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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Haja saúde…saudável



O tema da saúde tem sido um dos mais debatidos e críticos no nosso país, nos tempos mais recentes. O facto levou mesmo o chefe de governo a centrar a sua mensagem de natal sobre o assunto, referindo: ‘sei bem que a Saúde é actualmente uma das principais preocupações dos portugueses e que há vários problemas para resolver no SNS. Compreendo bem a ansiedade daqueles que ainda não têm médico de família, que aguardam numa urgência ou que esperam ser chamados para um exame, uma consulta ou uma cirurgia’.

 

Mas será esta – como dizem alguns comentadores – a nova paixão do atual governo? Os problemas sentidos – desde a falta de profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e tantos outros serviços) até às dívidas verificadas, passando pelas dificuldades de acesso aos cuidados da população – apagam-se com despejar milhões de euros sobre os casos emergentes, sequentes e consequentes? Não teremos andado nestes quarenta anos – é a efeméride que está a decorrer – a proclamar direitos sem percebermos onde e como se pagam os deveres? A luta ideológica – entre a pretensa esquerda e a rotulada direita – neste setor da saúde não é mais um dos bluffs que custa muito caro a todos? Será a saúde uma questão de público ou privado, fazendo da disjuntiva uma batalha sem vencedores? O dito ‘serviço nacional de saúde’ não passará de um idealismo com pés de barro e sem capacidade de ser justo, seguro e universal? Embora se diga democrático, porque será que raramente vemos os políticos profissionais, serem atendidos no setor público, antes os vemos em hospitais e clínicas privadas? Será mais uma das vertentes em que se conjuga o trocadilho: olhem para o que eu digo e não para aquilo que eu faço?

Recorrendo à expressão da opinião dos votantes – vulgo sondagem – surgem como responsáveis da crise prolongada na saúde duas figuras do governo: o chefe principal e a titular do setor, sendo-o para mais de metade dos inquiridos, atirando a culpa para o gestor das finanças um reduzido número dos auscultados. 

= À volta da saúde decorre uma infinidade de assuntos: uns mais fáceis e compreensíveis e outros mais complexos e um tanto nebulosos; muitos são visíveis e captáveis e tantos outros quase exotéricos e percetíveis só por iniciados na arte da manha. Falar de milhões – em dívidas ou em necessidades, em projetos ou em recursos malparados – de euros no setor da saúde parece quase sempre uma referência a uns trocos ou revestem a tonalidade de gorjeta em maré de mais desafogo financeiro.

Seja quem for o titular da pasta da saúde dá a impressão de fazer lembrar o ‘adamastor’ camoniano, perfazendo o papel de figura tenebrosa, de sombra arrepiante ou de mal-amado/a de quantos se tornam seu interlocutor. No caso atual a pessoa que tem a responsabilidade da pasta faz jus ao apelido – ‘temido’ – tornando ainda mais atroz a sua função nas relações com os subsetores em presença. 

= Atendendo à complexidade do tema talvez se deva discutir menos apaixonadamente tudo quanto se refere à saúde, pois as questões não se resolvem colocando tudo sob a alçada estatal nem se pode entregar aos privados a gestão da saúde das pessoas, tanto das que têm recursos económicos como daquelas que não os possuem. Será pela interdependência e colaboração entre todos que cuidaremos da saúde da doença, tornando-a mais saudável e menos infetocontagiosa como temos verificado nos tempos mais recentes.

Cada um tem direito a poder escolher como pode ser assistido na sua saúde, podendo recorrer aos privados, mas continuando a colaborar com o SNS. Este precisa de ser mais ilustrado e complementado com os recursos necessários para atender a todos os que dele se aproximarem. Não podemos é continuar a fintar o SNS quando convém e a ter de pagar seguros e outras alcavalas quando se quer ser atendido com mais celeridade ou talvez eficiência.

Utentes e profissionais da saúde precisam de ter confiança uns nos outros, criando uma melhor visão mútua, pois os segundos também são clientes em maré de menos boa ou má saúde. Se há condição que a todos une é a da potencial doença, tornando-nos todos iguais, por isso, precisamos de ser mais humanos uns para com os outros, tanto pela compreensão como pelo cuidado em situação de fragilização. A saúde não pode ser um negócio para ninguém e tão-pouco arma de arremesso eleitoralista agora como no futuro…     

   

António Sílvio Couto

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