou qualidades
comuns herdadas. Também pode afirmar que os membros de diferentes raças devem ser
tratados de forma distinta…Na sociologia e psicologia, algumas definições
incluem apenas as formas conscientemente malignas de discriminação».
Este
excerto da wikipédia poderia lançar alguns pontos de convergência na discussão
e na apreciação de tantos dos comportamentos aligeirados na nossa sociedade
(dita) democrática…
= Vejamos,
então, alguns exemplos bizarros: se um negro (preto) é morto por um branco,
isso é noticiado como sendo um ato de racismo; se um branco é morto por um
negro (preto), tal é considerado como mero acidente. Se alguém de tez negra é
protagonista de um conflito social (discussão, má vizinhança ou ruído em
prédio), isso reveste com facilidade a configuração de racismo e/ou de xenofobia;
se algo idêntico (altercação, desacato ou desordem) tem como interveniente
alguém de cor branca ou não-negra, tal pode configurar um assunto de natureza
policial. Se um indivíduo vai a uma repartição pública e tem de esperar na fila
pelo atendimento, se é de um grupo não-europeu e não é atendido na pressa que
deseja, o serviço arrisca-se a ser apelidado de praticar discriminação, mas se
for um branco ou um europeu não-negro, sabe que tem esperar pacientemente pela
sua vez ou até de voltar noutra ocasião…
= Tem
vindo a crescer a sensação de que alguns setores – políticos e sociais,
sindicais e partidários, de segurança ou de policiamento – reclamam para que se
faça algo para atenuar o que possa haver de sinais de racismo, mas no seu
comportamento pouco ou nada se vê a condizer com aquilo que proclamam. O
parlamento quantos deputados/as apresenta que estejam fora do circuito de
brancos e afins? Onde estão, a sério, as políticas de promoção dos não-brancos ou
de etnias ‘rebeldes’ nas fileiras partidárias? Certos setores da ‘esquerda
marxista e trotskista’ já se deram conta das incongruências entre o falar e o
fazer? Não será que acirram os ânimos fora de portas, mas narcotizam os seus –
na construção da vontade coletiva – na hora da efetiva dignificação? Não haverá
uma corrente de comunicação social – televisiva, em redes sociais e de imprensa
– que se tem tornado lóbi de interesses não-brancos, quando têm de relatar
questões étnicas e raciais?
Há
muitos ‘candés’, ‘floyds’ ou ‘giovanis’ que não são de tez negra e que sofrem
de racismo em silêncio, múltiplos lugares onde vivem, trabalham ou se divertem
Tantos/as de quem ninguém fala e que serão mera nota de rodapé nas notícias, sem
espaço nas investigações e sem direito a manifestação…
Desgraçado
mundo onde uns tantos se consideram superiores em razão da cor da pele, seja lá
qual for a mais relevante ou reinante. Haja vergonha por todos os racismos do
passado, do presente e no futuro!
O resultado
do BB2020 não pareceu ser uma demonstração do ‘lóbi blake’ e dos seus
tentáculos?
Ainda
não nos percebemos do racismo invertido em que andamos todos envolvidos?
António Sílvio Couto
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