Foi
desta forma um tanto ríspida e jocosa que um dirigente sindical, ligado ao
setor do turismo, reagiu à pretensão do governo em transferir os desempregados
daquela área profissional para o setor social, com incidência na resposta social
de ‘erpi’ – estrutura residencial para idosos – vulgo ‘lares’.
De
facto, só alguém muito desatento ou fora da realidade deste tempo poderá
confundir e/ou querer substituir umas pessoas por outras, isto é, deixar de
servir às mesas de cafés e restaurantes por mudar fraldas e atender às
necessidades (higiénicas e de saúde) dos mais idosos! Como será, colocar as
pessoas nas camas e em cadeirões geriátricos tem a mesma técnica de aprontar
mesas, mudar talheres e fazer contas ao final do serviço?
É
notório que os serviços de emprego (IEFP) não conseguem encontrar candidatos
para colocar nos serviços de lares e de centros-de-dia, quando solicitam tais
aconselhamentos e mesmo o preenchimento de lugares. Há meses que essa
necessidade continua. Será agora, por uma espécie de golpe de sorte, que
surgirão não só candidatos, mas pessoas preparadas correta e convenientemente?
Isto não passa mesmo de uma anedota, que, por ser triste, faz chorar e não rir!
Esta
pretensão do governo em iludir o povo quase-pacóvio só pode emergir de alguém
que, no gabinete sem conhecimento da realidade, deseja mostrar serviço sem as
mínimas condições de exequibilidade. Efetivamente quem vai pagar esses ‘novos
empregados’? As instituições estão, na sua maioria, pelo limite financeiro e, agora,
atiram-lhes novos encargos sem terem feito, devidamente, as contas? Mesmo que
facultem a cada um dos ‘reconvertidos profissionais’, o equivalente ao
‘ordenado mínimo’ (635 euros), haverá quem queira ir trabalhar, se, no
‘fundo-de-desemprego’, aufere quase o mesmo e não tem de sair de casa?
= Mais
uma vez o setor social está numa espécie de leilão, só porque emergiram tantos
e tão variados problemas que as soluções são algo confusas e
quase-contraditórias. Os velhos não dão votos, mas podem criar problemas.
Muitos deles nem têm opinião política, mas podem colocar empecilhos na
engrenagem da ‘política de sucesso’ com que nos andaram a ludibriar nos tempos
mais recentes. Ninguém quer assumir que estamos mal e que vamos piorar mais
rapidamente do que era desejável.
A quem
queira dizer a verdade – escassos políticos e ínfimos jornalistas – ser-lhe-á
dado o epíteto de ‘populista’, só porque não deseja ser popular a qualquer
preço. Enquanto os ditos defensores do povo e dos trabalhadores – com ou sem
política nacionalista – trocarem os postos de relevo pela não-verdade ou pela
mentira quanto baste (q.b.), andaremos em manifestações pelo mais, quando não
conseguiremos atingir o mínimo.
Agora
que andamos todos mascarados, haja coragem de dizer ‘olhos-nos-olhos’ – esse
pouco que ainda se vê no nosso rosto e no dos outros – que o país está falido,
o desemprego é dez mais do que aquilo que se divulga e que teremos de fazer
sacrifícios a sério a muito curto prazo.
E não
venham com cantilenas baratas que a culpa é da Europa, pois se não fosse essa
UE onde nos encontramos há quase quatro décadas, estaríamos ainda pior. Ou só
interessa estar lá, quando se colhem favores e benesses? Que os milhões
prometidos cheguem a todos e não sempre aos mesmos, isto é, aos que deambulam
pelos ‘passos perdidos’ e afins. Ou teremos de concluir: só mudam as moscas… se
é que chegam a mudar!
=
Números a reter para reflexão:
407.032
desempregados no final de julho de 2020; casais no desemprego – 22% na mesma
data.
6,9
milhões de doses da vacinas ‘covid-19’ para Portugal, com o custo de 20 milhões
de euros;
26
milhões de euros para criar infraestruturas nos cuidados intensivos;
António Sílvio Couto
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