Estas
três palavras de idiomas diferentes – ‘parfois’ (por vezes, às vezes) do
francês, ‘again’ (outra vez, novamente) do inglês e ‘todavía’ (ainda) do
castelhano – podem servir-nos para lançarmos alguns olhares sobre coisas e
loisas do nosso tempo.
* Às
vezes (‘parfois’) vemos situações pouco fáceis de entender, tal é a
complexidade dos factos e mesmo a desenvoltura dos meandros… Vejamos casos
concretos, mas que podiam ser tantos outros… A iniciativa com cerca de trinta
anos (1991) que é ‘banco alimentar contra a fome’. Nela por vezes podemos ver a
solidariedade dos portugueses para com 2.300 instituições de assistência, que
envolve quase quatrocentas mil pessoas ajudadas. Mas não será uma espécie de
‘profissionalização’ de tantos pobres que dele se socorrem habitualmente?
Muitas dessas instituições não se manterão como correias de comunicação de
ações de resignação, quando deveriam ser mais ousadas do que retardadoras da
saída do estado de pobreza? O sucesso das campanhas não será narcótico para um
nível de acomodação mesmo dos poderes políticos e sociais? A ação de
voluntariado não poderá correr o risco de se tornar mais uma passerelle de
vaidades e não de contributo com desprendimento pelos outros?
* Novamente/outra vez
(‘again’) poderemos ler tantas das ajudas natalícias mais como contributos de
alienação do que como vivências de partilha…para com os (ditos/conotados)
desfavorecidos. Dá a impressão que os ‘pobres’ só comem pelo natal ou só
precisam de ajuda quando a maioria vive nos excessos…
De
igual forma temos de estar atentos à crescente correria com que se caminha no
convite ao despesismo pessoal, familiar e coletivo… Apesar de termos ainda na
memória a ‘crise do subprime’ de 2008 – foi há pouco mais de dez anos – vemos estarem
a ser criadas as condições para voltarmos outra vez à casa de partida desse
jogo que tanto custou a ganhar, mas que alguns querem fazer-nos reviver. A
diletância de uns tantos vai custar a todos. O pior é serem quase-sempre os
mesmos a serem os causadores e a entregarem outra vez aos mesmos a tarefa de
recuperação! Não aprendemos nada com a história…
* Ainda (‘todavía’)
precisamos de mais avisos para não continuarmos a persistir nos riscos? De
facto, os atos folclóricos a propósito das alterações climáticas trouxeram à
luz do dia certas figuras de outras batalhas, quase sempre, comandadas por uma
certa esquerda – caviar ou presunçosa – para quem pensar de forma diferentes
deles é ser aquilo que dizem combater. Ainda estão na fase infantil das suas
certezas, apelidando os outros com rótulos que lhes assentariam com profícua eficiência
e igual rigor.
Não
deixa de ser irónico que se combata contra as alterações climáticas, mas se
assoem com lenços de papel em vez de lenços laváveis e reutilizáveis ou que
cuidem dos filhos – se os têm – substituindo-lhes as fraldas descartáveis…
Ainda nos falta um razoável percurso para sermos, no mínimo, coerentes e
respeitadores dos outros e não só afáveis para com os da nossa cor clubística
ou ideológica!
= Numa
época de convite à simplicidade de vida, que é a tonalidade do Natal, deixamos
excertos da recente carta apostólica do Papa Francisco, ‘O sinal admirável’: «Nos nossos Presépios, costumamos colocar muitas figuras simbólicas. Em
primeiro lugar, as de mendigos e pessoas que não conhecem outra abundância a
não ser a do coração... Os pobres são os privilegiados deste mistério e, muitas
vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de
nós...Muitas vezes, as crianças (mas os adultos também!) gostam de acrescentar,
no Presépio, outras figuras que parecem não ter qualquer relação com as
narrações do Evangelho... Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das
mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam… Por todo o lado
e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que se fez menino
para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da
condição em que este se encontre» (n.os 6 e 10).
António Sílvio Couto
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