O ensejo
de endereçar esta missiva foi sendo amadurecido ao longo destes meses de
pandemia, pois, desde a primeira hora, este setor esteve/está em alto risco.
Os
‘responsáveis’ aqui englobados são de diferente índole desde a base até ao topo
– estruturas residenciais para idosos, desde funcionários até às chefias e
dirigentes das instituições/casas até à organização da tutela, neste momento
sob a alçada do ‘trabalho e segurança social’, passando pelas organizações de
associados e linhas intermédias de negociação com as entidades governamentais…
Nesta
despretensiosa missiva organizaremos as ideias de forma descendente, isto é,
das cúpulas – que parece só agora se aperceberam que têm vários problemas a
resolver com um setor significativo da sociedade portuguesa – até às famílias, muitas
delas descartando os velhos, que deviam mais proximamente cuidar.
= Aos senhores/senhoras da
segurança social (desde o ministério até à imensa burocracia mais básica)
A vossa
tarefa é importante e essencial para que os milhares de anciãos e anciãs –
muitos velhos e velhas com idades superiores a oitenta e mesmo a noventa anos –
continuem a ter uma vida digna e uma velhice menos atrapalhada pelos achaques,
doenças e medos. Das vossas decisões com os parcos 400 euros de subvenção
estatal por cada um deles se podem inferir as condições de manutenção nos
espaços que os acolhem. Segundo o cálculo do custo médio por utente – a palavra
‘cliente’ parece reduzir os velhos a produtos de compra-e-venda – que anda
pelos mil e cem euros, essa ajuda – de cerca de treze euros/dia – está muito aquém
dos quase de cinquenta euros/dia de cada recluso. Isto não nos deveria
envergonhar: a quem trabalhou toda a vida dão umas migalhas, enquanto com os
delinquentes ‘gastam’ quatro vezes mais?
Muito
mais do que coisas económico-financeiras, gostaríamos de abordar problemas
psicológico-emocionais que envolvem os mais velhos, que estão sob a vossa
tutela: deram-lhes confiança em todo este processo de pandemia? Mais do que
fiscalizações quase pidescas, conseguiram que os velhos sentissem que estavam a
salvo das consequências que iam vendo naqueles que morriam? Mesmo que não seja
um setor que dê votos a curto prazo, porque foram atirados para fora da leitura
dos relatórios, das inquietações e das respostas necessárias…no devido tempo?
= Aos negociadores entre o setor
estatal e as associações de trabalho no terreno
Dá a
impressão que hibernaram em tempo de primavera-verão. À exceção da catadupa de
documentos que iam saindo das instâncias estatais, pouco vimos de proximidade
nem sequer, claramente, na atrapalhação do recurso ao lay-off simplificado. Os
dirigentes intermédios desapareceram…quais surfistas em maré de treino.
Agora
desfiam as listas de ‘lares’ mais ou menos em conexão com o razoável, mas antes
pouco ou nada se soube da sua intervenção. Aqui, como noutros campos, custa
pouco fazer diagnósticos ao jogo, quando ele já terminou! A batalha está, como
se percebe, num dos intervalos!
Quem
está no terreno merecia mais atenção por parte das autarquias, das
confederações da área e até dos ‘entendidos’ da matéria, ao menos assim
apelidados aquando da nomeação…sobretudo na diocese onde estou e vivo!
= Aos agentes na prática (responsáveis,
funcionárias, familiares…população em geral)
Têm sido
meses de profunda incerteza, mas, com o empenho de todos, se tem conseguido
quase fazer ‘milagres’. Tem havido um trabalho exaustivo e de uma seriedade
incrível. Aqui se tem notado que as pessoas – especialmente os mais velhos –
são o mais importante. Por eles se tem feito tudo, sem qualquer regateio por
parte de ninguém…
O
condicionamento das visitas tem sido rigoroso. A compreensão tem ajudado a
suplantar etapas algo controversas, mas necessárias.
Porque
não sabemos o que o futuro nos reserva, confiamos ainda mais a Deus aquilo que
virá…
António Sílvio Couto
(presidente por inerência de uma IPSS, que tem um
lar com 50 utentes e quase três dezenas de funcionárias…onde ainda não houve,
até agora, problemas nesta matéria)
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