Agora
que andamos todos mascarados, há algo que nos deve fazer refletir, numa espécie
de quase reformulação da nossa identidade. Efetivamente foram-nos reduzindo a
visualização do rosto, ficando somente os olhos a ver e a verem-se. Esta
importante mutação merecer que lhe dediquemos tempo e mais atenção, não nos
quedando pela vulgaridade nem entrando em conjeturas.
‘Só com
os olhos à vista’ manifesta algo mais que uma mera exceção, mas é, agora,
revelador daquilo que somos e de quanto os outros podem perceber. Com efeito,
pelos olhos podemos (ou não) entender com quem nos cruzamos ou até passarmos
desapercebidos voluntária ou inconscientemente…
Entretanto,
surgiu um slogan da AIIC, dizendo: ‘não deixe que lhe tapem os olhos – os
jornais não transmitem o vírus; os jornais combatem o vírus da desinformação’.
Esta iniciativa pretende cativar para a causa da imprensa regional os
responsáveis estatais e quantos podem viabilizar muitos dos órgãos de
informação de âmbito não-nacional comercial…
= Há
toda uma aprendizagem que precisamos de fazer neste contexto de aferição ao
regime de pandemia em que nos encontramos. Passado que foi o tempo de susto
mais acentuado, parecia que tínhamos debelado o fenómeno aterrador de âmbito mundial.
Recolhidos em casa, na rua ou com maior atenção já vivemos vários ‘estados/estádios’:
emergência, calamidade, contingência e alerta… dada a gravidade, contágio,
difusão ou mesmo riscos do ‘coronavírus covid-19’. Por entre altos e quedas
temos vivido numa espécie de condicionamento permanente da nossa vida pessoal,
familiar e social.
Desde a
primeira hora a máscara passou a ser uma peça da nossa indumentária de sair à
rua. Mais do que a chave de casa ou do carro, a máscara torna-se adereço
fundamental para estarmos em contato com os outros, particularmente com quem
não conhecemos. Foi-se criando, na maior parte dos casos, uma cortina de
suspeita sobre a pessoa com quem nos cruzamos ou com que falamos, de forma
necessária ou recorrente. Em muitos casos perdeu-se a perceção sobre as reações
faciais dos nossos interlocutores e quedamo-nos pelo pouco que nos podem dizer
os olhos. Estamos mesmo numa fase delicada da nossa história coletiva, talvez
gerando mais a desconfiança do que a empatia, provocando mais o medo do que a
sinceridade, gerindo mais o que devemos do que aquilo que podemos…
=
Ousamos, por isso, sugerir breves atitudes de comportamento – ético, moral,
social, conjuntural ou mais difuso – daquilo que é nos tem sido dado ver,
entender ou mesmo questionar:
- Haja
coragem, por parte de quem nos governa, de dizer ‘olhos-nos-olhos’ que o país
está falido, o desemprego é dez mais do que aquilo que se divulga e que teremos
de fazer sacrifícios a sério e a muito curto prazo.
- Haja
lealdade entre todos para que não nos entretenhamos a tentar enganar os demais com
subterfúgios saloios, quando o que precisamos é de verdade e de assunção dos
erros por parte de todos.
- Agora
que já está anunciado um novo ‘estado de contingência’, a partir de 15 de setembro,
em todo o território nacional, não é tempo de explicar com clareza máxima o que
fundamenta esta decisão no seu mínimo?
- A
quem interessa a dança de números de infetados ou de falecidos entre Lisboa e
Vale do Tejo e o Norte do país? Isto será sério ou tenta esconder algo mais do
que bairrismos bacocos e inúteis?
- A
retoma das reuniões – já no dia 7, data posterior ao evento dos comunistas – no
organismo oficial do medicamento, não deveria avivar os tímpanos dos
jornaleiros de serviço ao reino do faz-de-conta? A quem interessa não
questionar? Este palco não será usado para outras façanhas e voos?
=
Deixemos que os nossos olhos vejam a realidade com realismo, sem filtros e
acomodações e que saibamos avaliar tudo, retendo o que é bom e corrigindo o que
possa ser maléfico!
António
Sílvio Couto
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