O tema
da saúde tem sido um dos mais debatidos e críticos no nosso país, nos tempos
mais recentes. O facto levou mesmo o chefe de governo a centrar a sua mensagem
de natal sobre o assunto, referindo: ‘sei bem que a Saúde é actualmente uma das principais
preocupações dos portugueses e que há vários problemas para resolver no SNS.
Compreendo bem a ansiedade daqueles que ainda não têm médico de família, que
aguardam numa urgência ou que esperam ser chamados para um exame, uma consulta
ou uma cirurgia’.
Mas
será esta – como dizem alguns comentadores – a nova paixão do atual governo? Os
problemas sentidos – desde a falta de profissionais (médicos, enfermeiros,
técnicos de diagnóstico e tantos outros serviços) até às dívidas verificadas,
passando pelas dificuldades de acesso aos cuidados da população – apagam-se com
despejar milhões de euros sobre os casos emergentes, sequentes e consequentes?
Não teremos andado nestes quarenta anos – é a efeméride que está a decorrer – a
proclamar direitos sem percebermos onde e como se pagam os deveres? A luta
ideológica – entre a pretensa esquerda e a rotulada direita – neste setor da
saúde não é mais um dos bluffs que custa muito caro a todos? Será a saúde uma
questão de público ou privado, fazendo da disjuntiva uma batalha sem
vencedores? O dito ‘serviço nacional de saúde’ não passará de um idealismo com
pés de barro e sem capacidade de ser justo, seguro e universal? Embora se diga
democrático, porque será que raramente vemos os políticos profissionais, serem
atendidos no setor público, antes os vemos em hospitais e clínicas privadas?
Será mais uma das vertentes em que se conjuga o trocadilho: olhem para o que eu
digo e não para aquilo que eu faço?
Recorrendo
à expressão da opinião dos votantes – vulgo sondagem – surgem como responsáveis
da crise prolongada na saúde duas figuras do governo: o chefe principal e a
titular do setor, sendo-o para mais de metade dos inquiridos, atirando a culpa
para o gestor das finanças um reduzido número dos auscultados.
= À volta
da saúde decorre uma infinidade de assuntos: uns mais fáceis e compreensíveis e
outros mais complexos e um tanto nebulosos; muitos são visíveis e captáveis e
tantos outros quase exotéricos e percetíveis só por iniciados na arte da manha.
Falar de milhões – em dívidas ou em necessidades, em projetos ou em recursos
malparados – de euros no setor da saúde parece quase sempre uma referência a
uns trocos ou revestem a tonalidade de gorjeta em maré de mais desafogo
financeiro.
Seja
quem for o titular da pasta da saúde dá a impressão de fazer lembrar o
‘adamastor’ camoniano, perfazendo o papel de figura tenebrosa, de sombra
arrepiante ou de mal-amado/a de quantos se tornam seu interlocutor. No caso
atual a pessoa que tem a responsabilidade da pasta faz jus ao apelido –
‘temido’ – tornando ainda mais atroz a sua função nas relações com os
subsetores em presença.
=
Atendendo à complexidade do tema talvez se deva discutir menos apaixonadamente
tudo quanto se refere à saúde, pois as questões não se resolvem colocando tudo
sob a alçada estatal nem se pode entregar aos privados a gestão da saúde das
pessoas, tanto das que têm recursos económicos como daquelas que não os
possuem. Será pela interdependência e colaboração entre todos que cuidaremos da
saúde da doença, tornando-a mais saudável e menos infetocontagiosa como temos
verificado nos tempos mais recentes.
Cada um
tem direito a poder escolher como pode ser assistido na sua saúde, podendo
recorrer aos privados, mas continuando a colaborar com o SNS. Este precisa de
ser mais ilustrado e complementado com os recursos necessários para atender a
todos os que dele se aproximarem. Não podemos é continuar a fintar o SNS quando
convém e a ter de pagar seguros e outras alcavalas quando se quer ser atendido
com mais celeridade ou talvez eficiência.
Utentes
e profissionais da saúde precisam de ter confiança uns nos outros, criando uma
melhor visão mútua, pois os segundos também são clientes em maré de menos boa
ou má saúde. Se há condição que a todos une é a da potencial doença,
tornando-nos todos iguais, por isso, precisamos de ser mais humanos uns para
com os outros, tanto pela compreensão como pelo cuidado em situação de
fragilização. A saúde não pode ser um negócio para ninguém e tão-pouco arma de
arremesso eleitoralista agora como no futuro…
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário