«Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de
respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais –
considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito
pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos de uma
conversão ecológica».
Como
tema do 53.º dia mundial da paz, o Papa propõe-nos – ‘a paz como caminho de
esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica’.
Em que
consiste, então, esta conversão ecológica de que nos fala o Papa na sua
mensagem?
«A conversão ecológica a que apelamos leva-nos a uma nova perspetiva sobre a
vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à
jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira
integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs
e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade,
com o Criador que é origem de toda a vida».
Diante
destes desafios da mensagem papal temos de encontrar as respostas na nossa vida
pessoal e comunitária. Com efeito, nesta etapa que poderemos considerar
‘pós-nova era’ vão surgindo correntes de pensamento e indícios culturais que
‘endeusam’ a natureza, fazendo com que esta possa ser algo sem ligação ao
Criador e com isso se vá tentando contestar o primeiro artigo do Credo: ‘creio
em Deus Pai criador do céu e da terra’. De facto, certas querelas ecologistas
parecem confundir propositadamente as causas e as consequências das (ditas)
alterações climáticas, como se estas fossem (ou sejam) os novos anátemas dos
paladinos da defesa da natureza…
Vejamos
agora breves excertos da mensagem do Papa Francisco para o dia mundial da
paz:
* A paz, caminho de esperança
A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a
humanidade (...) Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa
pelo facto de não se suportar a diversidade do outro, o que fomenta o desejo de
posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e
do orgulho, do ódio que leva a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a
excluí-lo (...) Todas as situações de
ameaça alimentam a desconfiança e o fechamento. Desconfiança e medo aumentam a
fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca
poderá levar a uma relação de paz (...)
Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a
lógica doentia da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança
atualmente prevalecente?
* A paz, caminho de escuta…memória,
solidariedade e fraternidade
A memória é o horizonte da esperança (...) Abrir
e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em
jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e
contraditórios (...) a paz provém do mais fundo do coração humano (...) O mundo não precisa de palavras vazias, mas
de testemunhas convictas, de artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões
nem manipulações (...) Com a escuta
mútua podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de
reconhecer no inimigo o rosto de um irmão.
* A paz, caminho de reconciliação
na comunhão fraterna
O outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas
deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo. Só escolhendo a senda
do respeito é que será possível quebrar a espiral da vingança e empreender o
caminho da esperança (...) Aprender a viver no perdão
aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz. (...) nunca haverá paz verdadeira, se não formos
capazes de construir um sistema económico mais justo (...) O caminho da reconciliação requer paciência
e confiança (...) A cultura do
encontro entre irmãos e irmãs quebra a cultura da ameaça.
= Estaremos disponíveis para
construirmos, em 2020, a paz verdadeira com estes desafios do Papa?
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário