Por estes dias seremos confrontados
com gestos e atitudes, comportamentos e vivências – pessoais ou
coletivas/sociais – de alguma festa, em razão da ‘passagem d’ano’.
Ingredientes como música e cor
(foguetes ou luzes), comida e bebida (muita e em excesso), gastos e
deambulações poderão ser encontrados por estes dias, dando expressão ao final
de um ano e abrindo-se às expetativas de um novo.
Parece haver programas para todos
os gostos, gastos e pretensões, desde os privados até aos mais públicos,
seguindo uma certa moda de obrigar a participar na ‘festa’ quem nem dela
precisa ou queira apreciar. Por esta ocasião não é fácil fazer um resumo das
propostas, pois muitas delas são muito simples na linha da mera
confraternização e podem atingir preços escandalosos, sobretudo se tivermos em
conta os ganhos médios da maior parte dos nossos concidadãos.
É significativamente simbólico
que uma boa parte das autarquias – particularmente as situadas na franja
litoral – organize espaços públicos de diversão…cada um segundo as suas
possibilidades, mas também as afinidades até mesmo político-partidárias…até
porque os artistas precisam de sobreviver e o público aderente aos festejos vai
sendo ‘educado’ à luz das modas de intervenção.
= Numa nota de mínima observação:
é muito pouco comum que as Igrejas/paróquias façam sugestões de ‘passagem
d’ano’, tendo em conta os critérios, os valores e as movimentações dos seus
clientes… frequentadores. As propostas de índole religiosa surgem como que em
notas de rodapé numa cultura que se pretende (ou diz) de bases cristãs. À
exceção de alguns locais de maior procura – santuários e igrejas em centros de
cidades – é pouco habitual vermos propostas de celebração católica noutros
espaços. Bastaria comparar a sugestão da ‘missa do galo’ (celebrada pela noite
da véspera de Natal) para ficarmos a perceber que quase nada é
proposto…deixando, deste modo de proposição, campo aberto para nada ou para
outros recursos nem sempre ortodoxos. Se o dizemos de quem organiza, o mesmo
poderemos referir a quem se disponha a participar: dá a impressão que a festa
não se reveste de fé nem de partilha da mesma…
= Na subtileza dos ritos podemos
encontrar no que se atenta à ‘passagem d’ano’ um cardápio de menus à medida de cada
um, seja por ritual, seja até por superstição…desde deem sorte. Vejamos algumas
dessas ‘tradições’: comer doze passas, pedindo doze desejos, um por cada mês do
ano seguinte; subir a uma cadeira com dinheiro na mão; fazer barulho e brindar
com champanhe; usar roupa de uma determinada cor…atribuindo-lhe um certo
significado; atirar peças de louça velha pela janela ou bater com tampas de
panelas; o fogo-de-artifício…subentendendo uma espécie de exorcismo dos
espíritos maus…
Em muitas destas ‘tradições’ podemos
ver elementos comuns, tanto nos países onde se verificam, como na possível
mentalidade que lhe está adstrita: o fogo como algo de culto em ordem a
libertar-se do mal e a acolher o que se deseja de bem no ano que começa; o
romper com o passado, por vezes visto mais nas vertentes negativas; a inclusão
de elementos que soltam a alegria ou promovem a convivialidade, como o álcool e
os auspícios desejados uns aos outros…sem esquecer a ambição do dinheiro!
Mas onde está a atitude de ação
de graças pelo tempo já vivido e em abertura ao que há de vir como confiança em
Deus, providente e não meramente previdente? A vida não será mais do que a
trilogia: ‘saúde-dinheiro-amor’? A pretensão de sucesso respeitará o contributo
dos outros?
Se alguém me vir a festejar a
‘passagem d’ano’ perceberá que eu sou cristão? Ou não terei mais arremedos de
paganismo em muito do meu comportamento?
Um bom ano de paz e bênção!
António Sílvio Couto
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